Paris - O presidente alemão Joachim Gauck, que inicia nesta terça-feira (3/9) uma viagem oficial à França, e seu colega francês François Hollande, vão realizar na quarta-feira uma visita histórica a Oradour-sur-Glane, povoado francês mártir dos nazistas, um gesto simbólico que faz parte de um processo de reconciliação entre os dois países.
Esta será a primeira visita de um líder alemão a essa localidade, hoje fantasma, localizada no centro da França, onde, em 10 de junho de 1944, a divisão SS "Das Reich", que avançava para o norte para combater as forças aliadas desembarcadas na Normandia, assassinaram 642 habitantes, entre eles 205 crianças, e incendiaram as casas.
O exército do Terceiro Reich realizou vários massacres do tipo na frente leste de combate durante a Segunda Guerra Mundial, mas Oradour representa o ápice das atrocidades cometidas durante os quatro anos de ocupação alemã na França, e as feridas permaneceram abertas durante muito tempo na memória dos sobreviventes e habitantes da região.
"Durante muito tempo não houve nenhuma troca com a Alemanha, era um tabu", lembra Claude Milord, presidente da associação de famílias mártires.
A visita dos dois presidentes, que vão percorrer as ruínas de Oradour, deixadas intactas há 69 anos e declaradas monumento histórico, lembra outro gesto simbólico, o de François Mitterrand e Helmut Kohl, que em 1984 prestaram homenagem de mãos dadas em Verdun (leste) aos soldados dos dois países mortos durante as duas guerras mundiais.
Joachim Gauck e François Hollande visitarão a praça na qual a população do povoado foi reunida, os diferentes locais onde os homens foram executados com metralhadoras e as ruínas da igreja, onde as mulheres e crianças foram colocadas e queimadas vivas.
Dois sobreviventes com os chefes de Estado
Gesto ainda mais simbólico, Robert Hébras e Jean-Marcel Darthout, dois dos três sobreviventes do massacre ainda vivos (apenas seis sobreviveram na época) vão acompanhar Gauck na visita.
Hébras, de 88 anos de idade, era um jovem de 19 anos que sobreviveu ao se esconder embaixo dos corpos de seus amigos metralhados, e que conseguiu escapar do monte de cadáveres queimados pelos SS.
O senhor, que diz que durante muito tempo esteve "habitado pelo ódio e a vingança", considera que a visita de Gauck é "a continuação lógica da construção europeia" que chega em boa hora. "Antes disso teria sido cedo demais".
Hollande ressaltou recentemente a necessidade de "levar uma mensagem, a única positiva: nada esquecer e ao mesmo tempo ser capaz de construir um futuro juntos".