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Secretário do partido de Berlusconi pede apoio a governo de Letta

Berlusconi insiste em derrubar o governo italiano de coalizão

Agência France-Presse
postado em 01/10/2013 19:51
RRoma - O número dois do partido de Silvio Berlusconi, Angelino Alfano, pediu apoio ao governo do socialdemocrata Enrico Letta, o que significa uma grave traição por parte do sucessor político de "Il Cavaliere". Berlusconi insiste em derrubar o governo italiano de coalizão.

Letta está disposto a superar na quarta-feira o voto de confiança do Parlamento, depois que vários dirigentes do partido de Berlusconi desaprovaram na terça o ultimato dado por seu líder ao governo de coalizão.

"Estou firmemente convencido de que todo partido deve votar na quarta-feira a confiança ao governo presidido por Letta", declarou Alfano, vice-primeiro-ministro e ministro do Interior do governo de coalizão de centro-direita.

Alfano também é o número dois do Povo da Liberdade (PDL), partido fundado pelo magnata das comunicações.

Essa é a primeira vez que o chamado sucessor de Berlusconi, de 42 anos, rebela-se contra o líder máximo, que deflagrou uma crise interna ao ordenar a renúncia de cinco ministros de seu partido no último sábado.

Segundo a imprensa italiana, que cita fontes do governo, Letta se negou a aceitar a renúncia dos cinco ministros.

[SAIBAMAIS]A jogada política de Berlusconi, de 77, irritou uma ala de seu próprio partido e seus ministros, que souberam por telefone que deveriam entregar os cargos. Temendo ficar de fora do Parlamento, Berlusconi espera evitar a humilhação de uma votação no Senado que possa implicar sua prisão domiciliar.

Em carta dirigida à revista "Tempi", Berlusconi reiterou sua vontade de "derrubar o governo de Letta", o qual acusa de não tê-lo protegido diante de seus problemas com a Justiça.

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À noite, ao término de uma reunião com alguns dirigentes do PDL, Berlusconi voltou a pedir a seus parlamentares que não deem seu voto de confiança a Letta. Nenhum dos cinco ministros estava presente.

A Bolsa de Milão fechou com alta de mais de 3%, reflexo do desejo de investidores e sócios europeus da Itália de que o governo supere a votação com sucesso.

As divisões dentro do partido de Berlusconi continuavam aflorando nesta terça, depois da reação inesperada de rejeição a sua decisão de retirar seu apoio ao governo de coalizão nacional, apenas cinco meses depois de sua formação.

"Somos muitos, mais de 40. E estamos decididos a não deixar o governo cair. Por esse motivo, daremos nosso voto de confiança a Letta", declarou o senador Carlo Giovanardi, outra liderança do PDL.

Desertores, dissidentes e traidores

Entre 20 e 40 dissidentes, segundo a imprensa italiana, devem anunciar sua confiança no governo. Letta precisa de 161 votos no Senado para obter a confiança. Ele teria pelo menos 140 votos garantidos até o momento, de acordo com os jornais. As negociações seguem nos bastidores para obter o apoio de dissidentes e de senadores vitalícios.

Já Berlusconi chegou a convocar amigos e desertores a sua residência em Roma, o Palazzo Grazioli, onde as reuniões se multiplicaram.

"Derrubar o governo é um erro. É preciso levar em conta a situação internacional e europeia", protestou o deputado de direita Fabrizio Cicchitto, entre as figuras conhecidas por sua lealdade a Berlusconi.

A ruptura é tão clara que a imprensa passou a publicar a lista de "falcões", os extremistas a favor da crise, e das "pombas", os moderados aliados do governo.

A eventual traição a Berlusconi, conhecido por sua astúcia e capacidade para angariar apoio, prometendo cargos, emprego e sonhos, pode ser histórica e determinar o fim de seus 20 anos de reinado como líder indiscutível da direita.

Para o ex-parlamentar do PDL Giorgio Stracquadanio, Berlusconi "perdeu a lucidez" e acredita que, sem imunidade, pode terminar na prisão pelos processos que pesam contra ele - abuso de poder, prostituição de menores e corrupção de um senador.

"Perdeu o rumo", diz o editorialista do jornal econômico Il Sole 24 Ore Stefano Folli. Ele adverte que a instabilidade política da Itália também recai "sobre sua vida, seu império, seus amigos e sua família".

"Os italianos têm outros problemas para ficar desperdiçando energia em jogos políticos", comentou a aposentada Sandra Corvi, entrevistada em Roma pela AFP-TV.

Letta apresentará no Parlamento um programa econômico e social até 2015 para dar estabilidade à Itália, terceira economia da zona euro. O país está mergulhado em uma forte recessão econômica, com um desemprego de 12,2% que afeta 40% dos jovens.

A incerteza política da Itália também ameaça reabrir a crise do euro, já que o prêmio de risco subiu nesses dias diante a crise de governabilidade.

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