Paris - Fragilizado pelo caso de Leonarda, jovem cigana kosovar expulsa da França, o presidente François Hollande enfrenta um verdadeiro quebra-cabeça para enfrentar a polêmica e unir sua dividida maioria no Parlamento, enquanto a estudante afirmou nesta terça-feira (22/10) que não sabe se voltar.
A prisão de Leonarda durante uma excursão organizada por sua escola no dia 9 de outubro e sua posterior expulsão, junto com a família, desencadearam uma onda de protestos de parte da esquerda francesa e manifestações de milhares de estudantes exigindo o seu retorno.
Diversos analistas consideraram que a maneira como o Executivo socialista tratou este caso pode marcar uma guinada no mandato de Hollande, cujo governo está à beira da ruptura.
Na falta de indicações por parte do chefe de Estado, os políticos franceses especulam há uma semana sobre as mais diversas possibilidades, de uma reorganização governamental a uma dissolução da Assembleia Nacional, passando por um referendo, uma mudança na direção do Partido Socialista, ou que nada seja feito à espera de que a crise passe.
O centrista Jean-Louis Borloo iniciou a rodada de especulações ao sugerir no domingo que o presidente reorganizasse o governo ou dissolvesse a Assembleia. Com isso, Hollande se apresentaria aos franceses novamente em busca de uma "relegitimização popular", considerou Borloo.
No sábado, para surpresa geral, o presidente pronunciou um discurso televisionado para resolver o caso de Leonarda, mas sua proposta de que a adolescente voltasse sozinha à França para manter seus estudos não satisfez quase ninguém.
Leonarda recusou em um primeiro momento a proposta, mas nesta terça-feira disse que hesita em aceitá-la. "Ou esperamos que a tempestade passe ou realizamos uma mudança. Mas qual? As opções não são muitas, à exceção da reorganização governamental", comentou nesta terça-feira um líder socialista.
A ideia da dissolução parece pouco realista, já que o presidente correria o risco de uma vitória da direita.
Outra possibilidade seria uma mudança à frente do PS, já que seu primeiro-secretário, Harlem Désir, que foi apoiado por Hollande para ocupar o cargo, contradisse o presidente exigindo depois de seu discurso o retorno não apenas de Leonarda, mas também de sua família.
Mas a Presidência "não pode destituir um primeiro-secretário de um partido político eleito por milhares de militantes", argumenta um importante membro do PS. E o próximo Congresso do partido só está previsto para 2015.
Ecologistas desafiam Hollande
O primeiro-ministro, Jean-Marc Ayrault, se esforçou nesta terça-feira diante do Parlamento para demonstrar que os deputados socialistas apoiam o governo, apesar de algumas poucas explosões temperamentais.
No entanto, a coesão da maioria foi comprometida pelo caso Leonarda.
Os ecologistas franceses, aliados do Partido Socialista no governo, desafiaram nesta terça-feira Hollande a pedir o retorno da estudante e a convocar os alunos a continuarem se mobilizando em seu favor.
O partido Europa Ecologia-Os Verdes (EELV), que tem dois de seus membros em postos de ministros do governo de esquerda, indicou que "apoia a mobilização dos estudantes secundários indignados", ao mesmo tempo em que pediu "o fim da expulsões de todas as crianças em idade escolar e de suas famílias".
O caso voltou a desencadear a polêmica sobre a imigração na França. A ala esquerda do PS e os ecologistas exigem uma flexibilização dos critérios para regularizar a situação das famílias, dos trabalhadores e dos menores sozinhos.
Paralelamente, na direita, o presidente da UMP, Jean-François Copé, jogou lenha na fogueira ao anunciar uma proposta de lei sobre a imigração que inclua uma reforma do direito à nacionalidade por nascimento em solo francês, em declarações que provocaram críticas da esquerda e comentários irônicos da extrema direita.