Agência France-Presse
postado em 19/09/2013 16:22
Berlim - Em campanha para pôr fim à era Merkel, os social-democratas alemães se acham prejudicados pelo legado das reformas do Estado de bem-estar, implantado há dez anos por Gerhard Schroeder, que recuperou o país, mas fragilizou a esquerda."Este ainda é um tema muito presente", disse à AFP, Benedikt Falszewski, presidente local do Partido Social Democrata (SPD) em Duisburg (oeste), grande cidade industrial de Ruhr.
"As pessoas veem tudo isto como algo injusto, pensam que o SPD traiu seus valores", acrescentou Falszewski, que faz campanha na sua cidade para que a deputada social-democrata local chegue a um segundo mandato.
"Tudo isto" é a Agenda 2010 lançada há dez anos pelo antecessor de Angela Merkel para empregar uma grande quantidade de pessoas desempregadas durante muito tempo, sobretudo, cortando severamente os benefícios sociais de um país que a revista The Economist chamava então de "o enfermo da Europa".
Ao fazer isso, Schroeder, "na opinião de muitos eleitores, abandonou a marca (do SPD), a justiça social", disse Jens Walther, cientista político da Universidade de Dusseldorf.
Isso significou um sério revés para o SPD, o partido mais antigo da Alemanha, que acaba de celebrar com grande pompa seus 150 anos de existência: 130.000 membros deixaram o partido entre 2003 e 2008, seus resultados eleitorais minguaram e um novo partido de esquerda, Die Linke, surgiu a partir desse descontentamento.
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Dez anos depois, a Alemanha está entre as economias europeias mais prósperas, seu baixo nível de desemprego é invejado por seus vizinhos e a maioria dos economistas, assim como a direita, veem isso como uma consequência das reformas de Schroeder.
No exterior, "todo mundo tem inveja", disse Walter, para quem, muitas pessoas na França, por exemplo, se perguntam se devem imitar o modelo.
Para grande número de social-democratas alemães, Schroeder soube "colocar a necessidade do Estado antes de seus próprios interesses", disse em um editorial recente o jornal Rheinische Post.
Contudo, um grande setor do SPD rejeita isso, o que complica seriamente a tarefa do candidato Peer Steinbrück, que apoia a Agenda 2010 e que parte em má posição para bloquear o caminho da chanceler rumo a um terceiro mandato.
[SAIBAMAIS]Segundo as últimas pesquisas, os social-democratas obteriam apenas 25% dos votos nas eleições de 22 de setembro, frente a 40% para os conservadores (CDU/CSU) da chanceler.
O SPD colocou a justiça social no centro de seu programa, quer limitar o aumento dos aluguéis, apoiar as famílias, estabelecer um salário mínimo, mas, para muitos simpatizantes de esquerda, as reformas minaram a credibilidade do partido como defensor dos mais fracos. Além disso, Steinbrück é da ala da direita do partido.
"Quando dissemos ;queremos revisar alguns aspectos da reforma;, as pessoas nos respondem ;são vocês a causa de tudo isso;", disse Falszewski. Em seu eleitorado trabalhista, tradicionalmente de esquerda, "a decepção é grande", inclusive se o SPD continuar sendo a primeira opção para os eleitores.
Além das reformas Schroeder, a mudança da aposentadoria para os 67 anos, decidida em 2007 por uma coalizão de conservadores e social-democratas, gera muito ressentimento, afirmou.
O ex-chanceler Schroeder não se arrepende em absoluto de suas medidas. Nas últimas semanas, Schroeder deu uma pequena contribuição para uma campanha até agora sem grande importância, com o risco de fazer o candidato Steinbrück parecer "fraco e pouco comprometido", comentou o jornal Handelsblatt.