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EUA prosseguem em busca de apoio diplomático para ofensiva contra a Síria

No entanto, o presidente sírio, Bashar al-Assad, negou mais uma vez ter ordenado um ataque químico

Agência France-Presse
postado em 08/09/2013 14:31
Paris - O secretário de Estado americano, John Kerry, deu prosseguimento neste domingo a uma ofensiva diplomática dos Estados Unidos na Europa para tentar conquistar apoio para uma ação militar na Síria, acusada de ter provocado um massacre com um ataque químico.

No entanto, o presidente sírio, Bashar al-Assad, negou mais uma vez, em uma entrevista ao canal americano CBS, ter ordenado um ataque químico nas proximidades da capital síria em 21 de agosto.

"Ele negou que tenha tido algo a ver com o ataque", afirmou o correspondente da CBS Charlie Rose, depois que entrevistou Assad na Síria. "A coisa mais importante, segundo ele, é que ;não há evidência de que eu usei armas químicas contra meu próprio povo;", afirmou ainda.

Depois de ter obtido no sábado o apoio político dos europeus a uma "resposta clara e forte" ao ataque, Kerry se reuniu neste domingo em Paris com os chanceleres do Egito e da Arábia Saudita e com representantes da Liga Árabe.

[SAIBAMAIS]"Concordamos de forma unânime que o uso odioso de armas químicas por Assad cruzou uma linha vermelha internacional", declarou Kerry após o encontro em Paris.

"Um número de países assinou imediatamente o comunicado (aprovado por 12 países) do G20, no qual se pede uma resposta forte à Síria", destacou.

Entre os signatários estão Arábia Saudita e Catar, que respaldam a oposição síria. No que diz respeito aos outros países, "cada um fará seu próprio anúncio nas próximas 24 horas", disse Kerry.

O Irã, principal aliado regional de Damasco, reiterou a oposição a qualquer intervenção estrangeira na Síria, "ilegal" segundo a Carta das Nações Unidas, afirmou o chefe da diplomacia iraniana, Mohamad Javad Zarif.

Em uma visita a Bagdá, Zarif defendeu negociações para resolver pacificamente a crise síria.

Durante todo o fim de semana, França e Estados Unidos reiteraram o desejo de punir militarmente o regime sírio e destacaram um apoio internacional amplo e crescente.

Conferência de Munique

"É verdadeiramente nossa Munique", exclamou no sábado John Kerry em Paris, em referência à famosa conferência de 1938, símbolo do não intervencionismo das democracias contra as ditaduras.

"Não estamos falando de guerra. Não se trata de Iraque, Afeganistão, nem sequer da Líbia ou Kosovo. Estados Unidos acreditam que a única maneira de acabar de verdade com o conflito sírio passa por uma solução política", disse Kerry para a imprensa francesa.

Ao comentar o "apoio político" obtido na véspera por 28 países membros da União Europeia, o chefe da diplomacia francesa, Laurent Fabius, afirmou neste domingo que França e Estados Unidos "não precisam que todos os países atuem materialmente, nem militarmente. A maioria destes países não têm recursos para fazer isto", explicou.

O secretário de Estado americano voltará a Washington na segunda-feira, depois de um encontro na noite de domingo em Londres com o presidente palestino, Mahmud Abbas, e na manhã seguinte com o chefe da diplomacia britânica, William Hague.

O governo de Londres teve que desistir de participar em uma intervenção militar na Síria, após um veto do Parlamento. "A situação seria preocupante se os diferentes Parlamentos do mundo" também decidissem que não é preciso intervir", afirmou Hague.

O Congresso americano deve decidir nos próximos dias se autoriza ou não uma intervenção militar na Síria, como decidiu na semana passada o presidente Barack Obama. O resultado da votação é incerto, especialmente na Câmara de Representantes

No fim de semana, canais de televisão americanos exibiram vídeos com imagens das vítimas dos ataques com armas químicas de 21 de agosto. Obama concederá uma entrevista a várias emissoras do país na segunda-feira.

A entrevista será exibida durante a noite de segunda-feira, um dia antes de um discurso de Obama à nação, que precederá a votação no Congresso.

O presidente francês, François Hollande, disse que espera a votação do Congresso americano para quinta-feira ou sexta-feira e o relatório dos inspetores da ONU no fim de semana, antes de tomar uma decisão.

Kerry destacou que, caso Washington opte pelo ataque não vaia aguardar o resultado do relatório da ONU.

Para a maioria dos países da UE, o relatório da ONU é uma etapa essencial, pois poderia confirmar de forma independente as acusações do uso de gases tóxicos.

De acordo com o jornal Los Angeles Times, as autoridades militares americanas planejam agora um ataque intenso com mísseis, seguido por outros menores contra alvos que não atingidos na primeira ofensiva.

Duas fontes entrevistadas pelo jornal afirmaram que a Casa Branca pediu a ampliação da lista de objetivos a atingir para incluir "muitos mais", depois de uma primeira relação de 50 alvos.

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A decisão foi motivada pelo desejo do governo americano de atingir as forças dispersas do regime sírio. No campo de batalha, os combates prosseguiam entre rebeldes e tropas leais a Assad neste domingo.

Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), os insurgentes assumiram o controle da histórica cidade cristã de Malula, ao norte de Damasco.

O papa Francisco, contrário a uma intervenção militar na Síria, denunciou neste domingo as "guerras comerciais para vender armas" e pediu aos líderes políticos que "encontrem uma solução justa ao conflito fratricida".

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