Agência France-Presse
postado em 01/11/2013 11:17
Cairo - O Egito levará o ex-presidente Mohamed Morsy a julgamento na próxima segunda-feira (4/11), quatro meses depois de sua queda, que levou o país a viver uma série de manifestações violentas. Esta será a primeira vez que Morsy aparecerá em público desde que foi derrubado em julho passado. Seus partidários, na prisão ou dizimados pela implacável repressão das autoridades instaladas no poder em 3 de julho pelo Exército egípcio, prometeram se fazer ouvir quando o primeiro chefe de Estado democraticamente eleito no Egito aparecer no tribunal.[SAIBAMAIS]Ante a convocação para a mobilização, um oficial da polícia garantiu que foi colocado em andamento um plano para garantir a segurança do tribunal e o transporte de Morsy até a sala de audiência, onde ele responderá, junto a outros 14 coacusados, por "incitação ao assassinato" de manifestantes ante o palácio presidencial em 5 de dezembro de 2012. Este julgamento ameaça agravar as divisões em um país onde milhares de partidários de Morsy morreram na repressão e onde mais de 2.000 islamitas foram presos, entre eles quase toda a direção da Irmandade Muçulmana, a confraria à qual Morsy pertence. O julgamento de Morsy acontecerá na academia de polícia adjacente à prisão de Tora, no Cairo, na qual estão detidos os principais dirigentes da confraria.
Morsy se encontra detido em um local secreto desde que, em 8 de julho, os confrontos entre partidários e soldados deixaram 50 mortos diante do local onde se encontrava preso inicialmente, desencadeado uma escalada da violência nas semanas posteriores. A polícia prevê mobilizar 20 mil homens em todo o Cairo, segundo os serviços de segurança. Ao contrário de seu antecessor, Hosni Mubarak, Morsy já advertiu que não cooperará com a justiça, pois não reconhece sua autoridade, segundo a Aliança contra o Golpe de Estado. A justiça egípcia, que se opôs a Morsy em várias ocasiões durante sua presidência, parece determinada a seguir adiante com o julgamento e ignorar todo tipo de pressão política. Morsy e os outros acusados enfrentam a pena de morte ou a prisão perpétua por fatos que marcaram uma importante mudança em sua presidência.
Depois de seis meses no poder, Morsy estabeleceu por decreto ficar acima de todo controle judicial, o que motivou as manifestações contra ele. A Irmandade Muçulmana pediu a seus partidários que desalojassem os manifestantes, provocando cenas de violência que reforçaram a oposição que, seis meses mais tarde, saiu às ruas para reclamar a renúncia de Morsy, o que conseguiu com a ajuda dos militares. Um antigo assessor de Morsiy, Wael Hadara, afirmou que o governo nomeado pelo Exército realizará um simulacro de julgamento. "O mundo verá por fim a verdade: um tribunal de marionetes", afirmou. Também previu que, quando Morsy aparecer na cadeira dos acusados, "esta imagem despertará as multidões no Egito".