Agência France-Presse
postado em 31/10/2013 19:13
A Síria destruiu seu sistema de produção de armas químicas, o que representa um êxito para a comunidade internacional, que tem grandes dificuldades para organizar uma conferência de paz após 32 meses de guerra civil no país.Enquanto isso, o Exército sírio conseguiu avançar em direção a uma localidade estratégica que abre caminho para Aleppo, segunda maior cidade do país, em poder dos rebeldes há mais de um ano.
O enviado internacional Lakhdar Brahimi, atualmente em Damasco, se reuniu nesta quinta-feira com integrantes da oposição tolerada, um dia depois de ter tido um breve encontro com o presidente Bashar al-Assad. O líder sírio reiterou sua rejeição a qualquer ingerência externa nas decisões sobre o futuro do país.
"A Síria acabou de inutilizar suas instalações de produção e montagem de armas químicas", indicou a Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq), encarregada de supervisionar a eliminação desse tipo de armamento no país árabe em virtude de uma resolução da ONU.
Os inspetores visitaram 21 dos 23 locais declarados pela Síria, e 39 das 41 instalações nesses locais.
Os dois locais restantes foram evitados "por razões de segurança", embora, segundo Damasco, eles estivessem "abandonados", indicou a Opaq.
Com isso, a Síria cumpriu o seu compromisso com o conselho executivo dessa organização, que pediu ao regime que concluísse "essa destruição o mais rápido possível, e no mais tardar, até 1; de novembro de 2013".
"Todos os depósitos de armas e substâncias químicas foram lacrados, com lacres impossíveis de serem rompidos", declarou à AFP o porta-voz da Opaq, Christian Chartier.
"São 1.000 toneladas de agentes químicos e 290 toneladas de armas químicas", acrescentou Chartier, que indicou que as armas permanecem "nas instalações", já que ainda não se está na "fase de deslocamento".
O Conselho Executivo da Opaq deve examinar o programa em uma reunião marcada para 5 de novembro com o objetivo de decidir até o dia 15 do mesmo mês como e onde será destruído o arsenal químico sírio. O encontro também servirá para o organismo fixar os diferentes prazos para a destruição definitiva desse tipo de armamento.
Os Estados Unidos manifestaram seu otimismo em relação ao respeito a esse prazo.
"Cada vez tenho mais confiança de que estaremos em condições de cumprir esta tarefa", declarou à comissão de Relações Exteriores do Senado o secretário de Estado adjunto encarregado da Não-Proliferação, Thomas Countryman.
120 mil mortos em dois anos e meio
Neste contexto, Lakhdar Brahimi procura obter uma ampla participação em uma conferência de paz para a Síria, conhecida como "Genebra 2".
O emissário internacional quer reunir em torno da mesma mesa representantes do regime e da oposição síria, para encontrar uma solução política depois de mais de dois anos e meio de um conflito que deixou mais de 120.000 mortos, segundo o último registro do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Brahimi, que chegou na segunda-feira a Damasco como parte de uma viagem regional que o levará na sexta ao Líbano, se reuniu nesta quinta com cerca de quinze membros da oposição tolerada.
Sanaa Nasser, líder do Partido da Nova Síria, pediu a Brahimi que garanta que Assad "participe de Genebra 2", segundo um jornalista da AFP.
A oposição no exterior está muito dividida sobre sua eventual participação nesta conferência, e pede a saída de Assad, o que o regime rejeita categoricamente.
Nas frentes de batalha, as tropas leais a Bashar al-Assad avançaram nesta quinta até a localidade estratégica de Sfira, no norte da Síria e controlada há mais de um ano pelos rebeldes, informou o OSDH.
Se for confirmado o avanço do Exército, este ficará com o caminho aberto para Aleppo, controlada, em grande parte, pela rebelião desde julho de 2012.
Em um bairro da capital síria, pelo menos oito pessoas morreram nesta quinta-feira atingidas por foguetes disparados pelo Exército, indicou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Em outras partes do país, duas mulheres morreram e várias pessoas ficaram feridas quando os rebeldes dispararam obuses contra a cidade druso-cristã de Jaramana, a sudeste de Damasco, segundo o OSDH.
A violência e os confrontos seguem deixando dezenas de mortos todos os dias em todo o país. Segundo a ONU, o número de refugiados que deixaram o país pode chegar a 3,5 milhões até o final do ano.