Cairo - O ministro egípcio do Interior, cujas forças têm reprimido violentamente os partidários do presidente islamita deposto Mohamed Morsy, escapou ileso de um atentado com carro-bomba nesta quinta-feira (5/9) na passagem de sua comitiva no Cairo. Pouco após a explosão, o ministro Mohammed Ibrahim advertiu para o risco de "uma onda de terrorismo", o que o governo egípcio prometeu contra-atacar ;mão de ferro;.
O país está sob estado de urgência desde a destituição e detenção de Morsy, em 3 de julho pelo Exército, que provocou uma onda de violência que deixou mais de de 1.000 mortos no Egito, em sua maioria manifestantes islamitas. O ataque ocorreu perto da residência do ministro, em Nasr City. Ibrahim afirmou que quatro veículos de seu comboio foram destruídos e citou vários feridos no atentado.
Duas horas depois da explosão, o ministro denunciou na televisão uma "tentativa de assassinato covarde".
Esta escalada da violência era previsível, segundo Ibrahim. "Eu previ que com a dispersão (das manifestações pró-Morsy no Cairo), haveria uma onda de terrorismo", considerou à imprensa.
Em uma recente entrevista, Ibrahim afirmou que tem recebido ameaças de morte. A Aliança contra o Golpe de Estado, uma coalizão islamita egípcia que organiza a mobilização dos simpatizantes do presidente destituído Mohamed Morsy, condenou o ataque contra o ministro do Interior. "O ataque deve ser condenado independente dos autores", afirmou Amr Darrag, um dos líderes da Aliança. "Reiteramos nosso enfoque pacífico, que é observado claramente em cada uma de nossas manifestações", completou.
[SAIBAMAIS]A Gamaa al-Islamiya, responsável por vários ataques nos anos 1990, também negou participação no ataque, denunciando um ato de "terrorismo". O ataque aconteceu depois da violenta repressão contra os partidários do presidente Morsy, um processo no qual a polícia, sob as ordens do ministro do Interior, teve participação importante. Em 14 de agosto a polícia foi responsável pela morte de centenas de manifestantes reunidos na capital. No dia anterior ao massacre, o ministro Ibrahim havia autorizado as forças de ordem a atirar contra os manifestantes. Desde a destituição de Morsy, mais de 2.000 membros da Irmandade Muçulmana foram detidos, incluindo seu Guia Supremo, Mohammed Badie.
No norte do país, a península do Sinai, onde grupos jihadistas estabeleceram bases, voltou a registrar um grande número de ataques, o mais violento em 19 de agosto que deixou 25 policiais mortos.
Nesta quinta-feira, um policial e um oficial foram mortos por homens armados em dois ataques distintos no Sinai e na estrada que liga o Cairo a Isma;liya, no canal de Suez, segundo fontes dos serviços de segurança.
Dez oficiais da polícia ficaram feridos no atentado contra o ministro, segundo membros da segurança.
Uma autoridade do ministério afirmou que um dos policiais perdeu uma das pernas na explosão.
A polícia bloqueou imediatamente as estradas de acesso ao ministério no centro da cidade, como medida de prevenção. Este foi o primeiro atentado com carro-bomba no Cairo em muitos anos.
Confrontado com a violência, o governo interino instalado pelo exército instaurou em 14 de agosto estado de emergência - por um mês - enquanto o levantamento deste estado foi uma das conquistas da revolta popular que derrubou Hosni Mubarak no início de 2011. Um toque de recolher foi imposto em metade das províncias. O presidente interino disse recentemente que o estado de emergência poderia, como prometido, ser levantado em meados de setembro, mas o ataque contra Ibrahim poderia mudar isso.