Agência France-Presse
postado em 01/09/2013 13:03
Paris - O presidente francês, François Hollande, que se mostrou determinado a atacar imediatamente a Síria, sofre uma pressão cada vez maior, forçado a esperar pela boa vontade de seu aliado americano e enfrentando uma crescente contestação dos opositores, que cobram uma votação no Parlamento. Criticado em termos de política interna por ser muito consensual, o presidente francês se revelou um verdadeiro senhor da guerra no Mali e na Síria, onde defende uma ação para "punir" o regime de Bashar al-Assad.Desta forma, o chefe de Estado e das Forças Armadas se prepara para envolver as forças francesas em duas operações externas em um período de apenas oito meses. Mas a França, que de forma inesperada se tornou o maior aliado dos Estados Unidos na crise síria após o recuo britânico, pode acabar como uma mera seguidora dos americanos, como temia o ex-primeiro-ministro François Fillon.
[SAIBAMAIS]Após o veto do Parlamento britânico a uma intervenção na Síria, Barack Obama anunciou no sábado a sua decisão de consultar o Congresso antes de uma ação militar, quando um ataque parecia iminente. "Se os Estados Unidos optaram por não intervir, a França não poderá agir sozinha, é claro, já que é necessário uma coalizão para garantir a legitimidade" da intervenção, reconheceu a presidente socialista da Comissão de Relações Exteriores da Assembleia Nacional, Elisabeth Guigou.
Em Paris, uma fonte próxima ao caso expressa preocupação: "quanto mais a punição se distancia do 21 de agosto, maior é o risco de ser enfraquecida em seus efeitos políticos e militares". "Nós estávamos prontos. O direcionamento dos alvos estava pronto, mas é claro que somos obrigados a seguir o ritmo dos americanos", disse uma fonte militar. Enquanto isso, François Hollande também enfrenta crescente pressão política interna. O Executivo tinha considerado um simples debate sem votação no Parlamento, em 4 de setembro, mas já está sendo forçado a fazer concessões.
O primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault receberá na segunda-feira os principais líderes parlamentares para informá-los sobre a situação na Síria. E para justificar o seu compromisso, o governo vai desclassificar documentos secretos sobre o arsenal de armas químicas da Síria, segundo uma fonte do governo.
Um recente relatório do serviço de inteligência francês, que teve o seu conteúdo revelado pelo Journal du Dimanche, cita "várias centenas de toneladas de gás mostarda e gás sarin" em posse do regime sírio, em um estoque que ultrapassaria 1.000 toneladas de agentes químicos.
Depois de François Fillon e Jean-François Copé, líder da UMP (direita), que fez soar o alarme sobre os perigos de entrar na guerra, o centrista Jean-Louis Borloo exigiu no sábado, após as declarações de Barack Obama, uma "votação formal" no Parlamento francês. Apesar dos apelos nesse sentido, o Executivo ainda parece relutar para organizar uma votação parlamentar.
Segundo a Constituição, o presidente pode decidir por uma ação das Forças Armadas no exterior sem o consentimento do Parlamento. De acordo com o artigo 35 da Constituição, "o Governo informa o Parlamento da sua decisão de envolver as Forças Armadas no exterior, no mais tardar três dias após o início da intervenção. Ele especifica os objetivos. Essa informação pode dar origem a um debate que não é seguido por uma votação".
Uma votação só é necessária, se a duração da intervenção exceder quatro meses, como foi o caso no Mali. O ministro do Interior, Manuel Valls, foi mais longe, afirmando: "Não vamos mudar a Constituição em função dos acontecimentos". "O gabinete presidencial deve ser preservado", insistiu.
A Síria já representa um confronto político. O chefe do Partido Socialista, Harlem Désir, denunciou um "espírito de Munique" entre os líderes da oposição, em uma alusão ao Acordo de Munique, que viu franceses e britânicos cederem às exigências territoriais de Hitler na Tchecoslováquia, em 1938. Essas observações foram consideradas "desprezíveis" por Christian Jacob, líder da UMP.