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Liderança palestina pressionada após revelações sobre a morte de Arafat

Uma coletiva de imprensa convocada pela comissão de inquérito sobre a morte do líder histórico palestino está programada para sexta-feira

Agência France-Presse
postado em 07/11/2013 13:39
Ramallah - A liderança palestina estava sendo pressionada nesta quinta-feira (7/11) a acionar a justiça internacional pela morte de Yasser Arafat, após a publicação de um relatório médico corroborando em parte a teoria de envenenamento do líder histórico palestino, um caminho repleto de obstáculos políticos e jurídicos. Segundo os especialistas suíços responsáveis pela análise de amostras do cadáver de Arafat, "não podemos dizer que o polônio causou a morte, mas também não podemos excluir essa possibilidade", declarou nesta quinta o professor François Bochud, diretor do Instituto de Radiofísica Aplicada.

[SAIBAMAIS]Além disso, a grande quantidade de polônio encontrada, "supõe obrigatoriamente a intervenção de uma outra pessoa", de acordo com Bochud. "Da mesma maneira que uma comissão internacional de inquérito foi formada sobre o assassinato (do ex- primeiro-ministro libanês) Rafiq Hariri, deve haver uma comissão internacional para investigar o assassinato do presidente Arafat", declarou à AFP Wassel Abu Yousef, membro do comitê executivo da Organização para a Libertação da Palestina (OLP). "Os resultados demonstraram que Arafat foi envenenado com polônio, uma substância que apenas os Estados, e não os indivíduos, possuem, o que significa que o crime foi cometido por um Estado", disse.



Uma coletiva de imprensa convocada pela comissão de inquérito sobre a morte do líder histórico palestino está programada para sexta-feira às 10h00 (06h00 no horário de Brasília) em Ramallah (Cisjordânia). As causas da morte de Arafat em 11 de novembro de 2004, em um hospital militar francês, nunca foram elucidadas, e muitos palestinos acusam Israel, que sempre negou o envenenamento. "Ariel Sharon deu a ordem de fazer todo o possível para evitar que Arafat morresse pelas mãos de nossos soldados", quando o líder palestino estava cercado pelo exército israelense em Ramallah na sede da presidência palestina, explicou o ex-conselheiro israelense Raanan Gissin. "Também por esta razão, Sharon autorizou a evacuação de Arafat a um hospital da França, quando foi constatado que estava moribundo", acrescentou o ex-conselheiro.

Mas, para os palestinos, o relatório médico suíço divulgado quarta-feira pela rede Al-Jazeera, indicando que "os resultados das análises sustentam moderadamente a hipótese de que a morte foi causada por um envenenamento com polônio-210", só confirma uma certeza do envolvimento de Israel. "O propósito de Israel ao assassinar Arafat era agitar a arena palestina e fazer emergir uma liderança palestina mais conciliatória, para chegar a um acordo com Israel", considera o analista político Abdelmajid Souilem, referindo-se ao atual presidente Mahmoud Abbas. E a publicação desses resultados "podem afetar as atuais negociações políticas" entre israelenses e palestinos, de acordo com o analista Hani al-Masri, que recorda o compromisso assumido por Abbas de suspender qualquer recurso à organizações internacionais durante os nove meses de negociações de paz.

Cerca de sessenta amostras foram retiradas em 27 de novembro de 2012 do túmulo do histórico líder palestino em Ramallah, na Cisjordânia, e distribuídas para análise entre três equipes de cientistas suíços, franceses e russos. Durante este processo, o presidente da comissão de inquérito palestina, Tawfiq Tiraoui, anunciou que, se os resultados confirmassem a teoria de envenenamento, os líderes palestinos iriam recorrer ao Tribunal Penal Internacional (TPI). Este recurso pode não acontecer imediatamente, já que a liderança se comprometeu a não fazê-lo. "Minha filha e eu iremos a todos os tribunais em todo o mundo para punir aqueles que cometeram este crime", declarou à Al-Jazeera, a viúva do líder palestino, Suha Arafat, que entrou com uma ação em 2012 na França, provocando a investigação sobre o assassinato.

O Hamas, no poder em Gaza, pediu o fim de negociações de paz com Israel após a divulgação "de evidências do assassinato de Arafat". "Nós medimos atividades de polônio-210 nos ossos e tecidos até 20 vezes superiores às referências da literatura" médica, escreveram os dez médicos e técnicos, em sua maioria do Instituto de Radiofísica de Lausane. "O fato de que elas não são homogêneas é compatível com uma absorção de polônio-210 durante o início da aparição dos sintomas (outubro de 2004)", observam, citando o caso de Alexander Litvinenko, um ex-membro da serviços secretos russos no exílio em Londres, assassinado em 2006 com esta substância.

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