Agência France-Presse
postado em 23/10/2013 11:54
Damasco - As perspectivas da conferência de paz sobre a Síria, prevista para novembro em Genebra, se apresentavam sombrias nesta quarta-feira, depois que os principais atores desdenharam dos esforços ocidentais e árabes para convencê-los a participar do encontro. O encontro ocorrido na tarde de terça-feira (22/10), em Londres, entre os líderes da oposição síria e representantes de 11 países dos chamados Amigos da Síria terminou com resultados pouco expressivos, para além da concordância de que o presidente sírio, Bashar al-Assad, não pode formar parte de um futuro governo.Os líderes da Coalizão Nacional - principal grupo da coalizão - insistiram que não participarão da conferência de Genebra, que irá ocorrer no fim de novembro, se algum membro do regime comparecer, e reiteraram sua exigência de que Assad deixe o poder. O presidente sírio, que rejeita sistematicamente reconhecer a Coalizão como um interlocutor legítimo nas negociações, não se mostra disposto a atender a este pedido e prevê inclusive se apresentar à reeleição em 2014.
Ao menos 115 mil pessoas morreram na Síria desde o início do conflito, há dois anos e meio, segundo dados do Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH). O ministro das Relações Exteriores britânico, William Hague, disse que durante o encontro de terça-feira (22) foi pedido à Coalizão que se comprometesse completamente com as negociações de Genebra-2 e explicou que foi acordado apoiar a formação de um governo de transição.
O chefe da diplomacia americana, John Kerry, assumiu uma posição similar, dizendo que Assad havia perdido toda a legitimidade. A oposição síria se reunirá no início de novembro para definir sua posição antes das negociações de Genebra, que sucedem outra conferência na mesma cidade realizada em junho de 2012. Condições para as negociações em Genebra
[SAIBAMAIS]O líder da Coalizão Nacional síria, Ahmad Jarba, foi firme em suas condições. "Não haverá negociações em absoluto se não nos assegurarmos que nesta reunião, Genebra-2, seja estabelecido um período de transição e que Assad saia", disse em árabe, segundo a tradução de um intérprete, após o encontro de terça-feira em Londres.
Assad, por sua vez, desdenhou das possibilidades de que um acordo seja alcançado na conferência de paz, dizendo que "ainda não estão reunidas as condições se quisermos (que Genebra-2) tenha êxito", em uma longa entrevista transmitida pelo canal libanês Al-Mayaden. O emissário da ONU e da Liga Árabe para a Síria, Lakhdar Brahimi, insistiu nesta quarta-feira que apenas uma solução política pode ajudar a colocar fim ao sufocante e perigoso conflito na Síria.
A crise neste país mediterrâneo "ameaça a Síria e toda a região. É a mais perigosa para a estabilidade e a segurança", disse Brahimi durante um encontro com Nasser Judeh, ministro das Relações Exteriores da Jordânia, onde prosseguia com seu giro regional. Washington e Moscou tentam organizar Genebra-2 desde que alcançaram um acordo para a destruição do arsenal químico da Síria, após um ataque com gás sarin em agosto pelo qual a oposição e o Ocidente culpam Damasco.
Por sua vez, a ativista de direitos humanos Seman Nassar declarou nesta quarta-feira à AFP que as autoridades sírias libertaram 14 mulheres detidas como parte de um triplo intercâmbio de prisioneiros que envolve Turquia, Líbano e Síria, embora tenha insistido que dezenas delas continuam presas. As autoridades sírias não fizeram nenhum comentário oficial sobre a questão. Em terra, o OSDH disse que 20 efetivos leais ao regime morreram ou ficaram feridos na província de Quneitra, perto da fronteira com Israel, enquanto os militantes informaram sobre combates em várias partes de Moadamiyet al-Sham, nos arredores de Damasco.