Agência France-Presse
postado em 03/09/2013 19:58
Washington - O presidente americano, Barack Obama, obteve nesta terça-feira o apoio dos principais líderes da oposição republicana para um ataque militar limitado na Síria, enquanto o secretário-geral da ONU alertou para um "banho de sangue" e pediu cautela.Obama teve uma reunião na Casa Branca com congressistas de ambas as Câmaras do Congresso e os membros das mais importantes comissões legislativas.
No encontro, o presidente voltou a defender que o uso de armas químicas, atribuído ao governo sírio, representa uma "séria ameaça à segurança nacional" dos Estados Unidos e a toda a região. Por isso, frisou Obama, "Bashar al-Assad e a Síria devem prestar contas".
Obama disse que pedirá uma "votação rápida" aos congressistas para uma intervenção militar "limitada" e sem tropas terrestres.
Na saída da reunião, o presidente da Câmara de Representantes, o republicano John Boehner, disse à imprensa que apoiará "o apelo do presidente em favor de uma ação" militar. O congressista Eric Cantor, líder da bancada republicana, também apoiou Obama.
-- NÃO AO ISOLACIONISMO --
Nesta terça, figuras-chave do gabinete de Obama tentavam convencer a Comissão de Relações Exteriores do Senado da necessidade de uma ação punitiva contra o regime de Al-Assad, após os mais de 1.400 mortos que teriam sido deixados, segundo Washington, pelo ataque químico de 21 de agosto.
[SAIBAMAIS]
O secretário de Estado, John Kerry, disse que os Estados Unidos devem agir com medidas punitivas contra o governo sírio, porque uma falta de resposta enviará um sinal perigoso para o Irã, para os militantes do Hezbollah no Líbano e para outros inimigos de Washington.
"Este não é o momento para isolacionismo. Este não é o momento para sermos espectadores de um massacre", disse Kerry à Comissão de Relações Exteriores do Senado.
"Nem nosso país, nem nossa consciência podem se permitir o custo do silêncio", defendeu Kerry. "Nós nos pronunciamos contra este horror inenarrável. Agora, devemos agir", acrescentou.
O secretário da Defesa, Chuck Hagel, explicou que os objetivos de uma ação militar seriam "reduzir a capacidade" do regime sírio de cometer outros ataques químicos e "dissuadi-lo" de recorrer novamente a esse arsenal.
"Acreditamos que podemos alcançar (esses objetivos) com uma ação militar de duração e alcance limitados", afirmou, lembrando que não se trata "de resolver o conflito na Síria por meio da força militar direta", acrescentou.
A audiência foi interrompida diversas vezes por manifestantes pacifistas, que gritavam palavras de ordem contra uma intervenção militar. Duas pesquisas mostram que quase um a cada dois americanos se opõe a um ataque militar dos Estados Unidos ao regime sírio.
-- BAN PEDE QUE SE EVITE ;BANHO DE SANGUE; --
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu cautela e disse que um ataque militar contra a Síria pode agravar o conflito. Ele insistiu que as potências do Conselho de Segurança se unam para impedir o uso de armas químicas, e que qualquer ação aconteça de acordo com a Carta das Nações Unidas.
"Devemos considerar o impacto de qualquer ação punitiva nos esforços para evitar um banho de sangue maior e facilitar uma solução política do conflito", afirmou Ban. "Tudo deve ser administrado dentro da Carta das Nações Unidas", frisou.
Neste contexto de tensão, a Rússia - aliada do regime de Assad - detectou o lançamento de dois mísseis de cruzeiro no mar Mediterrâneo. Ambos caíram no mar.
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Um dos lançamentos foi efetuado como parte de um exercício bilateral Israel-EUA, como um "teste" e "não tem nada a ver" com uma possível ação militar americana na Síria, declarou o porta-voz do Pentágono, George Little.
Mas a Marinha americana já ajustou sua frota com quatro destróieres no leste do Mediterrâneo e enviou um grupo aeronaval para o Mar Vermelho, segundo uma fonte da Defesa.
Em Istambul, a coalizão síria opositora indicou que teme um novo ataque com gás tóxico das forças de Damasco, destacando o deslocamento de três comboios militares de armas químicas nas últimas 48 horas.
O alto comissário das Nações Unidas para os refugiados, Antonio Guterres, afirmou que "a Síria se transformou na grande tragédia deste século, uma calamidade humanitária indigna, com sofrimentos e deslocamentos da população sem precedentes na História recente".
Em um ano, o número de refugiados sírios pulou de 230 mil para dois milhões, sendo metade crianças, anunciou esse funcionário da ONU. Guterres lembrou também que pelo menos 4,25 milhões de pessoas foram obrigadas a se deslocar dentro da Síria.
-- ORIENTE MÉDIO, UM BARRIL DE PÓLVORA --
Já o presidente da França, François Hollande, convocou a Europa a se unir frente à crise síria e manifestou sua confiança de que isso aconteça. O Parlamento francês debaterá na quarta-feira, em sessão extraordinária, uma eventual intervenção militar. De acordo com o primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault, nenhuma votação está prevista.
Em declarações publicadas pelo jornal francês "Le Figaro", Assad disse: "O povo francês não é nosso inimigo, mas (...) na medida em que a política do Estado francês for hostil ao povo sírio, esse Estado será seu inimigo".
"Haverá repercussões, negativas desde já, nos interesses da França", acrescentou o presidente sírio. "Existe o risco de uma guerra regional. O Oriente Médio é um barril de pólvora, e o fogo está se aproximando", acrescentou.
-- SÍRIA NO G-20 --
A apenas três dias de uma cúpula do G-20, na quinta-feira, em São Petersburgo, a Rússia reiterou sua oposição a qualquer ação militar contra sua aliada Síria. Não há expectativas de um encontro entre os presidentes Vladimir Putin e Barack Obama.
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, disse que ainda tem esperança de que uma solução diplomática seja alcançada durante a reunião do G-20, de acordo com sua porta-voz. A proposta de engajamento da Grã-Bretanha em uma possível intervenção militar americana na Síria, apresentada por Cameron ao Parlamento, foi rejeitada.
A chanceler alemã, Angela Merkel, também declarou nesta terça que espera um consenso internacional sobre a Síria no G-20, mas confirmou que seu país não participará de qualquer ação militar.