Agência France-Presse
postado em 25/10/2013 18:04
O governo argentino vai tentar manter o controle do Congresso neste domingo (27/10), nas eleições legislativas que marcarão a última metade do mandato da presidente Cristina Kirchner e o início do caminho para sua sucessão em 2015.O resultado de domingo será fundamental para Kirchner enfrentar os últimos dois anos de seu segundo mandato, no momento em que sua gestão sofre um desgaste após dez anos de um ciclo que incluiu o governo de seu marido, Néstor Kirchner (2003-2007), de acordo com analistas consultados pela AFP. O dia da votação também marcará os três anos do falecimento do ex-presidente.
"Quando o governo ganhou em 2011, tinha 64% de aprovação, mas perdeu rapidamente por causa da economia, do estilo de governo confrontativo, que negou a inflação, e da insegurança", disse à AFP a diretora da consultoria F & T, Mariel Fornoni.
Dois dos temas mais sensíveis na Argentina hoje, a insegurança e a inflação foram amplamente usados pela oposição ao longo da campanha que terminou na quinta-feira à noite.
A presidente, que está em repouso absoluto enquanto se recupera de uma operação para a drenagem de um hematoma na cabeça, foi a grande ausente neste último período da campanha eleitoral.
Em sua reeleição em 2011, Cristina obteve 54% dos votos (11,8 milhões), vencendo com ampla vantagem. Já durante as primárias de agosto passado, nas quais foram selecionados os candidatos para as legislativas deste domingo, o peronismo governante obteve sete milhões de votos.
O partido da situação Frente para a Vitória (FPV) continuou sendo a força mais votada em agosto, por ser o único com representação nas 24 províncias do país, apesar de ter perdido nos distritos mais importantes, incluindo a estratégica província de Buenos Aires.
Distrito-chave
No domingo, esse distrito será palco central da disputa eleitoral, na qual Sergio Massa, de 41 anos, um ex-chefe de Gabinete de Kirchner que passou para a oposição, ameaça desbancar a supremacia peronista nesse território que concentra 40% dos 30,5 milhões de eleitores.
Prefeito da localidade turística de Tigre (30 km ao norte de Buenos Aires), Massa ficará em boas condições na disputa pela presidência em 2015 se vencer na província de Buenos Aires - como antecipam as pesquisas.
Ele foi o mais votado nessa jurisdição, com 35% nas primárias que selecionaram os candidatos para as eleições legislativas, com parte do peronismo dissidente que se aglutinou na Frente Renovadora. Em seu discurso de encerramento de campanha, focado na insegurança, Massa disse na quinta à noite que vai propor "prisão perpétua para os traficantes de drogas".
Seu rival nesse distrito-chave, Martín Insaurralde, de 42, teve de fazer a campanha sem a presença da presidente e terminou, ontem, com uma defesa das conquistas sociais dos dez anos de kirchnerismo. Referindo-se a Massa, também advertiu que "o futuro não é voltar para trás", referindo-se ao apoio que seu adversário recebe de defensores do neoliberalismo econômico aplicado na Argentina nos anos 90 pelo peronista Carlos Menem (1989-99).
Insaurralde, prefeito da populosa Lomas de Zamora (na periferia sul), também na província de Buenos Aires, está pelo menos cinco pontos atrás de Massa - segundo as enquetes.
Fim do ciclo kirchnerista?
Enquanto a oposição prevê "um fim do ciclo kirchnerista", o governo defende sua gestão "como a década ganha" e afirma que começará "a década do desenvolvimento".
"Estas eleições são muito importantes, porque termina um ciclo, é um ponto de partida para 2015", comentou Fornoni, ao se referir à próxima corrida pela Casa Rosada.
Já o consultor e sociólogo Artemio López disse à AFP que "há uma sentença de morte contra o kirchnerismo, mas os dados não possibilitam fazer essa afirmação".
"O (governante) Frente para a Vitória foi a força mais votada em nível nacional em todas eleições desde 2003 até hoje", lembrou López, que acredita que a tendência se manterá no domingo.
Ambos os analistas concordam em que o governo manterá sua maioria no Congresso, porque renova as bancadas das legislativas de 2009 - seu pior desempenho no ciclo kirchnerista.
No domingo, renova-se metade da Câmara de Deputados e um terço do Senado.