Agência France-Presse
postado em 31/10/2013 22:28
Londres - Os dois principais acusados no caso das escutas ilegais por parte do "News of the World", tabloide do magnata Rupert Murdoch, eram amantes e tiveram de explicar o trabalho do veículo britânico - afirmou o procurador durante o julgamento, nesta quinta-feira, em Londres.Dois ex-editores do "News of the World", Rebekah Brooks e Andy Coulson, foram amantes durante boa parte do tempo em que o tabloide espionava celebridades. O promotor Andrew Edis disse que o caso extraconjugal que os dois tiveram entre 1998 e 2004 prova que "confiavam um no outro" e serve de apoio para as acusações de que fizeram parte de uma conspiração para grampear telefones.
Rebekah, protegida do magnata australiano Rupert Murdoch, que também é dono do jornal "The Sun" e do americano "Wall Street Journal", foi editora do "News of the World" entre 2000 e 2003, ano em que foi substituída por Coulson. Ela assumiu cargos de diretoria da empresa, e ele foi porta-voz do primeiro-ministro britânico, David Cameron.
Ambos negaram ter tido algo a ver com os grampos no caso que tem outros seis réus.
Edis disse que os dois amantes não estão sendo julgados moralmente. "Brooks e Coulson estão sendo julgados por conspiração e, quando a pessoa é acusada de conspiração, a primeira pergunta que se tem de responder é ;o quão bem se conheciam?; e ;o quanto confiavam no outro?;", explicou.
Segundo carta apresentada pelo promotor, Brooks escreveu para Coulson: "você é meu melhor amigo, explico tudo para você, confio em você".
O promotor destacou que foi Rebekah que criou a equipe de investigação do tabloide, posteriormente incumbida dos grampos telefônicos. Essa unidade recorreu ao investigador independente Glenn Mulcaire, que admitiu os crimes de grampos ilegais dos quais ele é acusado, disse o promotor.
A procuradoria argumenta que Rebekah, Coulson e o então diretor-executivo Stuart Kuttner "tiveram de saber" sobre a espionagem a celebridades como a modelo Kate Moss, ou os atores Sienna Miller e Jude Law, porque controlavam o orçamento.
Mulcaire, que recebeu 100 mil libras (cerca de US$ 160 mil) por ano do jornal, a partir de 2001, admitiu recentemente que interceptou o telefone da jovem Milly Dowler, quando estava desaparecida.
Em meio às inúmeras escutas feitas pelo jornal, o caso de Dowler, que acabou sendo encontrada morta, foi o que causou mais indignação entre os britânicos. A crise levou Murdoch a fechar as portas do "News of the World" em julho de 2011, apesar das vendas milionárias.
"A questão é: houve alguém que se perguntasse alguma vez ;para quê estamos pagando esse cara;?", disse Edis ao júri, referindo-se a Mulcaire. "E o que ele estava fazendo? Bom, sabemos que era um ;hacker; telefônico e que era dos bons", concluiu o promotor.
Depois de dois anos de investigações, o julgamento começou na segunda-feira. A polícia já prendeu cerca de 100 pessoas. O veredicto do caso deve sair em até seis meses. Entre os oito acusados, estão sete ex-diretores e funcionários do "News of the World", três deles próximos de Cameron.