Agência France-Presse
postado em 20/09/2013 18:55
Tobor - Caranguejos correm em meio às raízes do manguezal, uma densa floresta às margens de um rio no sul do Senegal, onde um grande projeto de reflorestamento está devolvendo a vida selvagem e renovando a morna economia do país oeste-africano."Tudo o que você vê aqui foi replantado. Antes de 2006, não havia uma única árvore", afirmou o ativista ambiental e ministro de governo Haidar El Ali em Tobor, cidade próxima a Ziguinchor, a principal da região de Casamance.
Ele apontou na direção de pés de mangue presos a estacas às margens do rio Casamance, plantados por sua organização ambientalista Oceanium para estimular uma área considerada pelos especialistas como severamente esgotadas pelo desmatamento, pela seca e níveis aumentados de sal na água.
À beira da estrada que leva ao vizinho vale do Marsassoum e em volta dos arrozais, um cultivo centenário, várias espécies de mangue são abundantes. O habitat foi destruído ao longo de décadas de derrubada ilegal de florestas de mangues para fornecer lenha e madeira para construção.
"Não há nada aqui desde os 1960 e 70. Replantar é trazer o mangue de volta", afirmou Simon Diatta, líder da cidade de Diakene Diole, perto da fronteira com Guiné-Bissau, apontando para a vegetação às margens do rio. Desde 2006, o reflorestamento recuperou 12 mil hectares de mangue no Senegal - uma área maior do que a cidade de Paris -, especialmente em Casamance, mas também no norte e no centro do país, segundo números oficiais.
"Estou comovido com o sucesso extraordinário que esta iniciativa representa", disse o ministro do Desenvolvimento francês, Pascal Canfin, em visita recente a Casamance, descrevendo o programa como um "modelo para o Senegal, a África e o mundo".
"Com a volta do mangue, as pessoas estão pegando muito peixe e ostras. As mulheres os vendem e estão ganhando muito dinheiro", relatou à AFP Simon Diatta, morador de Diakene Diola. O mangue, que floresce na água salgada, é importante o comércio de produtos pesqueiros e de silvicultura.
Os alagados servem de berçário para muitas espécies marinhas, a maioria importante para a alimentação, como peixes, camarões e caranguejos. Na cidade vizinha de Diakene Ouolof, a moradora Mariama Tine disse que "tudo estava morto" antes do início do programa de replantio. "Os manguezais detinham o avanço do sal e conseguíamos recuperar os arrozais. Não havia peixes aqui antes, mas começamos a ter um monte deles, junto com ostras e mexilhões", afirmou.
O ecossistema manguezal também é vital para os cultos indígenas
O fazendeiro de um mangue de Tobor, Mamadou Faye Badji, explicou que a vegetação também é vital para os rituais de culto dos povos indígenas da região.
"Os totens de Diola ficam todos na floresta. Se a floresta não for densa o suficiente, eles não ficarão lá", explicou Badji à AFP, enquanto o Ministério da Pesca, Haidar El Ali, disse que o mangue se tornou parte da herança cultural do povo da região.
[SAIBAMAIS]Segundo um funcionário do Ministério do Meio Ambiente, apesar dos esforços o dano causado aos manguezais pelo desmatamento continua "enorme" e a luta está longe de estar ganha.
A economia do Senegal está concentrada na pesca, no turismo e na produção de amendoim, com limitados recursos minerais e uma estreita cesta de exportação.
Embora o país tenha um longo histórico de estabilidade, seu crescimento está abaixo da média no continente africano e espera-se que o reflorestamento contribua para melhorá-lo.
O projeto, no entanto, não é isento de críticas, pois alguns acreditam que a abundância de árvores de mangue se dá em detrimento da produção de arroz, uma vez que as áreas de arrozais estão cada vez mais dando lugar aos manguezais.