Agência France-Presse
postado em 07/10/2013 19:34
O futebol italiano, que há anos vem enfrentando problemas de racismo em seus estádios, passou a adotar medidas mais drásticas nesta temporada, fechando quatro vezes setores das arquibancadas normalmente ocupados por torcedores mais fanáticos.Mesmo assim, as ofensas continuam. No último domingo, os ;tifosi; do Verona, que já se envolveram em diversos incidentes racistas, desrespeitaram o minuto de silêncio em homenagem ao naufrágio que matou 232 pessoas de perto da Ilha de Lampedusa. Os torcedores entoaram um canto fúnebre com ironia, chocando as autoridades italianas e manchando a imagem do ;Calcio;.
Os dois clubes da capital (Lazio e Roma) e os dois de Milão (Inter e Milan) já tiveram que disputar partidas sem o apoio dos setores das arquibancadas que costumam receber os mais agressivos.
Entre os incidentes registrados constam xingamentos contra o atacante negro Mario Balotelli, do Milan, gritos de macaco direcionados a Paul Pogba ou a Kwadwo Asamoah, da Juventus, ou cantos anti-napolitanos ("Vesúvio, acabe com eles", em referência ao vulcão da região de Nápoles).
Na próxima ocorrência desse tipo, estes clubes terão que disputar partidas de portões fechados, de acordo com instruções da Uefa aplicadas pela Federação Italiana (FIGC).
As autoridades também iniciaram uma cruzada contra faixas com mensagens ofensivas. Desde 2007, é preciso pedir autorização para levar uma faixa, mas os torcedores ;driblaram; o regulamento ao entrar no estádio com pequenos pedaços de pano com parte da mensagem, que são em seguida costurados nas arquibancadas.
A Lazio, que divide com o Verona o lamentável título de torcida mais racista da Itália, terá que disputar uma partida de Liga Europa de portões fechados, o que já aconteceu na temporada passada nas oitavas e nas quartas de final da competição, dando prejuízo tanto financeiro quanto esportivo ao clube.
"Uma péssima imagem da Itália"
De acordo com Mauro Valeri, sociólogo e diretor do Observatório sobre o Racismo no ;Calcio;, "não é por acaso que a Lazio integra a lista negra da Uefa.
Já o presidente do clube, Claudio Lotito, considera o contrário, que seus torcedores estão sendo perseguidos e "criminalizados". O dirigente alega que, antes da partida que levou a Uefa a suspender a Lazio, ;hooligans; do Legia Varsóvia "saquearam a cidade", enquanto o time italiano foi condenado por causa de "alguns torcedores ;laziali; que xingaram poloneses". "Com estes critérios, todos os estádios deveriam estar fechados", ironizou.
Valeri rebateu ao sugerir que Lotito "entre em acordo com a Uefa sobre uma linha comum, ao invés de se defender das acusações". "É preciso isolar os culpados e impedi-los de entrar nos estádios. O problema é que na Itália existe um conluio entre times e torcedores", acusou.
Esses incidentes ocorrem "em um país onde o senador da Liga do Norte Roberto Calderoli chamou publicamente a ministra da integração Cecilia Kyenge de orangotango", lembrou a revista Sportweek, do jornal Gazzetta dello Sport, em matéria especial sobre racismo no ;Calcio;.
O técnico da seleção italiana, Cesare Prandelli, declarou recentemente à AFP que "incidentes racistas em estádios dão uma péssima imagem da Itália à Europa. É preciso envolver os jovens, para que eles possam crescer com uma cultura diferente do futebol. Para os adultos, já é mais complicado", lamentou.
"Se de 50.000 pessoas 49.999 juntas vaiam aquela que foi culpada de atos racistas, pode dar certo. Por outro lado, se cem pessoas dizem o que querem, sem filtro, e ninguém reage, não vamos a lugar algum. Mesmo assim, não acho que a Itália seja um país racista", completou Prandelli.
O volante Daniele De Rossi, jogador emblemático da Roma condenou a ignorância de alguns torcedores. "O insultos racistas são horríveis, mas quantos entre aqueles que cantam esses hinos nos estádios são realmente racistas e não apenas ignorantes. Eles fazem isso para desestabilizar o jogador e fazer graça sobre assuntos que não são engraçados. O problema é que a ignorância nunca vai parar, assim como o racismo", lamentou.