Agência France-Presse
postado em 27/09/2013 17:13
O governo espanhol aprovou nesta sexta-feira (27/9) os orçamentos gerais do Estado para 2014, apoiados no fim da recessão, mas sem renunciar a seus esforços de austeridade, que continuam sendo necessários para continuar saneando as contas."São orçamentos responsáveis e realistas com os quais se busca equilíbrio entre a necessária austeridade e o estímulo de recuperação", explicou a ministra porta-voz do governo, Soraya Saénz de Santamaría após a aprovação destas contas do conselho semanal de ministros.
A quarta economia da zona do euro deve sair de seus dois anos de recessão no terceiro trimestre, com um crescimento previsto de entre 0,1 e 0,2%.
Após ter resistido, em 2012, à pressão dos mercados, que queriam um resgate como o da Grécia ou Portugal, a Espanha pode se permitir agora melhorar suas previsões econômicas, apostando em um crescimento de 0,7% em 2014, frente a 0,5% previsto anteriormente, apesar de o PIB ainda deve cair 1,3% este ano.
No que se refere ao desemprego, o principal problema da economia, com uma taxa de 26,3%, as perspectivas parecem um pouco melhores com 26,6% no final de 2013 (frente os 27,1% esperados até agora) e 25,9% em 2014 (26,7% antes).
"São os primeiros orçamentos da recuperação econômica", afirmou o ministro da Fazenda, Cristóbal Montoro, enquanto o seu colega da Economia, Luis de Guindos, se mostrou mais prudente, afirmando que se trata de "uma recuperação muito pequena, ainda frágil, mas que está aí".
"O ano de 2014 marca um ponto de virada importante em relação ao que vivemos desde 2008", ano do começo da bolha imobiliária, ao mesmo tempo em que começava a crise financeira internacional, disse De Guindos.
Segundo o ministro, a Espanha deve voltar a criar empregos no segundo semestre de 2014.
"A Espanha assumiu os ensinamentos do passado, sabemos aonde vamos, temos um plano, determinação para cumpri-lo e uma maioria que nos apoia", afirmou nesta quinta-feira em Nova York o chefe do governo espanhol, Mariano Rajoy, afirmando que "a Espanha voltou e veio para ficar".
Atingida por duas recessões em cinco anos, o país se transformou no laboratório da Europa para experimentar os efeitos de uma austeridade extrema e a aplicação de reformas em todos os âmbitos (mercado de trabalho, setor bancário, aposentadorias) para sanear a economia.
A fórmula, socialmente amarga de 150 bilhões de euros de economia programado entre 2012 e 2014, parece dar seus frutos, mas o país continua apertando os cintos para reduzir seu déficit público a 6,5% do PIB em 2013 e a 5,8% em 2014.
Desta forma, para o próximo ano, os orçamentos dos Ministérios serão reduzidos 4,7%, apesar de aumentar os valores destinados a bolsas, pesquisa e desenvolvimento, cultura e habitação.
Neste programa de austeridade, funcionários públicos e aposentados são os principais afetados e "perderão poder aquisitivo", denunciou o sindicato UGT em um comunicado, em que afirma que esses orçamentos "não são os da recuperação, mas sim os da continuidade de uma política econômica que insiste nos cortes".
Os 2,6 milhões de funcionários terão seus salários congelados pelo quarto ano consecutivo, uma decisão muito criticada pelo sindicato CSI-F. Para o sindicato, "o governo prolonga a recessão aos funcionários públicos", que já sofreu "mais de 30% de perda de poder aquisitivo" em cinco anos.
Os mais de 9 milhões de aposentados espanhóis serão também um pouco mais afetados pela aposta na austeridade com uma reforma aprovada nesta sexta-feira, que desvincula suas aposentadorias do ritmo de inflação.
Esta indexação era "a única forma de manter sua capacidade de compra", lembrou UGT, que calculou que "nos próximos 10 anos, com estimativas prudentes, a reforma do Governo fará que os aposentados perder entre 20% e 28% de seu poder aquisitivo".
"A reforma das aposentadorias é desnecessária e inoportuna", opina outro grande sindicato do país, o CCOO, que avalia a perda de poder aquisitivo entre 14,8% e 28,3% em quinze anos.
O governo afirma, ao contrário, que seu novo método de cálculo, segundo uma fórmula complexa que inclui um "fator de sustentabilidade" do sistema, garanta mais poder aquisitivo.
"O gasto em aposentadorias aumentará acima de 4% em 2014", prometeu Montoro nesta sexta-feira (27/9).