Agência France-Presse
postado em 01/10/2013 14:16
Sarajevo - Os bósnios muçulmanos, principal comunidade da Bósnia, hesitam entre declarar a que nacionalidade ou religião pertecem no censo que será realizado de 1 a 15 de outubro, o primeiro após a guerra da independência de 1992-1995.Esta contagem da população permitirá que esta ex-república iugoslava conheça seu número de habitantes (estimado em 3,8 milhões), anos depois de um conflito que deixou cerca de 100 mil mortos e mais de dois milhões de refugiados e deslocados.
[SAIBAMAIS]Em um país marcado pelas divisões étnicas, este procedimento originou campanhas, sobretudo por parte da comunidade muçulmana, para encorajar os habitantes a declarar seu pertencimento étnico e religioso acima do nacional, uma questão que não é feita para os sérvios e os croatas da Bósnia.
Mas os muçulmanos da Bósnia estão envolvidos na confusão de se declararem bósnios - cidadãos da Bósnia -, ou bosniaks - um termo imposto aos muçulmanos pelas elites durante o conflito. "Nós bosniaks diremos que somos bosniaks", afirmava nesta terça-feira em sua primeira página o jornal Dnevni Avaz, citando o grande mufti, Hussein Kavazovic.
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"Na antiga Iugoslávia, eu me declarava iugoslavo. Agora, diria que sou bósnio, ou seja, um cidadão da Bósnia sem pertencimento étnico, e de confissão muçulmana", afirmou, por sua vez, Kemal Besic, habitante de Sarajevo de 57 anos.
O último censo na Bósnia ocorreu em 1991, quando ainda formava parte da Federação Iugoslava, e então contava com 4,4 milhões de habitantes, 43,5% dos quais eram muçulmanos, 31,2% sérvios e 17,4% croatas.
As campanhas de limpeza étnica durante a guerra transformaram a demografia do país e, ao término do conflito, a república ficou dividida em duas entidades, uma sérvia e outra croato-muçulmana.
A Constituição local, imposta pelos acordos de paz, concede aos três povos "constitutivos" - sérvio, croata e bosniaks (muçulmanos) - os mesmos poderes políticos, independentemente do número de habitantes, explicou o sociólogo Asim Mujkic.
O analista político Enver Kazaz considerou que, independentemente do resultado do censo, a estrutura monstruosa do Estado atual "só poderá mudar com uma nova conferência internacional (...) ou com outra guerra sangrenta".