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Arábia Saudita se nega a entrar para o Conselho de Segurança da ONU

Governo saudita acusa ONU de não conseguir garantir a paz e a segurança no mundo

Agência France-Presse
postado em 18/10/2013 07:30
Riad - A Arábia Saudita renunciou nesta sexta-feira a ocupar uma cadeira temporária no Conselho de Segurança das Nações Unidas para protestar pela impotência do organismo ante os conflitos no Oriente Médio, em particular na Síria. Segundo um comunicado do ministério das Relações Exteriores saudita, "os mecanismos de trabalho e a dupla moral no Conselho de Segurança o impedem de cumprir com suas obrigações e assumir suas responsabilidades na hora de manter a paz no mundo".

Por isso, Riad "não tem outro remédio a não ser renunciar a integrar o Conselho de Segurança, até que este seja renovado e dotado dos meios necessários para cumprir com suas obrigações e assumir suas responsabilidades, como garantidor da paz e da segurança no mundo", completa a nota. Deste modo, a Arábia Saudita "procura expressar sua indignação ante os países membros permanentes do Conselho de Segurança", declarou à AFP o especialista saudita Abdel Aziz al-Sager, diretor do Gulf Research Center.

"Também procura expressar seu mal-estar ante a nova política de Washington, em particular as posições do presidente Barack Obama sobre Irã, Síria e Iêmen", acrescentou. Um diplomata declarou em Nova York que este gesto totalmente inesperado não tem precedentes. A França disse compartilhar a frustração da Arábia Saudita e ressaltou ter proposto em setembro que os cinco membros permanentes do Conselho (Estados Unidos, China, Rússia, Reino Unido e França) não usassem seu direito de veto em caso de crimes em massa.

Já a Rússia criticou a decisão de Riad, classificando de particularmente estranhas as razões invocadas. "Com sua decisão, a Arábia Saudita se exclui dos esforços comuns (mobilizados) no âmbito do Conselho de Segurança para manter a paz e a segurança no mundo", declarou a chancelaria russa. Para a Turquia, esta decisão faz a organização perder credibilidade.

No entanto, segundo o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, a Arábia Saudita ainda não notificou oficialmente a organização sobre sua recusa em ocupar um lugar no Conselho de Segurança. Um recusa da Arábia Saudita "é uma decisão que corresponde aos Estados membros, mas a ONU ainda não recebeu uma notificação oficial sobre o tema", declarou. Na quinta-feira, a Arábia Saudita foi eleita pela primeira vez membro não permanente do Conselho de Segurança de ONU, ao lado de Chile, Chade, Nigéria e Lituânia. O mandato de dois anos começa em 1; de janeiro de 2014.



O embaixador saudita na ONU, Abdullah al-Muallimi, disse em um primeiro momento que o posto reconhecia a "antiga política (saudita) de apoio à moderação e à resolução de conflitos por meios pacíficos". Mas nesta sexta-feira a chancelaria recuou e destacou que Riad se nega a integrar um organismo incapaz de resolver conflitos no Oriente Médio.

O comunicado destaca que "há 65 anos a questão palestina permanece sem solução", o que levou a "muitas guerras que ameaçaram a paz mundial". O texto afirma que "permitir ao regime sírio matar seu povo e queimá-lo com armas químicas, diante dos olhos do mundo inteiro, e sem sanções dissuasivas, é uma prova clara da impotência do Conselho de Segurança no momento de cumprir com seu dever e assumir suas responsabilidades".

O ministério criticou ainda a incapacidade do Conselho de Segurança de limpar a região das armas de destruição em massa, incluindo as armas nucleares, em uma referência a Israel e Irã. A Arábia Saudita, dirigida por um braço muito rígido do islã sunita - o wahabismo -, teme o programa nuclear do Irã, país de maioria xiita. As potências ocidentais e Israel acusam Teerã de querer produzir armamento atômico, o que a República Islâmica nega com insistência.

Já Israel é oficiosamente a única potência nuclear do Oriente Médio. Riad, que expressa apoio aos rebeldes hostis ao presidente sírio Bashar al-Assad, aliado de Teerã, critica a gestão da guerra pela ONU.

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