Mundo

Cidade natal de Malala está desapontada com escolha do Nobel da Paz

A jovem de 16 anos era uma das favoritas para levar o Nobel da Paz, depois de ter sobrevivido a uma tentativa de assassinato do grupo talibã por liderar uma campanha internacional pelo direito de todas as crianças frequentarem a escola

Agência France-Presse
postado em 11/10/2013 11:39
Malala Yousafzai é fotografada durante lançamento do livro  - Amigos e simpatizantes de Malala Yousafzai no Paquistão expressaram decepção nesta sexta-feira (11/10) depois que ela não foi a escolhida para receber o Prêmio Nobel da Paz, enquanto o grupo talibã declarou estar encantado com a notícia. A jovem de 16 anos era uma das favoritas para levar o Nobel da Paz, depois de ter sobrevivido a uma tentativa de assassinato do grupo talibã por liderar uma campanha internacional pelo direito de todas as crianças frequentarem a escola.

Mas, em vez de Malala, o Comitê Nobel optou por homenagear a Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) por seu trabalho de livrar o mundo das armas químicas. O ex-jogador de críquete que entrou para a política Imran Khan, chefe do partido Pakistan Tehreek-e-Insaf, que governa a província natal de Malala, disse estar desapontado. "Estamos orgulhosos desta filha do Paquistão, que sofreu um trauma tão jovem... simplesmente porque representava o direito das meninas à educação", declarou Khan em um comunicado. Já o ex-embaixador do Paquistão nos Estados Unidos Sherry Rehman expressou incredulidade no Twitter, escrevendo: "Este prêmio agora também está carregado de questões políticas".



[SAIBAMAIS]Em Mingora, a principal cidade do Vale do Swat, no noroeste do país, local no qual Malala cresceu e onde no dia 9 de outubro do ano passado foi baleada por um integrante do grupo talibã, amigos e ex-colegas da escola demonstraram suas impressões sobre a decisão do Comitê. "Se ela não ganhou o Prêmio Nobel, não é grande coisa", declarou à AFP Muhammad Fahad, de 17 anos, que estudou com Malala. "A vida é maior do que o Prêmio Nobel e sua vida é um grande prêmio para nós. Ela vai ganhar muitos outros prêmios", acrescentou.

Seu primo Mehmoodul Hassan, de 33 anos, um administrador da escola onde ela estudava, afirmou: "A própria Malala é um prêmio para nós, porque ela voltou à vida depois de ficar à beira da morte". O grupo talibã afirmou ter atirado em Malala pelas declarações que fazia, nas quais exigia que as meninas deveriam ir à escola, e ressaltou que tentará matá-la novamente. Depois de ser baleada, a jovem foi levada à Grã-Bretanha para receber tratamento médico e teve uma recuperação impressionante, tornando-se uma embaixadora global para os direitos das crianças. A jovem de 16 anos escreveu uma autobiografia, discursou nas Nações Unidas e estruturou o Fundo Malala, que trabalha para incentivar meninas de todo o mundo a ir à escola.

Talibãs satisfeitos

O porta-voz do grupo Tehreek-e-Taliban Pakistan (TTP), Shahidullah Shahid, declarou à AFP que a adolescente paquistanesa não fez nada para merecer o Nobel. "Estamos felizes que ela não tenha ganhado. Ela não fez nada, por isso é bom que não tenha ganhado", afirmou Shahid por telefone de um local desconhecido. "Esse prêmio deveria ter sido dado aos verdadeiros muçulmanos que estão lutando pelo Islã. Malala é contra o Islã, ela é secular", declarou.

Tal desconfiança e até desprezo por Malala não são incomuns no Paquistão - em contraste com a sua recepção no Ocidente, onde ela foi cortejada por políticos e elogiada por celebridades como Angelina Jolie e Madonna. "A maioria das pessoas acha que este ataque à Malala foi uma farsa e um drama encenado", declarou Ibrar Khan, um estudante de ciência política de Mingora, à AFP. "Seu pai usou esse incidente para ir para o exterior e obter um emprego atraente", disse. A estudante Myra Khan acusou Malala, cujo pai Ziauddin dirigia uma escola em Mingora, de abandonar suas raízes. "Vou fazer uma pergunta muito simples: o que ela fez até agora pela educação das meninas no Swat?", perguntou. "Ela ainda não estabeleceu uma instituição sequer e não estruturou nenhum fundo para encorajar a educação no Swat", completou.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação