Mundo

Sul da Europa espera que austeridade diminua após eleições alemãs

Sob supervisão internacional desde seu resgate em 2011, Portugal está imerso em um rígido regime de austeridade, regularmente examinado pela troika de seus credores (UE, FMI, BCE), mas, por trás dessas instituições, alguns acusam a Alemanha de ser a responsável

Agência France-Presse
postado em 20/09/2013 17:05
Madri - Os países do sul da Europa, que se sentem vítimas da política de austeridade "imposta" pela Alemanha, esperam que as posturas sejam suavizadas após as eleições de domingo, apesar da esperada reeleição de Angela Merkel.

"Precisamos de uma mudança: a Alemanha impõe medidas de austeridade porque quer recuperar os créditos que ofertou. Trata os demais países como súditos não como uma equipe", disse Daniel Correa, um espanhol de 33 anos, que coordena de seu escritório em Madri uma plataforma de organizações cidadãs europeias, Citizens for Europe.

Com o sul da Europa mergulhado na recessão e atingido por cortes orçamentários históricos, várias vozes retomam esse argumento. Seu eco chegou até a Alemanha, onde cerca de cinquenta eleitores, reunidos por meio de uma plataforma online, a "Electoral Rebellion", colocaram na urna eleitoral uma cédula simbólica com o voto de eleitores de outros países. Daniel Correa é um desses eleitores.

"Eles querem ter voz nestas eleições porque se sentem afetados pelas decisões adotadas na Alemanha, mas têm pouca influência sobre estas políticas", explica Filip Nohe, de 28 anos e membro do grupo "Egality Berlin", do qual partiu a iniciativa.

Sob supervisão internacional desde seu resgate em 2011, Portugal está imerso em um rígido regime de austeridade, regularmente examinado pela troika de seus credores (UE, FMI, BCE), mas, por trás dessas instituições, alguns acusam a Alemanha de ser a responsável.

Alguns anúncios de rádio imitavam o sotaque alemão para passar uma imagem de austeridade no final de 2012, enquanto durante uma visita de Angela Merkel, em novembro de 2012, a Lisboa, manifestantes bradaram palavras de ordem e exibiram duras caricaturas contra a chefe do governo alemão. Após se beneficiar de um primeiro plano de ajuda em 2010, a Grécia viu, o conflito social ser retomado esta semana ao anunciar um plano de reestruturação da função pública elaborado sob pressão da troika.

Leia mais notícias em Mundo

Para Yannis Panagopoulos, presidente da Confederação de Trabalhadores Gregos (GSEE), o maior sindicato do setor privado, a vitória de Angela Merkel significaria "continuar num beco sem saída da política de austeridade na Europa, que terá como resultado, sobretudo, nos países do sul, a estagnação da produção e um futuro incerto quanto à saída da crise".

Apesar de a Espanha também ser beneficiada desde junho de 2012 com um plano de resgate europeu, ao contrário de Portugal e Grécia, este está limitado a seu setor bancário, sem que haja uma supervisão global de sua economia.

Corrupção sem fim

Cansados dos escândalos de corrupção sem fim, decepcionados com os dois grandes partidos, conservador e socialista, os espanhóis voltam sua raiva para seus próprios governantes, mas a imagem da Alemanha também se deteriorou nesse país.

[SAIBAMAIS]Enquanto, em 2009, Angela Merkel estava em segundo lugar, atrás apenas de Barack Obama, em uma lista dos dirigentes mundiais mais bem avaliados, a chanceler alemã viu sua popularidade cair até o décimo lugar de treze possíveis, logo à frente de Vladimir Putin, neste termômetro publicado regularmente pelo Instituto Elcano espanhol.

Vítima da pior recessão de sua história, a Itália não precisou, contudo, de um resgate europeu. Como na Espanha, o debate público se concentra mais em sua política interna que nas eleições alemãs.

Mas no jornal de esquerda La Repubblica, o jornalista Maurizio Ricci mostrava sua preocupação por uma vitória de Angela Merkel, que "significaria austeridade geral, receio para a Europa, firme defesa dos interesses nacionais".

Com a vitória de Merkel quase assegurada, alguns países no sul da Europa preferem apostar em um reequilíbrio de forças políticas, sobretudo, levando em conta que, diante da aparente fragilidade dos liberais, seus sócios na atual coalizão, os social-democratas parecem se preparar para governar com ela.

O eurodeputado português Nuno Melo, do partido conservador CDS-PP, espera que "após as eleições, as posições alemãs fiquem mais centradas nas políticas em favor do crescimento e do emprego (...), temas que agora estão fora do discurso político alemão porque não geram créditos eleitorais".

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação