Mundo

Damasco e Moscou se mobilizam contra resolução que autorize recurso à força

A Rússia acusou nesta quarta-feira os inspetores da ONU de terem ignorado em seu relatório indícios conclusivos que haviam sido fornecidos a eles pelo governo sírio

Agência France-Presse
postado em 18/09/2013 18:53
Moscou - O regime sírio e seu aliado russo moviam suas peças nesta quarta-feira (18/9) para impedir uma resolução da ONU que possa abrir caminho para um recurso à força contra a Síria.

A Rússia acusou nesta quarta-feira os inspetores da ONU de terem ignorado em seu relatório indícios conclusivos que haviam sido fornecidos a eles pelo governo sírio.

"Esses indícios são muito conclusivos" e "nos incomoda que não tenham recebido a atenção apropriada no relatório" da missão da ONU sobre o ataque químico de 21 de agosto no subúrbio de Damasco, afirmou na capital síria Serguei Riabkov, vice-ministro russo das Relações Exteriores, em declarações divulgadas pela televisão russa.

Riabkov acrescentou que o governo sírio havia garantido que respeitará o prazo de uma semana no qual deve fornecer informações completas sobre seu arsenal químico.

"Recebemos garantias de que isso será feito a tempo", disse Riabkov durante uma entrevista coletiva à imprensa en Damasco.

A Síria está segura de que a ONU não aprovará uma resolução sobre suas armas químicas que preveja o uso da força, e agradeceu à Rússia por seu apoio.

Apesar do acordo de sábado, 14 de setembro, entre os Estados Unidos e a Rússia para destruir o arsenal químico sírio, ambas as partes ainda têm opiniões diferentes sobre o que aconteceu em 21 de agosto no subúrbio de Damasco e, consequentemente, sobre a inclusão ou não do uso da força em uma nova resolução da ONU sobre a Síria.

Para os Estados Unidos e a França, apenas o regime de Bashar al-Assad pode ter realizado o ataque químico de 21 de agosto, enquanto a Rússia reitera sua crença em um ato de "provocação" orquestrado pelos rebeldes com o objetivo de promover uma intervenção militar internacional no país.

Nesta quarta-feira, Assad agradeceu à Rússia pelo apoio dado a seu país frente ao que chamou de "ataque violento de que é alvo", ao receber em Damasco o vice-ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Riabkov, segundo informou a televisão pública.

Assad disse ainda que a posição russa, contrária à ameaça de um recurso à força contra a Síria, pode contribuir para criar um "novo equilíbrio mundial".

Além disso, o vice-ministro sírio das Relações Exteriores, Faiçal Moqdad, chamou a tese de um ataque químico de "grande mentira das potências ocidentais", considerando que nada justifica um recurso à força, previsto no capítulo VII da carta das Nações Unidas.

O chefe da equipe de inspetores da ONU, Aake Sellstr;m, afirmou que seu grupo retornará em breve à Síria para investigar as acusações contra o regime e a oposição.

Os especialistas da ONU que viajaram à Síria encontraram provas "claras e convincentes" do uso de gás sarin durante o massacre de 21 de agosto perto de Damasco, segundo um relatório oficial.

O relatório dos especialistas não aponta diretamente os responsáveis pelos ataques com armas químicas, já que seu mandato prevê que não se pronunciem sobre esse ponto.

[SAIBAMAIS]O relatório foi entregue segunda-feira ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que o apresentou aos 15 membros do Conselho de Segurança da ONU.

Para o presidente americano, Barack Obama, "quando observamos os detalhes e provas apresentados (pela ONU) é inconcebível pensar que alguém, além do regime", tenha usado armas químicas.

"Acredito que isso muda a dinâmica internacional. Acredito que muda a opinião internacional sobre a questão", declarou ao jornal espanhol Telemundo.

Na entrevista, Obama disse que, apesar de seu país estar envolvido em um processo de negociações com a Rússia e, indiretamente, com o governo sírio, continua pensando que Assad deve ser derrubado do poder.

"Meu objetivo tem sido, constantemente, garantir que as armas químicas sejam colocadas sob controle para garantir que ninguém poderá usá-las", declarou.



-- Munições de 1967 --

O jornal russo Vedomosti, considerado ligado ao poder russo, consultou dois especialistas militares para identificar os fragmentos de foguetes terra-terra que aparecem em fotos anexadas ao relatório da ONU.

Segundo especialistas russos, alguns fragmentos parecem ser de fabricação artesanal. A inscrição em cirílico lida em alguns dos fragmentos indica que trata-se de munições de lança-foguete de fabricação soviética produzidas em 1967 em Novossibirsk.

Essas munições estão obsoletas, com o prazo de uso vencido e o Exército sírio possui munições mais modernas, ressaltaram os especialistas, considerando que esses elementos são novas evidências de um ataque rebelde.

O ataque químico de 21 de agosto suscitou a ameaça de ataques ocidentais, evitados na última hora por iniciativa de Moscou, em 9 de setembro, com um plano de desmantelamento do arsenal químico sírio, selado por um acordo entre americanos e russos assinado sábado em Genebra.

Mas Washington alertou na quarta-feira que os meios militares presentes no Mediterrâneo oriental permanecem os mesmos. "É evidente que a ameaça clara do recurso à força por parte dos Estados Unidos levou ao processo diplomático. Devemos manter a opção militar como antes", declarou o secretário de Defesa americano.

Enquanto isso, a situação no terreno não para de piorar, segundo a ONU, que ressaltou que cerca de sete milhões de sírios precisam de ajuda humanitária urgente. Mais de 110.000 pessoas morreram desde o início do conflito, de acordo com uma fonte síria.

No norte do país, combatentes da Al-Qaeda tomaram a cidade de Azaz, perto da fronteira com a Turquia, depois de violentos combates contra os rebeldes, disseram militantes à AFP.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação