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ONU teme que haja mais de 10 mil mortos após passagem de tufão

John Ging, responsável por ajuda humanitária da ONU, disse que 660.000 pessoas tiveram que deixar suas casas por causa do Haiyan

Agência France-Presse
postado em 11/11/2013 16:30
Destruição após o super tufão que pode ter matado mais de 10.000 pessoas
Nações Unidas -

NAÇÕES UNIDAS, 11 novembro 2013 (AFP) - As Nações Unidas alertaram nesta segunda-feira para uma rápida escalada no número de mortos causados nas Filipinas na passagem do supertufão Haiyan, com uma estimativa de 10.000 vítimas fatais apenas na cidade de Tacloban, a mais castigada pelo fenômeno.


Segundo o diretor de operações humanitárias da ONU, John Ging, a organização está "esperando pelo pior" na contagem final de mortos. Ging disse também que 660.000 pessoas deixaram suas casas por causa do Haiyan. Segundo ele, a ONU solicitará na terça-feira uma ajuda internacional significativa para as vítimas.


A secretária-geral adjunta para Assuntos Humanitários da ONU, Valerie Amos, que está a caminho das Filipinas, indicou em um comunicado que "autoridades locais calculam que cerca de 10 mil pessoas morreram em uma única cidade". Sua porta-voz confirmou que ela se referia a Tacloban, devastada pela tempestade.


Amos era aguardada em Manila, capital das Filipinas, para conduzir uma operação de socorro conjunta entre as Nações Unidas e grupos particulares. "Muitos lugares estão cobertos de cadáveres", disse Ging durante uma coletiva na sede da ONU, confirmando estimativas de que "mais de 10 mil pessoas morreram", sem conseguir dar uma avaliação da cifra total de mortos na tragédia.

"Certamente estamos esperando pelo pior. À medida que avançamos, constatamos a tragédia, com mais e mais pessoas mortas por esse tufão", acrescentou, quando consultado sobre o número final de mortos.


Ele disse ainda que há uma necessidade desesperada de água potável e comida para os sobreviventes. As Nações Unidas já liberaram US$ 25 milhões de seu fundo emergencial de ajuda e Amos e o governo filipino lançarão na terça-feira um apelo relâmpago por contribuições que, segundo autoridades da ONU, provavelmente chegarão a centenas de milhões de dólares.

"A escala da devastação é enorme e, portanto, exigirá a mobilização de uma resposta maciça", disse Ging.


A assistência pode não chegar rápido o suficiente para Joan Lumbre-Wilson, de 54 anos, que estava em meio à enorme multidão reunida em volta de um dos poucos centros de assistência nas ruínas da cidade de Tacloban. "Queremos uma brigada organizada e coordenada para coletar os corpos, levar comida e conter os saques", afirmou. "Passaram-se quatro dias. Queremos água e comida. Queremos que alguém ajude. Estamos emocionalmente esgotados e fisicamente exaustos. Há muitos bebês e crianças que precisam de atenção", prosseguiu.


O presidente filipino, Benigno Aquino, declarou na noite de segunda-feira estado de calamidade nacional, o que permite ao governo impor controles nos preços e liberar rapidamente fundos de emergência, enquanto o desespero era crescente na região central das Filipinas, onde um número incontável de corpos jazia em meio às ruínas.


"Nos próximos dias, tenham certeza: a ajuda chegará a vocês cada vez mais rápido", disse o presidente em discurso transmitido pela TV. "O apelo que faço a vocês é: manter a calma, rezar, cooperar e ajudar uns aos outros são as coisas que nos ajudarão a nos erguer desta calamidade", continuou. Na sede da ONU, John Ging considerou "muito impressionante" a resposta do governo filipino à tragédia e falou da luta para chegar a Tacloban e a outras áreas seriamente afetadas pelo supertufão, que provocou enormes ondas e os mais fortes ventos registrados no último século nas Filipinas.


