Agência France-Presse
postado em 15/10/2013 20:54
Genebra - Em um clima sereno e de prudente otimismo, os negociadores sobre o programa nuclear iraniano, reunidos em Genebra, analisam a partir desta terça-feira uma proposta confidencial iraniana e deverão decidir se é suficiente para acabar com o bloqueio em torno deste tema.Em paralelo à sessão plenária das negociações entre o Irã e os países do grupo 5%2b1 (Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Rússia, China e Alemanha), uma reunião bilateral entre autoridades dos Estados Unidos e do Irã foi realizada.
A secretária de Estado adjunta para Relações Políticas, Wendy Sherman, reuniu-se por uma hora na ONU com o vice-ministro iraniano das Relações Exteriores, Abbas Araghchi, e com sua delegação - disse uma fonte americana.
"A discussão foi útil", acrescentou um alto funcionário americano, indicando que o diálogo será mantido em uma reunião plenária na quarta. Esse tipo de reunião bilateral entre americanos e iranianos durante as negociações plenárias entre o Irã e os 5%2b1 é extremamente rara. O último encontro tinha sido em 2009.
Nesta terça, sessão plenária das negociações entre a República Islâmica e o grupo 5%2b1 sobre a questão nuclear terminou à tarde em Genebra com um tom de esperança, depois de uma análise dos assuntos técnicos relacionados à proposta apresentada pelo Irã.
As partes concordaram em não fornecer informações sobre a proposta, disse Araghchi à AFP, considerando que "as primeiras reações foram boas".
Essa proposta "muito completa (...) pode facilitar um avanço nas negociações", declarou ele a jornalistas iranianos. "Somos sérios, não estamos aqui de maneira simbólica, ou para perder nosso tempo", frisou.
Ele disse ter esperança de que poderá haver uma nova guinada nas negociações em um mês e um primeiro avanço inicial até o fim da sessão de quarta-feira. Tanto os europeus quanto os iranianos concordam em que "a atmosfera é diferente, mais positiva" em comparação a outros encontros.
As grandes potências e o Irã retomaram as negociações com o objetivo de impulsionar o diálogo com uma solução à vista.
A chegada ao poder do novo presidente da República Islâmica do Irã, Hassan Rohani, que multiplicou os gestos de abertura em relação ao Ocidente e, em particular, aos Estados Unidos, renovou as expectativas após anos de um diálogo infrutífero.
A delegação iraniana apresentou uma proposta na manhã desta terça, segundo Michael Mann, porta-voz da chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, que preside as negociações.
"Os iranianos fizeram uma apresentação ;powerpoint; de sua proposta no início de sua reunião, o que levou uma hora", declarou Mann, que não forneceu detalhes sobre o conteúdo da proposta, mas indicou que, para a União Europeia (UE), "a bola está no campo iraniano".
"Desde a eleição de Rohani, há sinais de que Teerã quer se comprometer com negociações e ser mais transparente. A prova seria se fizessem verdadeiros progressos nessas negociações", afirmou Mann.
As negociações, de dois dias, são realizadas entre diretores políticos das chancelarias e vice-ministros das Relações Exteriores do Irã e do grupo formado pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, junto com a Alemanha.
De acordo com as escassas informações divulgadas pelos iranianos, o objetivo é chegar a um acordo em menos de um ano, com uma primeira etapa em um, ou dois meses. O chanceler iraniano, Mohamad Javad Zarif, já evocou a necessidade de se organizar rapidamente uma nova reunião em nível ministerial.
Pela primeira vez, a delegação americana é integrada por responsáveis pelas sanções econômicas contra o Irã. Essa política que pune a República Islâmica por seu programa nuclear afeta fortemente a economia do país.
Especialistas americanos interpretam a presença dessas autoridades como um sinal de abertura de Washington. O Ocidente e Israel suspeitam que o Irã tenha um objetivo militar por trás de seu programa nuclear civil e temem que o Irã enriqueça urânio em um nível suficiente para fabricar uma bomba atômica.
Netanyahu não descarta ataque preventivo contra o Irã
Enquanto Teerã e as grandes potências negociam, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, referiu-se novamente nesta terça à possibilidade de efetuar ataques preventivos contra o Irã.
Em um discurso na Knesset (Parlamento) por ocasião de uma cerimônia para lembrar a guerra entre israelenses e árabes de 1973, o primeiro-ministro advertiu que uma das lições desse conflito, no qual Israel foi surpreendido no início, é "levar a sério seus inimigos e nunca ignorar os sinais de perigo".
"Somos proibidos de renunciar a um ataque preventivo", advertiu o líder israelense, que afirmou diante da Assembleia Geral da ONU que Israel agirá sozinho, se for necessário.
"Tais ataques não devem ser feitos automaticamente (...) mas há situações em que as reações internacionais a essa iniciativa não valem o preço de sangue que pagaremos sofrendo um ataque estratégico, ao qual nos veremos forçados a reagir e, talvez, tarde demais", argumentou.
Israel já havia reiterado nesta terça o seu apelo às grandes potências para que evitem qualquer acordo parcial com o Irã. O vice-ministro-iraniano, Abbas Araqchu, chefe das negociações sobre o tema nuclear do lado iraniano, já marcou como linha vermelha o direito que o Irã tem de seguir enriquecendo urânio.
Segundo um relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) publicado em agosto, o Irã possui 6.774 quilos de urânio enriquecido a 3,5%, 186 kg de urânio enriquecido a 20% e transformou outros 187 kg de urânio enriquecido a 20% em barras de combustível. Além disso, possui mais de 19 mil centrífugas, das quais mil são de nova geração, mais potentes que as anteriores.