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Oposição síria se reúne para decidir se participa de conferência de paz

Neste sábado, a coalizão da oposição reiterou que não participará de uma eventual conferência de paz até que veja gestos claros por parte do regime de Damasco e de seu aliado russo

Agência France-Presse
postado em 09/11/2013 12:51
Istabul - A oposição síria, mais dividida do que nunca e sob forte pressão internacional, começou neste sábado, em Istambul, uma reunião crucial para decidir sua participação numa possível conferência de paz sobre a Síria em Genebra. A reunião começou no final da manhã num hotel da cidade turca e deve se estender pelo menos até a noite de domingo.

Neste sábado, a coalizão da oposição reiterou que não participará de uma eventual conferência de paz até que veja gestos claros por parte do regime de Damasco e de seu aliado russo.

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[SAIBAMAIS]"Sempre dissemos que somos totalmente a favor (do processo) de Genebra, mas tememos que, se formos ao encontro, o regime (do presidente Bashar al-Assad) não seja respeitoso com sua aplicação", declarou à imprensa o porta-voz da coalizão, Khaled Saleh.

"Todos sabem que o regime Assad vai tentar novamente ganhar tempo (...) e matar mais civis sírios", acrescentou Saleh.

"Queremos ir a Genebra, mas todos têm que ser sérios, não apenas o regime Assad, também seus aliados russos. Queremos que os russos exerçam uma forte pressão" sobre Damasco, acrescentou, lembrando que conseguiram fazer o regime sírio aceitar o desmantelamento de suas armas químicas. Nesta semana, o emissário especial da ONU e da Liga Árabe resumiu em duas frases a situação.

"É preciso que existam duas delegações para a Síria em Genebra 2, o governo e a oposição", insistiu Lakhdar Brahimi na última terça-feira. Mas "a oposição está dividida e não está preparada", lamentou. Segundo ele, "a oposição é um dos problemas".

A coalizão se mostra reticente em se sentar à mesa de negociações com os representantes do governo sírio, em uma tentativa de ganhar credibilidade ante os grupos rebeldes que lutam contra as tropas sírias e para agradar os países "amigos" que a apoiam.

Ahmat Jarba, presidente da coalizão, impôs condições rígidas, exigindo, sobretudo, que a reunião culmine na renúncia de Bashar al-Assad, alternativa descartada de forma categórica por Damasco.

A participação da principal vitrine política dos opositores ao regime sírio parece pouco provável. Mas alguns de seus membros, pressionados por seus aliados ocidentais, parecem dispostos a dar o primeiro passo.

Qadri Jamil, ex-vice-premier sírio, destituído recentemente de suas funções, já anunciou que viajará a Genebra. Os curdos da Síria também. De acordo com o ministro adjunto das Relações Exteriores russo, Mikhail Bogdanov, outros opositores também estariam dispostos a participar do encontro na Suíça.

Debate tenso - Em reação, o principal componente da coalizão, o Conselho Nacional Sírio (CNS), descartou completamente sua participação, e ameaçou deixar a coalizão caso alguns de seus membros participem do encontro em Genebra.

Além disso, cerca de vinte grupos rebeldes influentes ameaçaram julgar como "traidores" quem estiver tentado a negociar, dando a entender que seriam mortos.

Os 11 países ocidentais e árabes que apoiam os opositores ao regime de Damasco pressionam para que eles participem das negociações em Genebra, já que esta seria a única alternativa à guerra.

No final de outubro estes países insistiram que Assad não deve desempenhar "nenhum papel no futuro governo" do país.

"O contexto é muito difícil para a oposição", reconheceu um diplomata ocidental. "O exército de Assad tem tido vitórias, a situação da população das cidades sitiadas é muito precária e os principais grupos rebeldes rejeitaram sua autoridade", afirmou à AFP.

"Nós caminhamos para uma não participação na conferência", declarou, antes da reunião, Samir Nashar, membro da coalizão.

Enquanto isso, na Síria, rebeldes e jihadistas recuperaram posições perdidas pelo avanço do exército sírio na "Base 80", próxima ao aeroporto de Aleppo (norte), informou neste sábado a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

Pelo menos 53 pessoas morreram nos combates entre o exército, apoiado pelo Hezbollah xiita libanês, e os insurgentes, formados pelos rebeldes, por jihadistas iraquianos e pela Frente Al-Nusra, informou o OSDH.

A guerra na Síria já matou mais de 120.000 pessoas, de acordo com o OSDH, e criou milhões de refugiados e deslocados, segundo a ONU.

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