Agência France-Presse
postado em 19/09/2013 18:33
Xangai - O crescente apetite dos chineses por carne e peixe impulsiona as importações de soja do país mais populoso do planeta.A carne era muito pouco frequente nas mesas chinesas quando a China começou a reformar as estruturas de sua economia planificada, há 35 anos.
Contudo, décadas de um crescimento espetacular transformaram a dieta de seus mais de 1,3 bilhão de habitantes, assim como sua urbanização e as redes de transporte público.
Cerca de 80% da demanda chinesa de grãos de soja - estimada em aproximadamente 70 milhões de toneladas no ano passado - é moída para produzir óleo e rações para animais de granja e peixe, estimam os analistas.
Apenas 20% são utilizados diretamente para alimentação humana, como o tradicional tofu, leite e molho de soja. "A maior demanda é para a farinha de soja, que é utilizada principalmente na alimentação animal", disse Zhang Lanlan, analista da Sublime China Information Co., que tem um site sobre matérias-primas. "A demanda por óleo e alimentos de origem animal está crescendo devido à urbanização chinesa", acrescentou.
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As autoridades chinesas ficaram preocupadas durante muito tempo com a autossuficiência alimentar do país mais populoso do planeta. Esse temor foi um dos fatores que levaram à controversa política do filho único.
No ano passado, os agricultores chineses colheram cerca de 12,8 milhões de toneladas de soja, enquanto o país importou 58,38 milhões de toneladas, segundo dados oficiais.
De acordo com a consultora Beijing Orient Agribusiness, os Estados Unidos foram os maiores fornecedores de soja à China em 2012, com 44% das importações, seguidos de perto pelo Brasil, com 41%, e pela Argentina, com 10%.
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estima que a China importará de 63 a 67,5 milhões de toneladas de soja este ano, com uma produção doméstica estável em 12 milhões de toneladas. Mais de 90% dos cultivos de soja nos Estados Unidos são geneticamente modificado, segundo cifras oficiais.
Se, por um lado, os produtores chineses - concentrados no nordeste do país - são proibidos de utilizar sementes geneticamente modificadas, Pequim permite a importação de onze variedades de sementes transgênicas, três delas aprovadas em junho.
Apesar das preocupações sobre a segurança alimentar por causa de uma série de escândalos, o debate na China sobre os alimentos geneticamente modificados tem sido escasso.
[SAIBAMAIS]"A soja geneticamente modificada importada é segura para comer", declarou, em um recente artigo, o Diário do Povo, jornal oficial do Partido Comunista. "As pessoas não devem se preocupar".
A demanda de soja se mantém apesar de o crescimento ter desacelerado na China, segunda maior economia do mundo, segundo analistas. O PIB cresceu 7,8% em 2012, com seu menor ritmo em 13 anos, e a expansão pode cair ainda mais este ano.
No entanto, Gao Yanbin, analista de Jinshi Futures, afirmou que, apesar do "ambiente econômico da China ser ruim, o consumo chinês de comida, pelo contrário, está crescendo". A demanda de soja sofreu um contratempo no começo deste ano quando o surto de gripe aviária H7N9 matou mais de 50 pessoas, afetando o consumo de aves domésticas.
Mas esse setor está se recuperando e a compra de farinha de soja para a alimentação de animais está aumentando. Os preços da soja subiram no mercado internacional no ano passado, mas voltaram a cair nos últimos meses.
A tendência vai continuar. A esmagadora indústria chinesa de soja tem uma capacidade anual de mais de 100 milhões de toneladas, segundo os analistas, o que demonstra que o gigante asiático tem apetite para muito mais.