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Rússia entrega aos EUA plano de controle de armas químicas na Síria

Moscou espera debater o assunto em Genebra, onde estão reunidos diplomatas dos dois países

Moscou - As autoridades russas entregaram nesta quarta-feira aos Estados Unidos o plano para submeter o arsenal de armas químicas sírias ao controle internacional, informou a agência russa ITAR-Tass. "Entregamos aos americanos um plano para colocar as armas químicas sírias sob controle internacional, esperamos poder debater isto em Genebra, onde estão reunidos diplomatas dos dois países", disse uma fonte da delegação russa.

O ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, e o secretário de Estado americano, John Kerry, vão se reunir na tarde de quinta-feira em Genebra. Uma fonte russa em Genebra, citada pela agência Itar-Tass, indicou que esta reunião pode durar vários dias. "O encontro deve ter início na quinta-feira e ser concluído na sexta, mas poderá se estender até sábado", declarou a fonte.



Essas declarações foram feitas um dia após o discurso de Barack Obama, que considerou a proposta russa de submeter as armas químicas ao controle internacional como um sinal de esperança. "Esta iniciativa tem o potencial de remover a ameaça das armas químicas sem o uso da força, particularmente porque a Rússia é um dos mais fortes aliados de Assad", declarou o presidente, que também reconheceu que é muito cedo para saber se a proposta terá êxito.

Obama pediu ao Congresso que adie a votação de autorização de uma ação militar contra a Síria. Já o guia supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, um fiel aliado do regime sírio, anunciou que espera que a decisão de Washington de aguardar os resultados da proposta russa seja séria.

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Em seu discurso, Obama lembrou que a opção militar segue sobre a mesa e que está decidido a manter a pressão sobre o regime sírio. "Mesmo um ataque limitado enviaria uma mensagem a Assad que nenhuma outra nação pode enviar", afirmou o líder americano, acrescentando que não mobilizará tropas em terra. E o presidente israelense, Shimon Peres, disse estar convencido de que os Estados Unidos só irão intervir militarmente na Síria se suas autoridades não forem sinceras sobre o arsenal de armas químicas.

"Sempre é melhor obter resultados pela diplomacia do que pela guerra, mas a questão central atualmente é a sinceridade do regime sírio", disse Peres. Em declarações feitas nesta quarta-feira, Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, afirmou que as "atrocidades" cometidas na Síria representam um "fracasso coletivo" da comunidade internacional.

"Nosso fracasso coletivo em evitar as atrocidades cometidas na Síria há dois anos e meio pesará duramente sobre a reputação da ONU e dos Estados membros", disse Ban durante um debate na Assembleia Geral da ONU sobre o conceito "responsabilidade de proteger", estimulando mais uma vez o Conselho de Segurança a tomar ações. Já o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, afirmou que a utilização de armas químicas na Síria merece uma clara condenação e precisa de uma resposta forte.

"A comunidade internacional, com as Nações Unidas no centro, deve assumir uma responsabilidade coletiva para punir estes atos e colocar fim a este conflito", acrescentou Barroso em seu discurso anual sobre a União Europeia ante o Parlamento Europeu em Estrasburgo. Pouco depois, em um debate sobre a Síria na Eurocâmara, a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, pediu que os membros do Conselho de Segurança da ONU "assumam suas responsabilidades" na resolução do conflito sírio.

O papel do Conselho de Segurança é inevitável, afirmou Ashton, mas seus membros "têm que assumir suas responsabilidades e é verdadeiramente lamentável que até agora não tenham feito isso no âmbito do conflito na Síria". Na frente de batalha, combatentes do grupo extremista sunita Frente al-Nosra mataram doze civis alauitas perto de Homs, no centro da Síria, informou nesta quarta-feira o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), uma ONG com sede no Reino Unido que obtém informações graças a uma rede de ativistas e de fontes médicas no país.