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Presidente sírio diz que destruir arsenal químico levará um ano

Segundo Assad, "a operação é tecnicamente muito complicada e requer muito dinheiro, cerca de um bilhão de dólares"

Agência France-Presse
postado em 19/09/2013 12:17
Bashar Al-Assad fala durante uma entrevista com o canal Fox News em Damasco

Moscou -
O presidente da Síria, Bashar Al Assad, prometeu destruir seu arsenal químico, mas destacou que a operação levará um ano e custará um bilhão de dólares, em entrevista a rede de televisão americana. No terreno, combatentes vinculados à Al-Qaeda consolidavam nesta quinta-feira seu controle sobre a cidade síria de Azaz, perto da fronteira com a Turquia, num momento em que o presidente sírio afirma que a rebelião é formada, em sua maioria, por terroristas.

Em uma entrevista à Fox News, Bashar Al-Assad, declarou que a guerra em seu país não é uma guerra civil, mas um novo tipo de guerra, alegando que guerrilheiros islamitas de mais de 80 países se somaram à luta e que "entre 80% e 90% dos terroristas clandestinos são da Al-Qaeda". Na entrevista, divulgada na noite de quarta-feira, Assad afirmou que desde março de 2011 dezenas de milhares de sírios e 15.000 soldados do regime morreram, a maioria em "ataques terroristas, assassinatos e atentados suicidas".



[SAIBAMAIS]O conflito na Síria começou em março de 2011 com um levante popular que foi progressivamente se militarizando diante da repressão do regime. Em dois anos e meio de conflito, mais de 110.000 perderam a vida, segundo o OSDH. Nesta segunda entrevista concedida a um meio de comunicação americano neste mês, Assad reiterou que o ataque com gás sarin de 21 de agosto que deixou centenas de mortos perto de Damasco foi obra dos rebeldes. Sua aliada Rússia mantém a mesma postura, enquanto os países ocidentais e vários países árabes acusam o regime sírio de ter realizado este massacre, o que fez com que há alguns dias Estados Unidos e França estivessem a ponto de atacar o país.

Mas os russos e os americanos alcançaram um acordo no dia 14 de setembro em Genebra para desmantelar o arsenal químico sírio, o mais importante da região. "Acredito que é uma operação tecnicamente muito complicada. E requer muito dinheiro, cerca de um bilhão de dólares", disse Assad. Este desmantelamento será realizado segundo um "calendário certo" e para concluí-lo "será necessário um ano, talvez um pouco mais", acrescentou. O presidente russo, Vladimir Putin, afirmou nesta quinta-feira que a atitude da Síria quanto ao compromisso de desmantelar seu arsenal químico inspira confiança.

"Posso garantir 100% que seremos capazes de completar (o plano de desmantelamento das armas químicas sírias), mas tudo que temos visto nos últimos dias inspira confiança de que esse será o caso", declarou o presidente. Putin destacou ainda que a Síria aceitou aderir à Organização para Proibição de Armas Químicas (OPAQ).

Combatentes conquistam cidade do norte

Segundo moradores locais, combatentes do Estado Islâmico do Iraque e Levante (ISIS) conquistaram a cidade de Azaz depois de dias de combates com os rebeldes do Exército Livre da Síria (ESL). É a primeira vez que os jihadistas tomam o controle de uma cidade rebelde, além de estratégica, após uma batalha relâmpago, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH). Após estes incidentes na Síria, a Turquia fechou provisoriamente uma de suas passagens fronteiriças. Azaz foi um das primeiras cidades conquistadas pelos rebeldes sírios não jihadistas em julho de 2012. O ISIS, junto à Frente al-Nusra, proclama abertamente seus vínculos com a rede terrorista Al-Qaeda e jura lealdade ao seu chefe, Ayman al-Zawahiri.

Em uma mostra da complexidade do conflito sírio, embora os combates entre o ISIS e os rebeldes não jihadistas tenham se multiplicado nas últimas semanas em algumas regiões, em outras eles combatem juntos as tropas do regime de Assad.

ONU pode votar resolução no fim de semana


Conforme o acordo de Genebra, Moscou anunciou que a Síria se comprometeu a apresentar em um prazo de uma semana uma lista completa de seu arsenal químico. Este prazo vence no sábado, 21 de setembro. Depois de ter anunciado uma reunião na sexta-feira sobre a destruição das armas químicas sírias, a Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAC) disse que ainda não fixou uma data para esta reunião, pelo fato de ainda estar negociando o texto da decisão, informou seu porta-voz.

Enquanto isso, Damasco e Moscou multiplicam seus esforços para que o projeto de resolução sobre o arsenal químico sírio não implique a ameaça de uma ação militar imediata caso Damasco não respeite seus compromissos de desarmamento. Os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU - Estados Unidos, França, Rússia, China e Reino Unido - mantiveram novas negociações sobre este projeto de resolução. Segundo vários diplomatas da ONU, os ocidentais buscam convencer uma Rússia muito reticente de que seu projeto não implicará a ameaça de uma ação militar imediata. Se for alcançado um acordo com Moscou, a resolução pode ser submetida à votação neste fim de semana.

Em terra, nove civis morreram nesta quinta-feira em um atentado com explosivos contra um ônibus na região de Homs. O ataque ocorreu perto de várias aldeias alauitas, a comunidade religiosa minoritária na Síria, a qual Assad pertence. No plano humanitário, a ONU anunciou que a situação não para de se agravar na Síria. A organização estima que sete milhões de sírios precisam de ajuda humanitária urgente.

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