Agência France-Presse
postado em 29/08/2013 20:01
Aumenta nos Estados Unidos e na Europa o ceticismo sobre uma intervenção militar na Síria: aos poucos, os políticos fazem eco às reservas da opinião pública, exigindo a apresentação de provas contra o regime de Damasco.Apesar de indignados com as imagens do ataque químico cometido em 21 de agosto perto de Damasco, de Londres a Berlim, os parlamentares se negam a confiar cegamente nos dirigentes de Estados Unidos, Grã-Bretanha e França para o lançamento de um ataque de represália ao regime de Bashar al-Assad.
Londres é o epicentro desse ceticismo político. A oposição trabalhista se recusa a aprovar um texto proposto pelo premier David Cameron a favor de uma intervenção militar. Ainda não se tem os resultados da investigação da ONU na Síria, o que adia eventuais ataques - que pareciam iminentes há alguns dias.
Segundo pesquisa YouGov/The Times publicada nesta quinta-feira, apenas 22% dos britânicos são favoráveis a uma intervenção, enquanto 51% se opõem. Em outros lugares da Europa, as enquetes também refletem posições majoritariamente contrárias a uma intervenção.
Tradicionalmente reticentes ao envio de suas tropas, 58% dos alemães são contra um ataque à Síria, e 33%, a favor, de acordo com uma pesquisa Politbarometer/ZDF.
A Alemanha participou da guerra no Afeganistão, mas, diferentemente de França e Grã-Bretanha, absteve-se de votar no Conselho de Segurança quando se discutia uma intervenção na Líbia em 2011. Hoje, a chanceler Angela Merkel insiste em buscar uma solução por intermédio da ONU.
Na França, onde o Parlamento foi convocado para uma sessão extraordinária na próxima quarta, a opinião pública está dividida. Duas pesquisas nesta quinta sobre um ataque militar contra a Síria sob o mandato da ONU apontaram que 55% dos entrevistados são favoráveis, contra 45% (Ifop/Figaro). Na véspera, uma enquete da CSA mostrou 45% a favor, e 40%, contra.
Na Itália, o tema não gera debates: esquerda e direita se recusam a intervir sem o aval da ONU.
A Áustria se mantém cautelosa, assim como a Espanha, o que remete à decisão do Conselho de Segurança, uma década depois que milhões de pessoas tomaram as ruas contra a guerra no Iraque. Soldados espanhóis foram enviados para Bagdá.
No caso do presidente Barack Obama, as reservas são de outra natureza. O Congresso americano não pretende depender das conclusões da ONU, instituição que não desperta a confiança dos republicanos.
Não há dúvidas de que o presidente, descrito pela revista "Time" nesta quinta como um "guerreiro infeliz", vai elaborar uma justificativa legal para uma "resposta" militar. E essa justificativa certamente será em nome do interesse nacional e da violação das normais internacionais sobre armas químicas.
O que democratas e republicanos exigem de Obama é uma descrição de seus planos.
"Que resultados o governo busca conseguir", perguntou o presidente da Câmara de Representantes, o republicano John Boehner, em carta a Obama, na qual ressaltou que uma intervenção militar constitui "um meio, e não uma política" a ser adotada.
Já a imprensa questiona o relatório que a inteligência americana deve divulgar nos próximos dias. "Dado o espetacular fracasso americano no Iraque, quando o governo de (George W.) Bush deflagrou uma guerra por causa de armas nucleares que não existiam, o nível de provas (necessário) é, sem dúvida, mais elevado", defendeu o jornal "The New York Times" em um editorial nesta quinta-feira.
Desde o começo da crise síria, os americanos mostraram pouca vontade de se envolver de forma crescente, inclusive sem chegar a uma invasão terrestre. A retirada das tropas americanas do Afeganistão, por exemplo, ainda não terminou.
Segundo um estudo da Quinnipac de 8 de julho, 61% dos americanos consideram que não é do interesse do país "se envolver" no conflito sírio. Já 49% se disseram favoráveis ao uso de mísseis de cruzeiro, "que não põe a vida de americanos em perigo".
Em junho, 54% dos americanos criticava a decisão de entregar armas aos rebeldes sírios, de acordo com o Instituto Gallup.
O fiel aliado canadense anunciou, nesta quinta, que não considera participar de uma intervenção armada contra a Síria.