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Chefes da Inteligência britânica negam espionagem e denunciam Snowden

O caso Snowden, no qual as revelações alimentaram inúmeras reportagens nos últimos meses, confirmou os laços estreitos que unem desde o pós-guerra as inteligências dos EUA e da Grã-Bretanha

Agência France-Presse
postado em 07/11/2013 16:41
Ex-consultor americano Edward Snowden
Os responsáveis pelas três agências de inteligência britânicas acusaram o ex-consultor americano Edward Snowden de fazer o jogo da Al-Qaeda e negaram a prática de uma espionagem em massa, durante um interrogatório televisionado em Londres, algo sem precedentes.

Durante uma hora e meia, Andrew Parker, diretor do serviço de inteligência interno MI5, seu colega do serviço exterior MI6, John Sawers, e Iain Lobban, responsável pela agência de escutas GCHQ (Government Communications Headquarters, Central de Comunicações do Governo), defenderam seu trabalho, considerado "proporcional" diante das ameaças.

A audiência parlamentar foi transmitida pela televisão, com uma diferença de dois minutos para evitar qualquer revelação intempestiva. "As revelações de Snowden foram muito prejudiciais, elas colocaram nossas operações em perigo", acusou John Sawers. "Nossos adversários e nossos inimigos batem palmas. A Al-Qaeda se deleita", acrescentou.

Ao seu lado, Iain Lobban explicou que seus serviços captavam "conversas quase diárias" de "grupos terroristas no Oriente Médio, no Afeganistão e em outros países", referindo-se às revelações de Edward Snowden sobre a amplitude da espionagem realizada pelos Estados Unidos e pela Grã-Bretanha.

Esses grupos discutem formas de abandonar os meios de comunicação, "que eles consideram hoje vulneráveis", acrescentou.

Já o chefe do GCHQ negou a existência de um programa de espionagem em massa da população britânica.

"Nós não passamos o nosso tempo escutando as ligações telefônicas ou lendo e-mails da maioria (da população), da vasta maioria. Isso seria desproporcional, não seria legal, e nós não fazemos", assegurou Iain Lobban.

Andrew Parker também rejeitou a ideia segundo a qual a ação dos serviços de inteligência "comprometem de uma maneira ou de outra a liberdade e a democracia". "Evidentemente, achamos o contrário", afirmou.

"O trabalho que nós realizamos é proporcional, do ponto de vista da necessidade de proteger (a população) frente às ameaças", acrescentou, considerando "proporcional" o orçamento anual de seu serviço, de 2 bilhões de libras (2,4 bilhões de euros).

O orçamento das três agências representa 6% do da Defesa britânica, indicou.

Ele considerou que "uma tendência a ser considerada" é a do "terrorismo turístico", referindo-se aos britânicos que vão ao exterior para receber treinamento terrorista antes de retornar para preparar ataques.

Segundo Lobban, "centenas" de habitantes da Grã-Bretanha foram à Síria para participar dos combates.

Ele também lembrou que "34 complôs terroristas" foram desbaratados desde os ataques de 7 de julho de 2005 em Londres. O chefe do MI6 negou veementemente o uso da tortura por parte de agentes britânicos.

"Nós agimos estritamente no quadro da lei", insistiu John Sawers. "Não participamos, não encorajamos ou toleramos abusos ou tortura, este é um princípio absoluto", afirmou. Os agentes não operam sozinhos "à maneira de James Bond", comentou.



Ele identificou a "Al-Qaeda e suas diversas ramificações" como a maior ameaça à segurança do Reino Unido.

O caso Snowden, no qual as revelações alimentaram inúmeras reportagens nos últimos meses, confirmou os laços estreitos que unem desde o pós-guerra as inteligências dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, sua principal aliada, mas também as de Austrália, Canadá e Nova Zelândia.

Segundo revelações do ex-consultor da Agência de Segurança Nacional (NSA, siglas em inglês) americana, o GCHQ é parcialmente financiado pelos Estados Unidos. O financiamento teria chegado a 100 milhões de libras, nos últimos três anos.

Além disso, um extenso programa de espionagem britânico chamado "Tempora", disporia de um orçamento de um bilhão de libras para monitorar as comunicações em todo o mundo.

Esta semana, o jornal The Independent informou que documentos fornecidos por Snowden e fotografias aéreas tinham "sugerido" que o Reino Unido mantinha um sistema secreto de escutas instalado no telhado da embaixada britânica em Berlim.

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