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ONU: violência na América Latina deve ser combatida com acordos nacionais

De acordo com a subsecretário-geral das Nações Unidas, a América Latina não apenas é a região mais desigual do mundo, mas também a mais insegura medida por assassinatos

Agência France-Presse
postado em 25/10/2013 12:04
Montevidéu - A violência intrafamiliar e entre jovens são flagelos crescentes na América Latina que devem ser combatidos com acordos nacionais em cada país, declarou à AFP Heraldo Muñoz, subsecretário-geral da ONU, advertindo que as políticas que se baseiam apenas em impor um pulso mais firme não funcionam. Em uma entrevista à AFP em Montevidéu, onde participou na quinta-feira (24/10) de um seminário sobre o papel do Conselho de Segurança das Nações Unidas, Muñoz adiantou as conclusões de um relatório sobre segurança cidadã que será apresentado no dia 12 de novembro pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

"Temos muitas evidências sobre violência nas ruas, sobre violência intrafamiliar que afeta principalmente as mulheres. Sobre a dimensão da violência escondida, da violência sexual, dos feminicídios, que aumentaram na região em geral", comentou Muñoz, também diretor para a América Latina e o Caribe do PNUD. No relatório sobre segurança cidadã "dizemos que não apenas nossa região teve na última década um aumento nos homicídios, embora em alguns países eles tenham se estabilizado; olhando para uma década atrás, há um aumento no número de homicídios, mas nos últimos 25 anos a quantidade de roubos quase triplicou", disse.

Muñoz ressaltou que a América Latina não apenas é a região mais desigual do mundo, mas também a mais insegura medida por assassinatos, com cerca de 22 homicídios a cada 100 mil habitantes, quando a média mundial é de 6 ou 7 assassinatos para cada 100 mil.

Jovens: vítimas e autores

"Os jovens são as principais vítimas dos homicídios, mas também são os principais autores. Cerca de 90% das vítimas de assassinatos são jovens, mas também mais de 85% são os autores", ressaltou Muñoz. Em uma região onde se estima que a metade da população seja jovem, o relatório fornecerá "muitas evidências que podem ser úteis para as autoridades" dos diferentes governos no momento de velar por este setor, disse.



Muñoz ressaltou a situação econômica da América Latina, que, apesar de ter registrado um crescimento econômico nos últimos anos, protagonizou um crescimento de baixa qualidade, já que não beneficiou todos por igual. "Há uma dimensão do fenômeno do crescimento que está vinculada ao que nós chamamos de ;crime aspiracional;. Ou seja, há indivíduos que veem que há um maior consumo, mas eles não têm esta oportunidade, por isso os roubos de celulares, roupas esportivas" são comuns em sociedades onde "a natureza do crescimento possivelmente esteja estimulando este tipo de crime", disse.

Sem receitas únicas

Longe de considerar que o PNUD tenha uma solução mágica para os problemas de insegurança da região, o subsecretário das Nações Unidas afirmou que "não há uma forma única, não há uma bala de prata para os problemas da segurança". O que é certo é que o debate sobre segurança deve estar fora da controvérsia política, segundo a visão de Muñoz, que adiantou que no relatório será recomendado que "cada país deva avançar em um acordo nacional pela segurança cidadã, como política de Estado".

"O que sabemos é que uma política simplesmente de maior linha dura não funciona. Neste estudo apresentamos casos de políticas de linha dura que não deram resultado", completou. Segundo ele, as ações deverão contemplar políticas de curto e médio prazo, como melhorar a informação sobre crimes ou uma maior capacitação policial, e outras medidas "que demorarão mais tempo, como a reforma da polícia, da justiça e inclusive com mais fôlego, que é ir incutindo através dos meios de comunicação uma cultura de paz".

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