Berlim - Após sua vitória nas eleições legislativas, a chanceler conservadora alemã Angela Merkel, privada de seu aliado liberal e de uma maioria absoluta, estendeu a mão nesta segunda-feira (23/9) aos adversários sociais-democratas para formar um governo de coalizão. Merkel é obrigada a se aliar ao partido social-democrata (SPD), ou aos Verdes, para formar uma maioria no Bundestag (câmara baixa do Parlamento federal), apesar do resultado histórico para os conservadores (CDU/CSU) nas eleições de domingo (22/9).
"Estamos abertos para levar adiante discussões (...). Tive um primeiro contato com o presidente do SPD", Sigmar Gabriel, declarou Merkel. Mas este último pediu para falar primeiro com a direção do SPD, na sexta-feira, segundo a chanceler, que classificou isso como compreensível. Com 41,5% dos votos e 311 assentos de um total de 630, os conservadores da chanceler registraram seu melhor resultado desde a reunificação alemã, em 1990, faltando pouco para conquistarem a maioria absoluta, que não é atingida na Alemanha desde o chanceler Konrad Adenauer, em 1957.
Seus aliados liberais democratas do FDP ficarão de fora do Bundestag depois de não alcançarem 5% dos votos, o mínimo exigido, a primeira vez em 65 anos. Restam, assim, dois parceiros possíveis: o SPD (25,7%, 192 assentos) e os Verdes (8,4%, 63 assentos). Merkel espera uma conclusão rápida das negociações. "Isso levará um certo tempo, (mas) o CDU está pronto a realizar discussões e ficaremos bem", indicou.
Em média, as negociações pós-eleitorais para formar um governo na Alemanha duram cerca de um mês. No entanto, na grande coalizão anterior, em 2005, levaram dois meses e quatro dias para serem concluídas. Após uma bem-sucedida cooperação do governo com o SPD em seu primeiro mandato (2005-2009), é natural que a chanceler privilegie os sociais-democratas.
"Merkel não teria muita dificuldade em encontrar um compromisso sobre o salário mínimo, as aposentadorias e impostos" com o SPD, de acordo com o jornal Die Zeit. Mas o SPD, que foi politicamente a maior vítima da última "grande coalizão", promete vender caro seu apoio. A secretária-geral do SPD, Andrea Nahles, advertiu nesta segunda-feira que "não há automaticidade" para a formação de uma "grande coalizão", enquanto a vice-presidente do partido, Manuela Schwesig, disse que um acordo "parece muito complicado, dadas as questões que defendemos".
Maioria matemática dos partidos de esquerda
Merkel também deixou a porta aberta para futuros contatos com os Verdes, mesmo se esta aliança for considerada "a priori pouco provável" por Ulrich von Alemann, cientista político da Universidade de Düsseldorf. "A resistência de ambos os lados é muito forte. O fosso é muito grande" entre as duas partes, considerou o jornal Süddeutsche Zeitung (SZ), como a maioria dos comentaristas. As negociações "seriam certamente muito difíceis", reconheceu, por sua vez, Volker Kauder, líder do grupo parlamentar CDU, próximo da chanceler.
As negociações poderiam ser particularmente tensas com o CSU, ramo bávaro e muito conservador do CDU, cuja filosofia parece pouco compatível com a cultura libertária dos ecologistas. O CSU tinha obtido, por exemplo, a criação de um prêmio às donas de casa na legislatura anterior, em desacordo com as posições sociais dos Verdes.
O CDU deve, em todo caso, conviver com a pressão de uma maioria matemática de partidos de esquerda em ambas as Casas do Parlamento (Bundestag e Bundesrat). A formação SPD-Verdes associada ao radical Die Linke de esquerda obteve 319 das 630 cadeiras no Bundestag. Se houver aliança, seriam capazes de, a qualquer momento, derrubar Angela Merkel. O SPD, como os Verdes, sempre rejeitaram essa possibilidade, dizendo que o Die Linke não é "maduro" para governar.