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Al-Qaeda na África: objetivos comuns sem organização centralizada

Embora não exista no continente africano, existe um arco de terror unificado do Sahel ao Chifre da África, afirmam especialistas

Agência France-Presse
postado em 26/09/2013 16:14
Os grupos islâmicos armados vinculados à rede Al-Qaeda na África podem, eventualmente, cooperar e aproximar posições, embora não exista no continente africano, existe um arco de terror unificado do Sahel ao Chifre da África, afirmam especialistas.

Até agora, a Al-Qaeda no Magreb Islâmico (AQMI), na região do Sahel, o Boko Haram, na Nigéria, e os shebab somalis, responsáveis pelo ataque contra o shopping Westgate de Nairóbi, compartilham a mesma ideologia, mas raramente têm meios e objetivos concretos.

"Nada seria mais falso do que amalgamar o horror de Nairóbi com outras explosões de violência jihadista no continente africano", disse à AFP Jean-Pierre Filiu, professor da prestigiosa Sciences-Po Paris. "Cada um desses grupos tem suas próprias prioridades, que o terrorismo com um forte impacto midiático lhes permite valorizar", completou. "Não existe nenhuma unidade de operações, nem uma direção coordenada, simplesmente o mesmo registro já comprovado de propaganda jihadista", acrescentou o analista.

O intercâmbio de armas e de material, difícil de diferenciar na região das clássicas redes de contrabando, aconteceu entre AQMI e Boko Haram, geograficamente próximos. Alguns jihadistas nigerianos foram treinados nos campos da AQMI, embora isso não seja suficiente para unificar esses movimentos, de acordo com especialistas na região.

Em relação aos shebab, é no Ocidente, sobretudo na diáspora somali na Europa e nos Estados Unidos, que eles buscam voluntários para a jihad mundial, fundos econômicos e apoios. Nenhum elemento leva a crer, por enquanto, que os shebab cooperem com algo além de palavras com as outras duas organizações.



Já a especialista Valentina Soria, do londrino Royal United Services Institute, acredita que os chefes históricos da Al-Qaeda no Paquistão e no Afeganistão tendem a ver no arco africano uma terra de expansão crucial - em especial quando se encontram em declive, obrigados a escapar dos disparos dos aviões não tripulados americanos (os chamados "drones").

"Como os líderes da Al-Qaeda central estão enfraquecidos e sendo perseguidos, o movimento terrorista busca no Saara e na África subsaariana colaboradores que lhes permitam se reagrupar e recuperar as forças", escreveu Soria, em um informe intitulado "A jihad global na África". "Depois de guardar fidelidade à Al-Qaeda, movimentos como a AQMI e os shebab adotaram estratégias, táticas e esforços de propaganda similares", acrescentou.

Para o americano Robert Rotberg, da Kennedy School of Government de Harvard, há um vínculo entre as três organizações: a transferência de fundos organizada pelos chefes da Al-Qaeda. "São claramente movimentos nacionais e regionais", disse Rotberg à AFP. "Mas compartilham fundos enviados pela Al-Qaeda central, motivo pelo qual se veem obrigados a estar a par do que os outros fazem e de cooperar até um determinado ponto. Devem existir intercâmbios em matéria de fabricação de bombas, por exemplo (...) Estão unidos por seu objetivo islamita, mas os chefes locais são tão poderosos que não se pode considerá-los como um movimento unificado", completou.

O Exército americano é mais alarmista. Washington dispõe, na Alemanha, de um "comando africano" (o "Africom") encarregado de vigiar a região, enviar forças especiais para diferentes lugares e treinar os Exércitos dos países aliados contra o terrorismo.

Em uma intervenção em Washington, no Centro de Estudos Estratégicos da África, o comandante do Africom, general Carter Ham, declarou: "os shebab, AQMI, Boko Haram, cada uma dessas organizações é uma perigosa ameaça".

"O que me preocupa realmente é que temos indícios que levam a pensar que tentam coordenar e sincronizar seus esforços", admitiu.

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