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Secretário dos EUA defende solidez das relações com a Arábia Saudita

Kerry insistiu que Washington não ficará de braços cruzados em relação à Síria

Agência France-Presse
postado em 04/11/2013 17:37
Secretário de Estado John Kerry EUA participa de uma conferência de imprensa conjunta com o ministro das Relações Exteriores da Arábia Saudita, o príncipe Saud Al-Faisal bin Abdulaziz al-Saud
Riade -
O secretário de Estado americano, John Kerry, afirmou nesta segunda-feira (4/11), em Riad, que as relações entre os Estados Unidos e seus aliados sauditas permanecem sólidas, apesar das divergências relativas à Síria, que ele aparentemente não conseguiu minimizar.

Enviado com urgência a Riad para apaziguar as tensões entre os dois países, Kerry afirmou, durante uma coletiva de imprensa ao lado de seu colega saudita, o príncipe Saud al-Faysal, que não há divergências em torno da crise síria.

Mas o príncipe Saud, cujo país apoia sem reservas a oposição armada ao regime do presidente sírio, Bashar al-Assad, declarou que as negociações em torno do tema "não podem ser mantidas indefinidamente e que é preciso por fim às tragédias".

Kerry insistiu que Washington não ficará de braços cruzados em relação à Síria. "Não há divergências entre Riad e Washington sobre a crise síria, insistiu o chefe da diplomacia americana, que foi recebido pela primeira vez em Riad pelo rei Abdallah.

"Washington não ficará de braços cruzados enquanto Assad continuar usando armas contra seu próprio povo", destacou, assegurando, no entanto, que os Estados Unidos se opõem a uma intervenção militar.

"A não ser por uma solução negociada, não vemos muitos meios para pôr fim à violência (...) porque não dispomos da autoridade legal, da justificativa ou do desejo neste momento para nos envolvermos em uma guerra civil", ressaltou. danIEL

"O reino da Arábia Saudita sabe perfeitamente a importância das negociações para resolver as crise, mas consideramos que não podem prosseguir indefinidamente", respondeu o chanceler saudita, destacando que "as relações entre amigos repousam na franqueza e que as divergências são normais".

Kerry se esforçou ao máximo na tentativa de dissipar as tensões entre os Estados Unidos e a Arábia Saudita. "Neste momento devemos falar de temas muito importantes para garantir que a relação entre Arábia Saudita e Estados Unidos siga pelo bom caminho, avançando e fazendo as coisas que devemos fazer", afirmou ante os funcionários da embaixada de Riad.

Kerry ressaltou que os sauditas, que mantêm estreitas relações com os Estados Unidos desde os anos 1930, "são os principais atores no mundo árabe".

A Arábia Saudita critica os Estados Unidos por sua falta de ação diante da tragédia síria, e não escondeu seu descontentamento depois que o presidente Barack Obama desistiu em setembro de lançar uma ofensiva militar contra o regime de Assad.

[SAIBAMAIS]As autoridades sauditas também temem uma aproximação entre Estados Unidos e o Irã, que, segundo acreditam, prejudicaria as monarquias árabes do Golfo, após a eleição do moderado Hassan Rohani à Presidência iraniana.



O secretário de Estado americano agradeceu particularmente ao soberano de 90 anos por conceder a ele uma audiência. "Sei que atualmente não recebe muita gente", afirmou Kerry.

Este é o primeiro encontro entre o rei saudita e John Kerry desde que assumiu suas funções como secretário de Estado.

;Táticas; diferentes

Já no domingo no Cairo, primeira etapa de seu giro regional, John Kerry assegurou que os Estados Unidos não virariam as costas para seus aliados em uma região desestabilizada pela Primavera Árabe.

"Estamos ao lado da Arábia Saudita, dos Emirados [Árabes Unidos], dos catarianos, jordanianos, egípcios e dos demais aliados. Não permitiremos que esses países sejam atacados do exterior. Estaremos do seu lado", afirmou.

Ele admitiu que os Estados Unidos têm "táticas" diferentes com seus aliados em relação à Síria, mas que buscam um único objetivo final: um governo de transição sem o presidente Bashar al-Assad.

"Compartilhamos todos o mesmo objetivo (...), que é salvar o Estado sírio e instaurar um governo de transição (...) que possa dar ao povo da Síria uma oportunidade de escolher seu futuro".

Washington, Moscou e ONU tentam com grandes dificuldades reunir em Genebra uma conferência internacional com a participação do regime e da oposição, a fim de encontrar uma solução política para o conflito que já deixou, segundo uma ONG, mais de 120.000 mortos desde março de 2011.

A oposição, muito dividida em relação a sua participação, exige garantias sobre a saída de Assad do poder, o que ele rejeita.

A Arábia Saudita também observa com cautela a aproximação entre Washington e Irã, aliado do regime sírio, e a possível participação iraniana em Genebra -2 .

"Nós concordamos plenamente com os sauditas sobre as suas preocupações", declarou um membro do Departamento de Estado. "Está fora de questão para nós amolecer a nossa posição sobre o que os iranianos têm feito para apoiar grupos terroristas em toda a região".

Para expressar seu descontentamento, Riad anunciou em 18 de outubro sua rejeição em assumir seu assento de membro não-permanente no Conselho de Segurança da ONU, um ato sem precedentes para protestar contra a falta de ação dessa instituição.

Mas, para os analistas, as relações entre os dois países não deve chegar a um ponto de ruptura. "Apesar do clamor da Arábia Saudita, a base das relações entre os Estados Unidos e a Arábia Saudita - a coordenação em matéria de inteligência e contenção militar do Irã - é sólida", escreveu Frederic Wehrey, analista do centro Carnegie Endowment for International Peace.

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