Haia - Mais de mil toneladas de armas e substâncias químicas do regime sírio foram lacradas, informou nesta quinta-feira (31/10) a Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ), encarregada de supervisionar o processo de destruição desse arsenal. "Todos os depósitos de armas e substâncias químicas foram lacrados, com selos inquebráveis", declarou um porta-voz da OPAQ, Christian Chartier.
Enquanto isso, o emissário internacional Lakhdar Brahimi se reuniu nesta quinta-feira, em Damasco, com personalidades da oposição tolerada e da sociedade civil, um dia após encontrar com o presidente Bashar al-Assad, que reiterou sua rejeição a toda ingerência externa. Os inspetores da organização visitaram 21 das 23 localidades declaradas pela Síria, e 39 das 41 instalações nesses locais. As duas instalações restantes não foram visitadas por razões de segurança, mas Damasco assegurou ter abandonado os locais e as inspeções terminaram, indicou a OPAQ.
O programa de eliminação das armas obedece a uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, o que evitou uma campanha militar iminente dos Estados Unidos contra a Síria em represália a um ataque químico cometido em agosto e atribuído ao governo de Damasco. Na capital síria, o presidente Assad reiterou na quarta-feira, durante uma reunião com o enviado especial da ONU e da Liga Árabe Lakhdar Brahimi, sua rejeição a qualquer ingerência externa em favor da oposição na conferência de paz Genebra-2. "O povo sírio é o único a ter direito a decidir sobre o futuro de seu país. Qualquer solução ou acordo precisa do aval dos sírios e deve refletir sua vontade sem ingerências externas", declarou Assad durante o breve encontro com Lakhdar Brahimi, segundo a agência oficial Sana.
A visita do emissário internacional foi comemorada pela imprensa síria, que havia tratado Brahimi de "falso mediador" e "viajante idoso" durante sua última visita em dezembro. "Sua visita à Síria começa de maneira positiva. Ele tem se esforçado para alcançar melhorias regionais, internacionais e no terreno", considerou o Baas, jornal do partido que dirige o país há 40 anos. O diplomata argelino chegou na segunda à noite a Damasco para preparar uma conferência de paz que deve ser realizada em Genebra no fim de novembro. Brahimi foi recebido nesta quinta-feira pelo ex-ministro da Informação, Mohammad Salman, que se apresenta hoje como um opositor, e Mahmoud Merhi, líder da minúscula "União das Forças Democráticas Cívicas", que reúne opositores no terreno.
Com a situação humanitária e sanitária se deteriorando a cada dia, a ONU estimou que o número de refugiados que fugiram do país chegará a 3,5 milhões até o final do ano. Nas frentes de combate, "o Crescente Vermelho retirou na terça-feira 800 civis de Moadamiyat al-Sham", um subúrbio de Damasco, indicaram os rebeldes desta cidade. "Todas as partes - a Coalizão Nacional (opositora), o regime e a comunidade internacional - participaram" da operação, acrescentaram. Em 12 de outubro, 3.000 civis já haviam sido evacuados desta localidade, que está cercada há mais de um ano pelo exército e que foi alvo de um ataque químico em 21 de outubro.
Enquanto cerca de quinze jornalistas estrangeiros continuam desaparecidos ou detidos na Síria, o fotógrafo polonês Marcin Suder, sequestrado em julho, conseguiu escapar do cativeiro e voltar para a Polônia, anunciou nesta quinta o ministério polonês das Relações Exteriores.
Fuga continua
Enquanto prossegue o debate sobre o controle do arsenal químico na Síria, milhares de pessoas tentam desesperadamente deixar as cidades mais afetadas pela guerra civil. Na imagem, um soldado revista os pertences de famílias sírias, que tentam deixar a cidade de al-Moadamiyeh, local controlado por combatentes da oposição, no campo de Damasc. É um raro momento de coordenação entre o governo sírio e os rebeldes, que habilitam 1.800 civis a fugir da cidade sitiada, mas milhares continuam presos, com pouca comida, água e remédios. Uma fonte do Ministério dos Assuntos Sociais disse que a evacuação de Mouadamiya prosseguiu com a ajuda do Crescente Vermelho Árabe Sírio e alguns grupos civis.