Agência France-Presse
postado em 13/10/2013 15:47
Damasco - O grupo mais importante da oposição síria afirmou neste domingo (13/10) que não participará da conferência de paz Genebra 2, desferindo um duro golpe na credibilidade destas negociações apoiadas por Estados Unidos e Rússia. A Cruz Vermelha síria anunciou ter retirado 1.500 civis de Muadamiyat al Sham, uma localidade dos arredores de Damasco controlada majoritariamente pelos insurgentes e sitiada há meses pelo exército.O chefe do Conselho Nacional Sírio (CNS) ameaçou abandonar a coalizão contra o regime se ela participar da conferência internacional de Genebra 2, prevista para meados de novembro, que deseja reunir na mesma mesa o regime sírio e a oposição. "O CNS, que é o principal bloco político da Coalizão, tomou a firme decisão (...) de não ir a Genebra", declarou à AFP o chefe do CNS, Georges Sabra, em uma conversa por telefone à AFP. "Isto significa que não permanecerá na Coalizão se ela comparecer" às negociações, acrescentou.
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A Coalizão opositora afirmou em setembro que estava disposta a enviar representantes a Genebra, embora tenha colocado como condição a partida do presidente Bashar al-Assad. A decisão do CNS ocorreu na véspera de uma reunião entre o secretário americano de Estado, John Kerry, e Lakhdar Brahimi, o emissário da ONU e da Liga Árabe para a Síria, sobre esta conferência.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha anunciou neste domingo que seis de seus colaboradores e um membro do Crescente Vermelho sírio foram sequestrados no noroeste do país. "Seis membros do CICV e um membro do Crescente Vermelho Sírio foram sequestrados em Idlib, no noroeste da Síria", confirmou à AFP o porta-voz do CICV em sua sede central em Genebra, Ewan Watson. "Não sabemos quem os sequestrou, foi um grupo de desconhecidos armados", acrescentou.
Uma oposição muito fragmentada e debilitada
A decisão do CNS pode aumentar as divisões em uma oposição já muito fragmentada e debilitada por uma desautorização dos principais grupos da oposição armada, alguns dos quais estão em conflito entre eles. Já os jihadistas reforçaram sua presença em Aleppo (norte) em detrimento dos rebeldes após mortíferos combates entre estes dois grupos, que, no entanto, lutam contra o regime sírio.
Sabra explicou esta decisão pelo sofrimento da população, em um conflito que já deixou mais de 100.000 mortos desde março de 2011, de acordo com a ONU. Em Muadamiyat al Sham, a Cruz Vermelha "evacuou 1.500 civis, em sua maioria mulheres e crianças", afirmou à AFP o chefe de operações do grupo, Khaled Ereksousse, informando que eles estavam "muito cansados e tinham muito medo".
A oposição denuncia há meses o cerco a Muadamiyat al Sham. Militantes e organizações não governamentais informaram sobre muitas mortes devido à fome nesta cidade a sudoeste de Damasco que serve de retaguarda aos rebeldes para atacar a capital, e que o exército bombardeia diariamente para expulsar os insurgentes.
Por sua vez, o regime sustenta que os civis estão sitiados pelos rebeldes. Os civis foram levados a refúgios na província de Damasco. "Nós pudemos oferecer uma ajuda médica aos que precisavam dela há muito tempo, mas não conseguimos retirar os feridos", disse Ereksuse.
Muadamiyat al Sham é uma das zonas que foram alvo no dia 21 de agosto de um ataque com armas químicas atribuído ao regime pela oposição e pelos países ocidentais, que teria deixado centenas de mortos. Em Damasco, neste domingo caíram obuses na Praça dos Abássidas (centro), assim como no bairro de Qadam (sul), sem que fossem registradas vítimas.
Na província de Aleppo (norte), o exército prosseguia com seus bombardeios aéreos contra Sfire, controlada principalmente por jihadistas e perto de uma instalação que pode ser visitada pelos especialistas internacionais encarregados do desmantelamento do arsenal químico sírio. Estes bombardeios provocaram um êxodo da cidade de sábado. Na região de Deraa (sul), berço da revolta, os rebeldes derrubaram um avião militar na localidade de Atman.