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Líderes italiano e europeu são recebidos com vaias na ilha de Lampedusa

O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, e o chefe do governo italiano, Enrico Letta, foram recebidos aos gritos de "vergonha" e "assassinos"

Agência France-Presse
postado em 09/10/2013 12:00
Lampedusa - Os moradores de Lampedusa receberam nesta quarta-feira (9/10) com vaias e aos gritos de "assassinos" o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, e o chefe do governo italiano, Enrico Letta, que visitaram a ilha italiana diante da qual morreram centenas de imigrantes ilegais africanos. "Vergonha", "Assassinos", gritaram os moradores no aeroporto, agitando fotografias dos imigrantes na direção de Barroso e Letta.

Enrico Letta (D) e José Manuel Barroso (E) durante visita a Lampedusa
Os dois líderes viajaram acompanhados da Comissária Europeia de Assuntos de Interior, Cecilia Malmstrom, e do vice-primeiro-ministro e ministro do Interior da Itália, Angelino Alfano. "Deveriam estar envergonhados de si mesmos! Têm que resolver este problema humanitário", disse um dos manifestantes. "Vivemos isso há 20 anos. Mortos em número suficiente! Pesam na consciência dos políticos italianos e europeus", bradou outro.

Mais de 300 imigrantes morreram na semana passada no naufrágio de seu barco perto da costa da ilha, que recebe um grande número de imigrantes ilegais. "A Europa está com os habitantes de Lampedusa. O problema de um de nossos países, a Itália, deve ser encarado como um problema de toda a Europa. A Europa não pode olhar para o outro lado", declarou Durão Barroso em uma coletiva de imprensa conjunta com o primeiro-ministro italiano na ilha.

"Na Europa, este tipo de incidentes não deveria ocorrer, é preciso se esforçar mais. Isto exige uma maior cooperação entre todos os Estados membros", disse Barroso. Letta, por sua vez, declarou que "este drama é um drama europeu", antes de anunciar funerais de Estado para as mais de 300 vítimas do naufrágio ocorrido na última quinta-feira.



[SAIBAMAIS]O ambiente é tenso nesta ilha de menos de seis mil habitantes pela situação dos imigrantes, amontoados em um centro de acolhida onde mil pessoas vivem em um espaço reservado para 250, e pela ira da população local, esmagada com o afluxo maciço de imigrantes ilegais. Os pescadores de Lampedusa, indignados, assim como o resto da população, soaram as sirenes de seus barcos para "fazer com que seu mal-estar seja ouvido".

Diante destes sinais de descontentamento, os líderes italianos e europeus mudaram sua programação na última hora para visitar o centro de acolhida. Uma visita que a prefeita de Lampedusa, Giusi Nicolini, descreveu como indispensável para "ver de perto a imensa tragédia vivida pela ilha. As condições são inaceitáveis, é uma vergonha, há tantas crianças. Tentamos ajudar, mas não temos os meios", declarou um morador da ilha.

Barroso anunciou o desbloqueio de 30 milhões de euros para que a Itália renove estes centros diante da crescente chegada de imigrantes e reconheceu que é preciso fazer muito mais. A delegação também homenageou os falecidos - em sua maioria eritreus - diante dos caixões com os corpos recuperados no mar e alinhados em um hangar. "São imagens que nunca esquecerei", disse Barroso. Enquanto isso, os mergulhadores italianos continuavam com os trabalhos de recuperação de corpos. Até o momento, 296 vítimas fatais puderam se transferidas para terra firme e apenas 155 dos 500 passageiros foram resgatados com vida.

Corpo de vítima de naufrágio é carregado por equipe de resgate italiana
Cecilia Malmstrom repetiu nesta quarta-feira que os Estados membros da União Europeia (UE) colocarão em andamento uma ampla operação de segurança e resgate de imigrantes no Mar Mediterrâneo. O vice-diretor da Frontex, a agência de vigilância das fronteiras europeias, anunciou o desbloqueio de dois milhões de euros adicionais para a Itália, "dando prioridade em relação a outras missões", em uma entrevista a meios de comunicação locais. "Devemos abrir caminhos para uma migração mais regular", acrescentou a Comissária Europeia, que citou a criação de vistos humanitários e a possibilidade de reivindicar asilo de um terceiro país de fora da UE.

Quanto ao asilo, os Estados do norte da Europa se opuseram a modificar o acordo de Dublin, através do qual os imigrantes devem permanecer no primeiro país em que chegam enquanto seu pedido de asilo é analisado. Barroso lembrou aos italianos que de um total de 100.000 demandas registradas em 2012, 70% são tratadas em cinco países: Alemanha, França, Suécia, Reino Unido e Bélgica.

O presidente do Senegal, Macky Sall, declarou durante uma coletiva de imprensa no Parlamento Europeu que a Europa não pode viver "mobilizando barcos que patrulhem e satélites" para vigiar a costa. "É uma ilusão, de todas as formas as pessoas entrarão na Europa", disse. No Vaticano, o papa Francisco expressou nesta quarta-feira sua simpatia para com os bispos das Igrejas do Chifre da África "que perderam tantos de seus filhos" na tragédia.

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