Agência France-Presse
postado em 16/10/2013 20:01
O risco de um default dos Estados Unidos poderia levar a China a acelerar a diversificação de suas imensas reservas de divisas, em um momento em que Pequim pede ao planeta para "desamericanizar" a economia mundial.Se não houver acordo de última hora no Congresso sobre o teto da dívida, o Tesouro norte-americano não poderá pegar empréstimos a partir da meia-noite de quarta-feira e os Estados Unidos poderiam entrar em default nas próximas semanas, pela primeira vez em sua história.
O impacto que isso teria na confiança dos mercados reduziria o valor dos ativos em dólares da China e, em primeiro lugar, suas enormes reservas em divisas, as mais importantes do mundo com 3,66 trilhões de dólares no final de setembro, em sua maioria em moeda norte-americana.
[SAIBAMAIS]"Se realmente se concretizar um default, o governo chinês acelerará a diversificação de suas reservas em divisas e se centrará em emissões em obrigações de outros países considerados mais seguros", afirma Liao Qun, economista da Citic Bank International.
"A China poderia assim reduzir o volume de títulos do Tesouro (dos Estados Unidos) que possui", acrescenta à AFP.
A China é o principal credor da dívida norte-americana, com 1,27 trilhão de dólares em títulos do Tesouro, seguida de perto pelo Japão (1,14 trilhão), segundo as mais recentes cifras do governo dos Estados Unidos.
Pequim não poderia, contudo, se desfazer de uma grande parte desses ativos, já que semelhante oferta reduziria bruscamente o valor dos títulos norte-americanos ainda em seu poder.
O gigante asiático se mostra também muito preocupado com a onda de choque que uma suspensão dos pagamentos de Washington causaria em toda a economia mundial e seus efeitos ao crescimento chinês, muito dependente das exportações e dos investimentos estrangeiros.
"Um default teria desde então um impacto muito claro na economia dos Estados Unidos e, portanto, consequências negativas na economia chinesa" alerta Sun Junwei, economista do HSBC.
Prova desta crescente preocupação são as mensagens e advertências lançadas por dirigentes e os meios estatais chineses, assim como seus chamados em favor de um compromisso dos legisladores norte-americanos.
"Pedimos aos Estados Unidos, como país emissor da principal divisa de reserva no mundo e como primeira potência econômica, que assuma sua responsabilidade", disse nesta terça-feira o vice-ministro de Finanças, Zhu Guangyao.
Por sua vez a agência oficial Xinhua, em um duro editorial domingo, afirmou que "é possivelmente o momento oportuno para que um estupefato planeta comece a pensar em construir um mundo ;desamericanizado;".
"As economias emergentes devem ter maior peso nas instituições financeiras internacionais", defende Xinhua, que alude à "criação de uma nova divisa de reserva" para substituir o dólar e a uma reforma do Fundo Monetário Internacional (FMI), onde, por exemplo, a China não tem peso maior que a Itália.
Uma reforma da direção do FMI está sendo preparada há três anos, mas é bloqueada pelo veto dos Estados Unidos, que deve ser ratificado pelo Congresso.
Ao mesmo tempo, Pequim parece desejar muito promover a internacionalização do yuan, cuja convertibilidade continua estando severamente controlada.
A China fechou nesta terça-feira um acordo com o Reino Unido para reforçar o rol do yuan em Londres, onde algumas empresas emitem, desde 2012, títulos em yuanes, algo ainda excepcional na atualidade fora de Hong Kong.
Por sua vez, o banco central chinês assinou recentemente acordos de swap monetário com seus homólogos europeu e britânico para facilitar o acesso à divisa chinesa aos grupos financeiros com sede na Europa.