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Balanço do segundo mandato de Merkel é contrastante, diz analistas

Na liderança de uma coalizão com os liberais, a chanceler levou adiante alguns grandes projetos. No entanto, algumas promessas não foram cumpridas

Agência France-Presse
postado em 09/09/2013 17:18
Berlim - "Este governo foi o que funcionou melhor desde a reunificação", afirma a chefe do governo alemão, Angela Merkel, durante seus atos eleitorais, a alguns dias das eleições legislativas de 22 de setembro, enquanto seu rival social-democrata classifica o segundo mandato de Merkel como "quatro anos perdidos".

Para os analistas, o balanço do segundo mandato de Merkel é contrastante. Na liderança de uma coalizão com os liberais - depois de ter governado de 2005 a 2009 junto aos sociais-democratas -, a chanceler levou adiante alguns grandes projetos. No entanto, algumas promessas não foram cumpridas e os bons números econômicos do país são, em parte, resultado das dolorosas reformas adotadas por seu antecessor, o social-democrata Gerhard Schroeder, segundo os especialistas.

Conhecida por sua prudência e pela busca permanente de consenso, mas criticada pela falta de visão, Merkel levou adiante uma "política pragmática de pequenos passos, sem grandes convicções ideológicas", expõe Nils Diederich, cientista político da Universidade Livre de Berlim.

Economicamente, a Alemanha está melhor do que seus vizinhos europeus, com uma taxa de desemprego de 6,8% em agosto. Mas muitos analistas consideram que Merkel simplesmente colheu os frutos das reformas colocadas em andamento em 2003 pelo chanceler Schroeder, que flexibilizou, em grande medida, o mercado trabalhista alemão, mas que também favoreceu a multiplicação de empregos precários e salários baixos, em um país que não tem um salário mínimo.

O governo de Merkel conseguiu reduzir o déficit orçamentário, que em 2014 será "o mais baixo nos últimos 40 anos", o que atribui a sua "disciplina nos gastos".



Paradoxalmente, a Alemanha se beneficiou da crise do euro. Graças ao seu status de país financeiramente seguro, conseguiu se endividar a um preço mais baixo em comparação com alguns de seus vizinhos europeus.

Já a grande reforma fiscal, prometida pelos conservadores e liberais em 2009 e destinada a simplificar um dos sistemas mais complexos do mundo, nunca foi feita. Merkel desistiu dela "por medo de tocar os nichos fiscais", segundo o cientista político Jurgen Falter, da Universidade de Mayence.

Quanto à política energética da chanceler, ela é uma mostra de seu pragmatismo, afirma Diederich. Os conservadores e os liberais concordaram em prolongar a vida das centrais nucleares, que os ecologistas e sociais-democratas pretendiam fechar até 2020.

Mas depois da catástrofe de Fukushima de 2011, Merkel mudou de opinião e anunciou o abandono da energia nuclear até 2022. A Alemanha agora quer garantir 80% de sua produção elétrica graças às energias renováveis até 2050, além de baixar seu consumo de energia e suas emissões de dióxido de carbono (CO2).

A transição energética suscita, no entanto, vários desafios, como o do preço da eletricidade, que aumentou consideravelmente e que é encarado como uma ameaça para a indústria alemã.

Em matéria de política familiar, Merkel cumpriu suas promessas. Criou vagas suficientes em creches para atender às necessidades dos pais e instaurou um subsídio para as famílias que cuidam de seus filhos em casa sem recorrer às creches ou a outros serviços públicos. No entanto, essas vantajosas políticas familiares não conseguiram, até o momento, reativar a taxa de natalidade deste país, uma das mais baixas do mundo.

A ameaça do envelhecimento da população alemã segue latente e será "o maior desafio nos próximos dez e 20 anos", segundo Merkel, que multiplica os debates sobre este tema.

Outras reformas, as mais profundas e difíceis, como a das aposentadorias e a das assistências a pessoas dependentes, também foram adiadas.

O segundo governo de Merkel também levou adiante a reforma do Exército mais radical desde a sua criação, há 56 anos, acabando com o serviço militar em 2011 para reduzir os efetivos e garantindo, ao mesmo tempo, que estivesse mais preparado para missões internacionais.

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