Agência France-Presse
postado em 28/08/2013 09:56
Damasco - A Grã-Bretanha apresentará nesta quarta-feira (28/8) um projeto de resolução no Conselho de Segurança da ONU que condena o ataque químico de 21 de agosto na Síria e autoriza medidas necessárias para proteger os civis. Ao mesmo tempo, o governo dos Estados Unidos citou a possibilidade de um ataque militar contra a Síria com mais de um dia de duração.O Reino Unido redigiu uma resolução condenando o ataque químico e autorizando medidas necessárias para proteger os civis, segundo informou o primeiro-ministro David Cameron em sua conta no Twitter. "Sempre afirmamos que queríamos que o Conselho de Segurança da ONU estivesse à altura de suas responsabilidades. Hoje, temos a oportunidade de fazer isto", completou.
Mas Rússia e Irã, aliados do governo do presidente sírio Bashar al-Assad, voltaram a advertir contra o risco de uma desestabilização de toda a região no caso de ataque militar contra a Síria, abalada pela violência e guerra civil. Depois do anúncio de Cameron, Moscou advertiu que antes de qualquer discussão e decisão, a ONU deve esperar o relatório dos investigadores que estão na Síria.
Os especialistas da ONU que investigam o eventual uso de armas químicas reiniciaram o trabalho na Síria nesta quarta-feira (28), depois de uma suspensão de 24 horas por problemas de segurança. O enviado especial da Liga Árabe e da ONU, Lakhdar Brahimi, lamentou em Genebra o uso "de uma substância" em 21 de agosto na Síria. "Parece que se usou algum tipo de substância que matou muitas pessoas, sem dúvida mais de 100, alguns falam de 300, alguns falam de 600, talvez 1.000, talvez mais de 1.000", declarou Brahimi em uma entrevista coletiva em Genebra.
Brahimi também advertiu que é necessária uma autorização do Conselho de Segurança da ONU para uma intervenção militar na Síria. "Acredito que a lei internacional é clara sobre isto. A lei internacional diz que é possível realizar uma ação militar depois de uma decisão do Conselho de Segurança", declarou Brahimi.
Cameron informou que o projeto britânico será apresentado durante a reunião dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança prevista para esta quarta-feira em Nova York. "A resolução autorizará todas as medidas necessárias em virtude do capítulo VII da Carta da ONU para proteger os civis das armas químicas na Síria", destacou o gabinete de Cameron.
O capítulo VII está consagrado a qualquer "ação em caso de ameaças à paz, transgressão da paz ou atos de agressão". O primeiro-ministro britânico defendeu na terça-feira uma intervenção militar limitada para "dissuadir o uso de armas químicas". Estados Unidos, França e Grã-Bretanha, convencidos da responsabilidade do regime sírio em um ataque com armas químicas perto de Damasco estavam dispostos a realizar ataques seletivos para enviar uma mensagem ao governo de Bashar al-Assad contra o uso de gases tóxicos, mas sem a intenção de derrubar o presidente sírio.
[SAIBAMAIS]O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu aos membros do Conselho de Segurança que se unam para "atuar pela paz" na Síria. "O Conselho deve unir-se para atuar pela paz", declarou Ban Ki-moon em Haia. "Chegamos ao momento mais grave deste conflito", completou. Cameron e o presidente Barack Obama, que conversaram na terça-feira por telefone, "não têm nenhuma dúvida sobre a responsabilidade do regime de Assad em um ataque químico", destacou Downing Street nesta quarta-feira.
O governo dos Estados Unidos pretende divulgar esta semana parte de um relatório dos serviços de inteligência que aponta a responsabilidade do regime sírio no ataque de 21 de agosto. Segundo a revista Foreign Policy, os serviços de informação americanos ouviram, após o ataque da semana passada, uma conversa de uma autoridade do ministério sírio da Defesa com um diretor da unidade de armas químicas, na qual ele pedia "respostas sobre um ataque com um agente neurotóxico que matou mais de 1.000 pessoas".
A revista destaca que a gravação é o principal argumento do governo americano para para mostrar seu convencimento do uso de armas químicas por parte da Síria. O presidente francês, François Hollande, que receberá na quarta-feira o presidente da Coalizão Nacional Síria (oposição), se mostrou "disposto" a intervir militarmente para "punir" Damasco por usar armas químicas.
O Parlamento francês será convocado para uma sessão extraordinária sobre a Síria, no dia 4 de setembro, anunciou o ministro das Relações com o Parlamento, Alain Vidalies. Ahmad Ramadan, dirigente da coalizão, afirmou que a intervenção é "questão de dias" e que os rebeldes examinam com os países aliados os objetivos que podem ser atacados.
Uma operação que pode durar mais de um dia
Os Estados Unidos descartaram uma ação militar unilateral contra a Síria e estão discutindo com os aliados sobre potenciais ataques punitivos que durariam pelo menos mais de um dia, informou um alto oficial nesta quarta-feira. "Qualquer ação militar não será unilateral. Deverá incluir parceiros internacionais", afirmou a fonte, que pediu para se manter no anonimato.
Os ataques contra a Síria, se ordenados, poderão se estender por mais de um dia, ainda segundo a fonte. "As opções não estão limitadas a apenas um dia. Estamos explorando todas as opções". O primeiro-ministro britânico destacou que o governo do país "ainda não tomou uma decisão sobre a natureza específica da resposta", mas garantiu que será "legal e específica ao ataque com armas químicas", informou Downing Street.
Cameron convocou o Parlamento para quinta-feira com o objetivo de votar "a resposta do Reino Unido ao ataque com armas químicas". Mas Rússia e Irã, aliados do regime de Assad, advertiram para as consequências regionais de uma intervenção. Em uma conversa telefônica com o enviado da Liga Árabe e da ONU Lakhdar Brahimi, o ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, "destacou a falta de alternativa a uma solução político-diplomática e que as tentativas para alcançar uma solução militar levarão apenas a uma desestabilização ainda maior da situação no país e na região".
O guia supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, também alertou que uma intervenção americana seria um "desastre para a região", que segundo ele já é um barril de pólvora. O regime sírio, que nega o uso de armas químicas, advertiu que se defenderá no caso de ataque. O clima de nervosismo também afeta o mercado: as bolsas asiáticas registraram fortes perdas, as europeias operavam em baixa, ao mesmo tempo que a cotação do petróleo registrava alta e as moedas dos países emergentes enfrentavam desvalorização.