Agência France-Presse
postado em 11/10/2013 12:30
A estudante paquistanesa Malala Yousafzai se converteu em uma fabulosa porta-voz dos direitos humanos desde que os talibãs tentaram assassiná-la, em 2012, graças, em parte, à formidável operação de relações públicas desenvolvida em torno dela. A ativista pela educação das meninas de 16 anos foi forte candidata ao Prêmio Nobel da Paz, pronunciou um discurso na ONU, publicou uma autobiografia e foi convidada a tomar chá com a rainha Elizabeth II da Inglaterra.Na quinta-feira (10/10) foi homenageada com o prestigiado prêmio Sakharov dos direitos humanos, concedido pela União Europeia, o que levou os talibãs a renovarem suas ameaças de morte. Malala e sua família recebem ajuda quando se trata de combinar sua recuperação do tiro que a atingiu na cabeça há um ano com sua educação e com as atividades próprias de uma jovem celebridade, como atender aos pedidos de entrevistas de meios de comunicação de todo o mundo.
Uma das principais empresas de relações públicas do mundo, a Edelman, tem uma equipe trabalhando para ela. Seus parentes negam, como se afirma no Paquistão, que a estejam manipulando. "Ficava preocupado com todas as expectativas depositadas nela antes de conhecê-la", declarou à AFP Jonathan Yeo, um pintor britânico cujo retrato de Malala integra a National Portrait Gallery de Londres. "Mas minhas inquietações sobre essas coisas desapareceram", acrescentou. "Ninguém tem motivos ocultos, todo o dinheiro se destina à caridade, não há agenda política e ainda é uma pessoa religiosa e dedicada ao seu país", ressaltou. Uma fonte que trabalha para a família declarou à AFP: "pelo que vi, embora tenha apenas 16 anos, ela dirige pessoalmente grande parte de sua vida".
A menina já chamava atenção muito tempo antes de ser baleada na cabeça por um talibã quando viajava em um ônibus escolar no dia 9 de outubro de 2012. Foi seu pai Ziauddin, um diretor de escola e ele mesmo ativista pela educação, quem contribuiu para tornar conhecida esta jovem inteligente e precoce do Vale do Swat, no noroeste do Paquistão. Ele a encorajou a escrever um blog para o serviço em urdu da BBC sob um pseudônimo a partir de 2009, quando tinha 11 anos, sobre como os talibãs estavam lutando contra a educação das meninas no Swat. O jornal The New York Times filmou um documentário sobre ela no mesmo ano. Mas foi o atentado, e sua milagrosa recuperação em um hospital britânico, que fizeram dela uma verdadeira figura mundial.
[SAIBAMAIS]O ex-primeiro-ministro britânico Gordon Brown, um emissário das Nações Unidas para a educação, a visitou no hospital e apadrinhou sua causa em um pedido enviado ao governo paquistanês. Brown conseguiu que Malala, que permaneceu na Grã-Bretanha após o atentado, discursasse nas Nações Unidas e ajuda sua família a se adaptar a sua nova vida. "Tem uma relação muito próxima com a família, em particular com o pai de Malala", disse à AFP uma fonte próxima a Brown, acrescentando que o ex-primeiro-ministro e sua esposa Sarah ajudam a família com "coisas que se tornaram muito esmagadoras".
A pedido do pai de Malala, Brown solicitou pessoalmente à empresa consultora McKinsey que cedesse a eles a funcionária Shiza Shahid, amiga da família Yousafzai, para presidir o Fundo Malala, a organização que administra a campanha da jovem em prol da educação e que tem entre seus doadores a atriz americana Angelina Jolie. A maquinaria Malala cresceu em novembro de 2012 quando a agência de relações públicas Edelman, que tem entre seus clientes empresas como Starbucks e Microsoft, começou a trabalhar com a família. Um porta-voz da Edelman disse à AFP que não cobram nada a ela e que disponibilizam uma equipe de cinco pessoas para apoiá-la.
A Edelman ressaltou que seu papel "é principalmente o de atuar como gabinete de imprensa da família e de gerir todo o interesse público e dos meios de comunicação na campanha de Malala". A empresa disse que há uma lista de espera de dois meses para entrevistar a jovem. A atenção mundial em torno de Malala foi mal recebida por alguns no Paquistão, que a acusam de ser um fantoche do Ocidente, e os talibãs voltaram a ameaçá-la. Na Europa também há os que não aprovam tanta exibição. "Pode ser uma carga. Impor isso a uma menina talvez não seja ético", disse Tilman Brueck, diretor do instituto de pesquisa sobre a paz SIPRI, de Estocolmo. Malala insiste que todo o circo ao seu redor não a mudou. "Meu mundo mudou, mas eu não", explica em sua autobiografia.