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Paris cobra explicações de Washington sobre espionagem

Chefe da diplomacia francesa voltou a expressar ao secretário de Estado americano, John Kerry, a insatisfação da França durante um encontro no Quai d'Orsay nesta terça-feira (22/10)

postado em 22/10/2013 17:02
Paris - Paris reiterou seu pedido de explicações sobre o programa de espionagem mundial dos serviços de inteligência dos Estados Unidos na França, mas sem querer desencadear um "escândalo" com Washington.

O chefe da diplomacia francesa Laurent Fabius voltou a expressar ao secretário de Estado americano, John Kerry, a insatisfação da França durante um encontro no Quai d;Orsay nesta terça-feira (22/10).

"A espionagem, tal como foi praticada em grande escala pelos americanos em aliados, é algo inaceitável", declarou Fabius a jornalistas em Londres, onde tinha acabado de participar de uma reunião do grupo dos "Amigos da Síria" e da oposição síria. "Eu disse a ele (John Kerry) que nos forneça elementos de informação rapidamente e que essas práticas parem", acrescentou.

"Não somos ingênuos, acreditamos que a luta contra o terrorismo é uma necessidade, (mas) uma coisa é a luta contra o terrorismo, outra coisa é a sistemática espionagem de dezenas de milhões de dados", considerou.

Segundo o jornal Le Monde, em sua edição de segunda-feira, a agência americana de Segurança (NSA) realizou 70,3 milhões de gravações de dados telefônicos de franceses em um período de 30 dias entre dezembro de 2012 e janeiro de 2013.

Nesta terça, o jornal publicou novos detalhes sobre as escutas de embaixadas francesas, principalmente a representação na ONU em Nova York.

Ele cita um documento da NSA de agosto de 2010, segundo o qual as informações roubadas da França e de outras embaixadas têm desempenhado um papel importante na obtenção do voto de novas sanções contra o Irã no Conselho de Segurança. Laurent Fabius indicou que após as primeiras informações sobre a existência do programa de monitoramento dos Estados Unidos, "medidas" foram tomadas.

"Particularmente no Quai d;Orsay, nós decidimos garantir a segurança de um determinado número de comunicações, e, por outro lado, lançamos uma auditoria sobre nossas instalações nos Estados Unidos, porque soubemos que elas foram espionadas", informou.

Kerry tentou na noite de ontem tranquilizar a França, aliada de longa data. "os Estados Unidos começaram a revisar a forma com a qual recolhemos dados de inteligência, para se obter um equilíbrio entre as legítimas preocupações de segurança dos nossos concidadãos e aliados e a proteção da vida privada, que preocupa a todos", declarou.



"Teremos conversas bilaterais, incluindo com os nossos parceiros franceses, para resolver essas questões", assegurou. O presidente francês, François Hollande, chegou a usar uma linguagem particularmente áspera na segunda ao manifestar seu "profundo rechaço" diante das "práticas inaceitáveis" de seu aliado, em uma conversa por telefone com seu colega americano Barack Obama.

O presidente americano assegurou que "algumas" revelações "deformaram" as atividades da NSA, mesmo "que outras levantem questionamentos legítimos para os amigos e aliados sobre o modo como essas capacidades (de vigilância) são utilizadas".

Paris pediu às autoridades americanas a garantia de que a interceptação das comunicações "não aconteça mais".

A Presidência francesa garantiu que Obama e Hollande "concordaram em trabalhar juntos para averiguar os fatos e o alcance exato das atividades de vigilância reveladas pelo Le Monde".

Mas, para além das manifestações de indignação, a França não tem a intenção de provocar uma "escalada" com seu poderoso aliado. "Eu não acredito que devemos ir a uma escalada", disse a porta-voz do governo, Najat Belkacem-Vallaud.

Ela considerou que "o mais importante" é "o trabalho realizado em nível europeu para garantir que a Europa adote um plano relativo à proteção de dados pessoais", mas também que "receba informações úteis dos Estados Unidos. "

No mesmo sentido, Viviane Reding, vice-presidente da Comissão Europeia, também fez um apelo para que os líderes da UE "ajam" na cúpula deste fim de semana para proteger os dados dos cidadãos e punir as infrações dos gigantes da Internet.

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