Agência France-Presse
postado em 15/10/2013 19:22
O movimento católico ultraconservador lefebvrista celebrou nesta terça-feira (15/10) na localidade de Albano Laziale, perto de Roma, a cerimônia fúnebre privada do criminoso nazista Erich Priebke, em meio aos protestos contra o chamado "carrasco" das Fossas Ardeatinas.Priebke faleceu na última sexta, aos 100 anos, em sua residência de Roma, onde cumpria desde 1998 uma condenação à prisão perpétua pelo massacre em 1944 das Fossas Ardeatinas. Pelo menos 335 civis foram mortos.
O funeral de Priebke começou em meio aos protestos de autoridades e de moradores de Albano Laziale, que se reuniram na frente da sede do convento dos lefebvristas. A despedida de Priebke precisou ser realizada de forma privada no convento Instituto Pio X, sede na Itália dos integristas do movimento lefebvrista, que aceitaram realizar a cerimônia.
O enterro teve de ser suspenso por ordem do chefe da polícia da capital, Giuseppe Pecoraro, diante da chegada à localidade de vários militantes de extrema direita para prestar homenagem ao falecido capitão da SS.
Diante da delicada situação de ordem pública e da possibilidade de que o evento se transforme em uma manifestação pró-nazista, as autoridades estão avaliando se a cerimônia será suspensa de forma definitiva.
Cerca de 40 militantes de extrema direita, com cabeça raspada e várias tatuagens, entre os quais estão fascistas do movimento Militia, tentaram depositar coroas de flores e homenagear o ex-oficial nazista com hinos fascistas.
"Queremos honrá-lo, faz parte da nossa história", afirmou o líder do movimento, Maurizio Boccacci, que mora em Albano Laziale.
O capitão da SS deverá ser cremado, mas não foi informado o local, nem a data.
O carro fúnebre, que ficou no Instituto Médico Legal de Roma à espera de alguma aprovação para que seu enterro fosse realizado, chegou às cinco da tarde a Albano Laziale, 25 quilômetros ao sudeste de Roma.
Cerca de 500 pessoas foram às ruas contra o funeral do "carniceiro". O grupo de manifestantes incluiu o prefeito de Albano Laziale, cidade premiada ao término da Segunda Guerra Mundial por ter combatido o fascismo.
Alguns moradores entoaram "Bella Ciao", canção-tema da resistência italiana, enquanto a tensão crescia com a presença dos militantes pró-nazis.
"Que ele seja levado para o lixo", pediu um dos manifestantes, aos gritos, aos policiais do Batalhão de Choque estacionados em frente ao convento.
Um padre do movimento lefebvrista quase foi agredido por manifestantes, quando entrava na instituição.
"É uma cerimônia privada, da qual participam amigos e parentes", disse o advogado Paolo Giachini, amigo de Priebke.
A notícia de que o enterro seria em Albano Laziale desconcertou o prefeito Nicola Marini, do Partido Democrático, que considerou o gesto uma ofensa à história dessa pequena cidade, de 40 mil habitantes. Marini assinou um decreto para impedir que o corpo do criminoso nazista circule pela localidade, mas a ordem foi suspensa pelo chefe da polícia de Roma.
Depois de morto, Priebke, que viveu tranquilamente por 40 anos na Argentina, continua causando polêmica. O Vaticano, a Argentina, a Alemanha (seu país de nascimento) e a Prefeitura de Roma se recusaram a realizar seu funeral.
Segundo o jornal "La Repubblica", os lefebvristas autorizaram o funeral, já que não respeitam as disposições do Vaticano desde que foram excomungados há 20 anos. Além disso, vários de seus religiosos manifestam aberta simpatia pelo nazismo e consideram que o Holocausto é uma invenção dos judeus.
Detido na Argentina em 1994, extraditado e julgado na Itália, Priebke nunca se desculpou, nem manifestou qualquer arrependimento.
O clima é particularmente delicado, já que, em 16 de outubro, comemora-se o 70; aniversário da deportação de mil judeus do gueto de Roma para o campo de concentração de Auschwitz, na Polônia. Apenas 16 sobreviveram.