Agência France-Presse
postado em 14/09/2013 08:41
Cairo - Um tribunal do Cairo convocou neste sábado várias autoridades de segurança do regime de Hosni Mubarak para depor, a partir de 19 de outubro, nas próximas sessões do processo em apelação do ex-presidente egípcio, enquanto manifestações na capital egípcia lembravam um mês da morte de centenas de pessoas em protestos depois da deposição do presidente islamita Mohamed Mursi.Essas autoridades serão interrogadas sobre a repressão à revolta de janeiro e fevereiro de 2011, que terminou com a morte de 850 manifestantes. O objetivo é saber com máximo de exatidão o papel desempenhado pelo ditador.
[SAIBAMAIS]O tribunal indicou que as audiências serão realizadas nos dias 19, 20 e 21 de outubro, a portas fechadas, ao contrário das sessões anteriores, que foram transmitidas ao vivo pela televisão estatal. Essa decisão foi adotada porque estes testemunhos afetam a "segurança nacional".
O ex-líder, atualmente em prisão domiciliar, compareceu nesta sétima audiência de apelação sentado em uma cadeira de rodas, atrás de uma espécie de jaula reservada aos acusados, segundo imagens da tv local.
Ele estava junto de seus dois filhos, acusados como ele de "corrupção", de seu ministro do Interior, Habib el Adli, e de seis altos funcionários de seu governo.
Mubarak, de 85 anos, foi condenado em junho de 2012 em primeira instância à prisão perpétua por cumplicidade na morte de manifestantes durante a revolta de 2011. Ele apelou e o tribunal de cassação ordenou um novo julgamento.
Mubarak pode ser condenado à pena de morte.
O julgamento de Mubarak é realizado em meio a um período de grande tensão no Egito. Ainda neste sábado, cerca de 200 pessoas participaram de uma marcha "simbólica" no Cairo para lembrar um mês da sangrenta dispersão dos partidários do então presidente Mohamed Mursi, que sucedeu o ditador em junho de 2012.
Mursi ficou apenas um ano no poder e foi destituído pelo Exército no dia 3 de julho, depois de grandes manifestações que acusavam esse membro da Irmandade Muçulmana, principalmente, de tentar islamizar o país e de não ter conseguido administrar a economia.
Na manifestação deste sábado, homens, mulheres e crianças gritavam "Rabaa, Rabaa", em referência à Praça Rabaa al-Adawiya, onde uma das duas concentrações de militantes fiéis a Mursi na capital foi brutalmente dispersada, em 14 de agosto. Mais de mil pessoas morreram no país depois da queda do primeiro presidente democraticamente eleito do Egito.
Após esses atos, o Ministério do Interior fez uma nova advertência aos manifestantes islamitas, afirmando que a Polícia vai intervir se eles tentarem bloquear ruas e prejudicarem o trânsito.
A marcha pacífica deste sábado aconteceu perto dessa Praça, no bairro de Nasr City.
"Realizamos uma marcha simbólica para mostrar que, um mês depois do massacre de Rabaa, não abandonamos nosso movimento. Ele continuará", disse à AFP Ahmed Chamseddine, um médico que participava da passeata.
A marcha tentou chegar até Rabaa, mas foi desmobilizada antes.
Na sexta-feira, milhares de partidários do ex-presidente Mursi protestaram no Cairo contra o Exército.
Era em Rabaa e na Praça Nhada, em frente à Universidade do Cairo, que estavam montados os acampamentos pró-Mursi, dispersados com violência pelos militares em 14 de agosto. Centenas de pessoas morreram somente nesses episódios, sendo manifestantes em sua maioria