Agência France-Presse
postado em 24/08/2013 12:31
Damasco - O regime sírio e os rebeldes se acusam mutuamente de ter utilizado armas químicas no ataque de quarta-feira nos subúrbios de Damasco, enquanto aumenta a pressão dos Estados Unidos, que mobilizará forças militares, e da ONU, cuja enviada chegou ao país para investigar os fatos.A alta representante da ONU para o desarmamento, Angela Kane, chegou ao meio-dia a Damasco, onde o regime sírio acusou, pela primeira vez, aos rebeldes de ter utilizado armas químicas no ataque de quarta-feira.
O porta-voz das Nações Unidas em Damasco, Khaled al Masri, e Kane não comentaram os detalhes da visita à capital síria para negociar os termos de uma investigação sobre as acusações de uso de armas químicas nos subúrbios de Damasco.
Na quarta-feira, foi lançada uma ofensiva em Ghuta oriental e em Muadamiyat al Sham, áreas no poder dos rebeldes na periferia de Damasco. A oposição afirma que o ataque provocou 1.300 mortes e acusou o regime de tê-lo cometido com gases tóxicos.
O regime, por sua vez, acusou os rebeldes, neste sábado, de ter utilizado armas químicas.
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"Uma unidade do exército cerca um setor de Khobar onde os terroristas utilizaram armas químicas", afirmou a televisão pública, que mostrou vários casos de "asfixia" entre os soldados que entraram em Khobar, um bairro periférico de Damasco.
O Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), ong que se baseia em uma ampla rede de ativistas e médicos, contabilizou 170 mortos na área dos ataques de quarta-feira, apesar de não confirmar o uso de armas químicas.
O mandato da missão de especialistas da ONU, dirigida por Aake Sellstr;m, que chegou a Damasco dia 18 de agosto, se limita a investigações sobre a utilização ou não de armas químicas este ano em Jan al Asal (norte), Ataybe (próximo de Damasco) e Homs (centro).
Contudo, depois dos últimos acontecimentos, a comunidade internacional pediu que esses especialistas possam ir o quanto antes ao local do ataque para verificar as acusações.
Mobilização de meios militares norte-americanos
O presidente norte-americano, Barack Obama, que, na sexta-feira considerou "muito preocupante" a possibilidade de que o regime sírio tenha bombardeado uma área rebelde com armas químicas, analisava este sábado, com seus conselheiros, a eventual resposta de seu governo, informou um funcionário da Casa Branca.
Obama ordenou seus serviços de inteligência a "coletar fatos e provas para determinar o que aconteceu na Síria" para tomar uma decisão, explicou.
Washington anunciou pouco antes a mobilização de forças militares que permitam proporcionar opções a Obama caso o presidente ordene uma intervenção na Síria, mergulhada em um conflito que, desde março de 2011, deixou mais de 100.000 mortos, 7.000 deles crianças, e obrigou milhões de pessoas a fugir, segundo a ONU.
O ministro de Defesa norte-americano, Chuck Hagel, destacou que este fato não significa que tomou uma decisão de intervir na Síria. De fato, o país não quis tirar conclusões precipitadas.
Um responsável pela defesa em Washington informou de que esses meios militares incluem o envio ao Mediterrâneo de um quarto destróier equipado com mísseis de cruzeiro.
Segundo a edição deste sábado The New York Times, citando um funcionário de Estados Unidos, as autoridades norte-americanas poderiam tomar como exemplo os bombardeios da Otan na guerra de Kosovo em 1999 para realizar uma ação similar contra a Síria sem um mandato da ONU.
O ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, afirmou que todas as informações apontam para "que houve um massacre químico próximo de Damasco e indicam que o regime de Bashar al-Assad o originou".
A Grã-Bretanha afirmou na sexta-feira que acredita que o regime sírio é responsável pelo "ataque químico".
Os chefes de Estado Maior de vários países ocidentais e muçulmanos, entre eles os dos Estados Unidos e Arábia Saudita, se reunirão em breve na Jordânia para examinar as consequências do conflito na Síria, anunciou na sexta-feira à noite uma autoridade da Jordânia.
O porta-voz da diplomacia iraniana, Abas Araghchi, por outro lado, destacou que "não há nenhuma autorização internacional para uma intervenção militar na Síria" e alertou que as consequências de "qualquer ação ou declaração que não faria mais que gerar mais tensões na região". Além disso, o Irã, principal aliado regional da Síria, afirmou que existem provas de que os rebeldes usaram armas químicas.
A Rússia, também aliada do regime sírio, denunciou que o ataque foi "claramente uma provocação" dos rebeldes e considerou que "os pedidos de algumas capitais europeias (...) a tomar agora mesmo uma decisão sobre o uso da força são inaceitáveis".
Moscou pediu ao regime de Assad que coopere com os especialistas da ONU e reivindicou aos insurgentes que lhes garanta o acesso aos lugares dos ataques.
A coalizão da oposição síria se comprometeu "a garantir a segurança" dos inspetores da ONU.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, alertou na sexta-feira que a utilização de armas químicas constituiria um "crime contra a Humanidade", de "graves consequências para quem o perpetrou".