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Autoridades gregas prendem líder de partido neonazista do país

Prisão ocorreu dez dias depois do assassinato de músico antifascista por um membro deste partido

Agência France-Presse
postado em 28/09/2013 08:38
Atenas - As autoridades gregas prenderam neste sábado o líder histórico e vários deputados do partido neonazista Aurora Dourada, dez dias após o assassinato de um músico antifascista por um membro deste partido. A operação coincide com as negociações da Grécia para obter um novo pacote de ajuda para sua economia em crise e a poucos meses do país assumir, em 1; de janeiro, a presidência rotativa da União Europeia.

A polícia antiterrorista grega prendeu no início desta manhã o líder e deputado do Aurora Dourada, Nikos Michaloliakos, fundador do partido em 1980, assim como outros três deputados da formação neonazista (de um total de 18), incluindo seu porta-voz Ilias Kassidiaris. Segundo fontes judiciárias, a justiça considera o partido uma "organização criminosa". Os detidos também são acusados de violência física e morte.

Doze membros do partido também foram detidos em várias regiões do país. A operação deve conduzir à novas prisões porque há trinta mandatos de prisão emitidos pela Suprema Corte contra militantes ou deputados do Aurora Dourada.

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Em seu site, o partido neonazista convocou uma manifestação para protestar contra uma "decisão ilegal". Algumas centenas de simpatizantes do Aurora Dourada se reuniram em frente às delegacias onde estão os suspeitos. "A democracia tem seus meios de se defender", advertiu o porta-voz do governo, Simos Kédikoglou, à televisão Ska;, poucos minutos após a prisão.

O assassinato do jovem músico antifascista, Pavlos Fyssas, de 34 anos, na periferia de Atenas por um membro do Aurora Dourada gerou comoção em todo o país. A polícia grega, acusada de passividade frente ao Aurora Dourada, partido suspeito de estar por trás de ataques contra imigrantes, intensificou nos últimos dias as operações contra os neonazistas.

No início da semana, alguns oficiais da polícia foram suspensos ou demitidos por não investigarem a presença de armas em escritórios da organização neonazista. Desde a morte do músico, a imprensa grega multiplica suas revelações contra o Aurora Dourada, que teria ligações com empresários e as Forças Armadas, e testemunhas descrevem com precisão o funcionamento da organização. Paralelamente, a Suprema Corte realiza investigações e reúne provas para caracterizar o Aurora Dourada como "uma organização criminosa".

Dezenas de testemunhas - jornalistas, ex-membros do partido, eleitos, líderes sindicais ou de associações - foram ouvidos pelo tribunal. A pedido do governo, os juízes reabriram várias investigações sobre mais de trinta crimes imputados a membros do Aurora Dourada nos últimos meses. Desde outubro de 2011, cerca de 300 casos de abuso e violência contra estrangeiros que vivem na Grécia foram registrados e documentadas pela rede antirracista Dyktio e associações de direitos humanos. "Estamos satisfeitos que o movimento antifascista e antirracista conseguiram obrigar o primeiro-ministro Antonis Samaras e o ministro da Ordem Pública Nikos Dendias realizar as prisões", reagiu a associação Keerfa, pilar da luta contra o racismo, acusando os dois líderes políticos de "há muito tempo protegerem a ação de neonazistas". Milhares de gregos manifestaram na quarta-feira contra o fascismo no país.

Discípulo dos ditadores militares gregos

Nikos Michaloliakos é um ex-discípulo dos ditadores militares gregos dos anos 1960. Apelidadeo pela imprensa de "Führer grego", o líder da Chryssi Avghi (Aurora Dourada), teve a influência do ex-ditador coronel George Papadopulos. Michaloliakos cumpriu duas condenações de prisão em 1976 e 1978 por atos de violência, penas que o levaram a ser expulso do exército onde estava para ser promovido a tenente.

Nomeado por Georges Papadopulos durante a ditadura para a direção da ala jovem do partido de extrema-direita EPEN, Michaloliakos fundou o partido Aurora Dourada em 1980 e desde esse ano se manteve à cabeça do movimento. Durante anos, o partido glorificou Adolfo Hitler, qualificado de "visionário da nova Europa", segundo um texto do movimento, que segue a linha do ditador fascista da pré-guerra, Ioannis Metaxas.

Com o passar dos anos, Michaloliakos adaptou a retórica de seu partido e se concentrou num duplo combate: contra a imigração e contra a austeridade exigida pelos credores internacionais da Grécia. Até a explosão da crise grega, a Chryssi Avghi era apenas um grupúsculo semiclandestino que obteve um resultado inferior a 1% durante as eleições de 2009, que não garantiu uma vaga no parlamento.

Mas o movimento começou a ascender quando seu adversário de extrema-direita, Laos, se posicionou a favor da política de austeridade. Nikos Michaloliakos foi eleito vereador por Atenas em 2010 e não esconde sua ideologia, chegando a falar ante as televisões que Hitler é uma "importante figura histórica do século XX" e que o Holocausto foi uma mentira.

Em 2012, foi eleito deputado junto com sua esposa Eleni Zaroulia, dona, segundo a imprensa local, de um bordel na capital grega. Segundo ela, os imigrantes são "sub-humanos que invadiram a Grécia e a contaminaram com todas as doenças que carregam".

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