Agência France-Presse
postado em 03/10/2013 11:04
Atenas - O líder do partido neonazista grego ;Aurora Dourada;, Nikos Michaloliakos, foi colocado nesta quinta-feira (3/10) em prisão preventiva após prestar depoimento a um juiz de Atenas, anunciou a agência grega ANA. Michaloliakos é acusado de "dirigir uma organização criminosa", no momento em que as autoridades gregas se esforçam para silenciar o partido neonazista, após o assassinato de um rapper antifascista por um membro do ;Aurora Dourada;.[SAIBAMAIS]Segundo a imprensa grega, os juízes também decidiram manter a prisão de um dirigente local do ;Aurora Dourada;, acusado de envolvimento no assassinato do rapper Pavlos Fyssas. Quatro deputados do partido neonazista foram denunciados na quarta-feira por participação "em organização criminosa": três estão sob liberdade condicional e o quarto, Yannis Lagos, em prisão preventiva. Yannis Lagos também é acusado de envolvimento na morte do rapper Fyssas. Os deputados Ilias Kasaidiaris, Nikos Michos e Ilias Panagiotaros - os três em liberdade condicional - estão proibidos de sair do país.
O grupo em liberdade condicional saiu sorrindo do Palácio da Justiça, após mais de 14 horas de depoimentos, e um dos deputados gritou para os jornalistas: "vamos desmontar estas acusações, vocês são lacaios". A morte de Fyssas chocou a Grécia e as autoridades passaram à ofensiva contra o ;Aurora Dourada (Chryssi Avghi, em grego), após anos de impunidade e atos de violência contra imigrantes e militantes de esquerda. Testemunhos de ex-membros do Aurora Dourada e um relatório judicial, publicado na segunda-feira, revelaram inúmeras "ações criminosas" do partido neonazista grego, incluindo operações coordenadas para espancar imigrantes paquistaneses.
O partido neonazista criou "milícias de assalto" que nos últimos anos atacaram principalmente imigrantes paquistaneses, revelou o subprocurador Charalambos Vourliotis. "Eu participei várias vezes em ações que envolveram entre 50 e 60 motos, com duas pessoas em cada uma. Quem estava na garupa carregava uma vara com a bandeira grega e batia em todos os paquistaneses que conhecia", relatou um dos ex-militantes, citado no relatório. O partido tem uma "estrutura estritamente hierárquica, o líder é todo-poderoso segundo o princípio de Hitler, o Führerprinzip. (...). O Aurora Dourada começou seus ataques em 1987, inicialmente contra imigrantes e mais tarde contra gregos".
O relatório afirma ainda que este partido, "cujos membros seguem um treinamento em estilo militar, principalmente na região da Ática (...) cometeu dezenas de ações criminosas", incluindo dois homicídios voluntários, três tentativas de homicídio e numerosos ataques contra imigrantes. "O fenômeno mais preocupante é o recrutamento de menores para formar organizações de jovens militantes". De acordo com os dois ex-militantes, colocados pela justiça sob "status de testemunhas protegidas", "nas sedes do partido havia punhais, bastões e facas". Trinta e dois mandatos de prisão foram emitidos pela Suprema Corte no comando das investigações envolvendo o Aurora Dourada.
Depois de anos de tolerância em relação aos neonazistas, o Governo se comprometeu em apresentar ao parlamento um projeto de lei antirracista que incriminasse diretamente os atos xenófobos e nazistas. Elaborado inicialmente pelos socialistas e a esquerda, o projeto de lei foi torpedeado então pelos conservadores. O Aurora Dourada, que se beneficia do descrédito da classe política e de uma grave crise econômica e financeira no país, entrou pela primeira vez no parlamento depois das eleições de junho de 2012.
Depois do assassinato de Fyssas, várias pesquisas mostraram uma perda de apoio a essa formação, apesar de se manter em terceiro lugar, atrás da Syriza (esquerda radical) e Nova Democracia (ND, do primeiro-ministro Samaras). A ação das autoridades gregas contra a Aurora Dourada acontece quando a Grécia se prepara para assumir, no próximo 1o. de janeiro, a presidência de turno da União Europeia (UE) e continuam as discussões com os credores internacionais (UE, FMI, BCE) para desbloquear uma nova entrega de ajuda de um bilhão de euros a Atenas.