Agência France-Presse
postado em 22/08/2013 18:04
As operações científicas do ALMA, o maior radiotelescópio do mundo, situado no norte do Chile, estão paralisadas por causa do início, nesta quinta-feira (22/8), de uma greve por tempo indefinido de trabalhadores locais, que exigem melhores salários."Está tudo parado. Desde ontem à noite as observações foram detidas, nenhum tipo de dados sai e as antenas não estão se movendo", disse à AFP Danilo Castillo, dirigente do Sindicato do ALMA. "O maior prejuízo é que a comunidade científica internacional não podem receber nenhum tipo de dados", acrescentou Castillo.
Em um comunicado, a administração do ALMA explicou que preparou um plano de contingência para operar "de forma básica" com a finalidade de manter ligadas as 66 antenas que fazem parte do radiotelescópio, situado a mais de 5.000 metros de altura, em pleno deserto do Atacama (1.600 km ao norte de Santiago).
A greve começou de madrugada, a menos de cinco meses da inauguração do observatório, uma associação entre Europa, América do Norte e Extremo Oriente, em cooperação com o governo do Chile.
A construção e operação do ALMA são realizadas em nome da Europa pelo Observatório Europeu Austral (ESO), em nome da América do Norte pelo Observatório Radio-astronômico Nacional (NRAO), operado por Associated Universities Inc. (AUI), e em nome do Extremo Oriente pelo Observatório Astronômico Nacional do Japão.
São 195 trabalhadores - em sua maioria chilenos - contratados pela corporação AUI os que iniciaram a grave. Outros 75 trabalhadores, contratados pelas outras organizações, têm melhores condições de trabalho.
"Queremos melhorias em nossas remunerações e melhorias em nossa qualidade de vida de trabalho", disse Castillo, que liderava um grupo de trabalhadores que protestava no entorno dos escritórios de Santiago do ALMA.
Em um dos cartazes, os trabalhadores exigiam "salários à altura" de se trabalhar a mais de 5.000 metros de altitude.
O sindicato exige um aumento salarial de 15% e melhorar as condições de trabalho, o que foi rejeitado inicialmente pela AUI.
"Nós tínhamos pedido 15%, mas estamos abertos a uma negociação. A intransigência é da empresa que nega o aumento", explicou Castillo.
Antes de iniciar a greve, a Direção do Trabalho do Chile tentou, sem sucesso, mediar o conflito.
-- Trabalho em condições extremas --
Os operários se queixam também das duras condições de seu local de trabalho.
As 66 antenas, de 7 a 12 metros de diâmetro, ficam a mais de 5.000 metros de altitude, em pleno Deserto do Atacama, o mais árido do mundo.
O local é o mais alto onde se instala um observatório e foi escolhido precisamente pela quase falta de umidade.
A 3.200 metros se situa o acampamento base, onde se concentra a maioria das operações e se encontra a residência dos trabalhadores, um ginásio e depósitos.
"São condições extremas e complicadas. Dá dores de cabeça, muita sede, caminha devagar, não é agradável", declarou à AFP Ximena Acuña, assistente de engenharia no acampamento do ALMA.
"A 5.000 (metros de altitude) suportamos sensações térmicas de -20 graus (Celsius) e fortes ventos", disse, por sua vez, Pedro Campana, especialista no controle das antenas.
Campana explicou que eles trabalham 12 horas por dia, o máximo que permite a lei chilena, e depois descansam seis, um sistema de trabalho que esgota os funcionários devido às mudanças constantes de altitude que seus corpos precisam suportar.
"Nós estamos subindo e descendo durante a semana e nesse tempo a tua fisiologia está se readaptando às diferentes condições de seca, que além do mais causa problemas para dormir", explicou Campana.