Erbil - Os curdos iraquianos foram às urnas neste sábado (21/9) para eleger seu parlamento regional em suas primeiras eleições em quatro anos, marcadas pelas tensões com o governo federal de Bagdá e pelos combates na vizinha síria entre curdos e jihadistas. As eleições coincidiram com um intenso debate entre os curdos, que vivem principalmente em Iraque, Síria, Turquia e Irã, sobre sua identidade nacional, sobretudo desde que o regime do presidente Bashar al-Assad perdeu o controle dos territórios curdos na Síria, em plena guerra civil.
Cerca de 2,8 milhões de curdos estavam convocados a votar nas três províncias desta região do norte do Iraque, onde foram formadas filas diante dos colégios eleitorais desde sua abertura, às 07h00 locais (01h00 de Brasília). Segundo observadores e diplomatas, a votação ocorreu sem incidentes, e foi finalizada às 17h00 locais (11h00 de Brasília). Os resultados preliminares serão divulgados nos próximos dias.
Saiba Mais
Alguns eleitores vestiam roupas tradicionais reservadas às ocasiões especiais e muitas mulheres utilizavam longas túnicas pretas enquanto aguardavam para votar. "A situação era muito ruim sob o antigo regime", disse Ghazi Ahmed, referindo-se ao ex-ditador Saddam Hussein, que perseguiu os curdos quando esteve no poder. "Mas agora a vida é melhor, estamos em uma situação boa", disse este comerciante de 56 anos. A campanha se concentrou na luta contra a corrupção, na melhoria da prestação de serviços básicos e no modo de investimento das receitas petroleiras desta região.
Nestas eleições, as primeiras desde 2009, três principais partidos disputavam os 111 assentos do parlamento curdo: o Partido Democrático do Curdistão (PDK), do presidente regional Massud Barzani, a União Patriótica do Curdistão, do presidente iraquiano Jalal Talabani (UPK), e o grupo de oposição Goran (Mudança, em curdo). O PDK, que atualmente governa com o UPK, deve receber o maior número de assentos, mas não deve alcançar a maioria sozinho. "Hoje é um dia histórico na história do povo curdo. Demos mais um passo na região para consolidar a democracia", disse o primeiro-ministro regional, Neshirvan Barzani, sobrinho do presidente.
Já o UPK, cujo líder Talabani sofreu um ataque cerebral que o mantém há meses afastado do cenário político, pode perder votos em benefício do grupo opositor Goran. Estas eleições também ocorrem em um contexto marcado pelo desejo de independência e pelo distanciamento cada vez maior das três províncias do Curdistão em relação ao governo federal.
O Curdistão, uma região rica em petróleo, quer construir um oleoduto para unir diretamente seu território aos mercados estrangeiros. No entanto, até o momento a província autônoma exporta petróleo em caminhões em direção à vizinha Turquia e assinou acordos de cooperação com companhias estrangeiras, como Exxon Mobil e Total. Também se aproveita de um crescimento econômico muito superior ao do resto do país.
O governo central de Bagdá considera que estas exportações de petróleo são de contrabando e que os contratos assinados com companhias petroleiras estrangeiras sem o acordo do ministério federal são ilegais. O Curdistão e o Estado federal também divergem sobre a soberania da região de Kirkuk, rica em petróleo, que os curdos querem incorporar ao seu território.