Ele contou que veículos de assistência levaram três horas para percorrer os 11 quilômetros que separam o aeroporto de Tacloban da cidade. "Assim que conseguirem chegar a estas áreas, a prioridade absoluta das equipes de socorro é organizar o sepultamento dos corpos por questões de saúde pública", disse. Autoridades filipinas estavam assoberbadas em seus esforços de rapidamente levar ajuda em meio a um cenário de destruição em aeroportos, estradas, pontes e outras infraestruturas.


Muitas áreas permanecem inacessíveis a qualquer esforço de assistência, deixando corpos apodrecendo expostos à atmosfera úmida e aos sobreviventes poucas chances que não revirar os destroços em busca de comida, água e outros itens de primeira necessidade.


Até mesmo em Tacloban, base das operações de assistência em Leyte, os cadáveres continuavam espalhados nas ruas e o cheiro de carne podre pesava no ar. Marines americanos se uniram ao esforço frenético para encontrar e ajudar os sobreviventes famintos, mobilizando-se para uma região onde cidades inteiras foram ao chão e comunidades estão sem comida, água e remédios.


A escala da catástrofe continua a aumentar, à medida que se tem notícias de áreas remotas, como as fotos aéreas da ilha de Samar, onde Haiyan tocou a terra primeiro, mostrando bairros inteiros em cidades costeiras reduzidos a pilhas de pedaços de madeira. Ao tocar a terra em Samar, Haiyan tinha ventos firmes de 315 quilômetros por hora, que fizeram dele o tufão mais forte do mundo este ano e um dos mais potentes já registrados, gerando ondas de até cinco metros de altura que invadiram o território filipino como um tsunami. As paredes d;água destruíram tudo que encontraram pelo caminho, ao longo de enormes extensões da costa em toda a faixa central do arquipélago.


Marines chocados com a devastação


Nesta segunda-feira, os Estados Unidos enviaram um reforço de 90 militares às Filipinas para avaliar as necessidades para os trabalhos de emergência, ao mesmo tempo em que desbloquearam US$ 20 milhões de ajuda humanitária, segundo as autoridades. Quatro aeronaves híbridas MV-22 Osprey, capazes de decolar como um helicóptero e chegar a áreas difíceis, e quatro aviões de transporte KC-130 Hércules saíram da base dos Marines em Futenma, na ilha de Okinawa (Japão), com destino às regiões afetadas, informou o corpo de Marines.


Este contingente se somou às dezenas de Marines enviados a Tacloban a bordo de dois aviões de transporte militar C-130, carregados com provisões. Eles se disseram chocados com o cenário que viram. "As estradas estavam intransitáveis, árvores caídas, postes também, não há eletricidade. Não sei como descrever esta destruição", disse a jornalistas o general Paul Kennedy, comandante geral da Terceira Brigada Expedicionária dos Marines, sediada em Okinawa.


As tropas americanas eram o sinal mais visível de um esforço de assistência internacional que acaba de começar e poderá levar anos, com agências de ajuda comparando a escala da destruição ao terremoto no Haiti, que em 2010 matou dezenas de milhares de pessoas. "O nível de destruição é absolutamente inacreditável", disse Antonio Guterres, diretor da agência de refugiados das Nações Unidas, que costuma trabalhar exclusivamente em áreas de conflito, mas que estava organizando um transporte aéreo devido à "natureza excepcional" da tragédia.


Muitos governos estrangeiros prometeram ajuda e a Austrália já doou cerca de US$ 10 milhões.

Para piorar a situação, uma grande tempestade no Pacífico ameaçava provocar fortes chuvas em Leyte e outras áreas devastadas. A chuva deve atingir a parte sul da ilha de Mindanao na noite desta terça-feira e depois se dirigir para as ilhas centrais de Bohol, Cebu, Negros e Panay, todas castigadas pelo tufão, afirmou à AFP a meteorologista Connie Dadivas.


Forças de segurança são mobilizadas para conter saqueadores


Enquanto isso, centenas de policiais e soldados filipinos eram mobilizados para conter os saques em Tacloban e arredores, depois que uma multidão pilhou um comboio de ajuda da Cruz Vermelha no domingo e gangues perambulavam pelas ruas furtando bens, como aparelhos de TV.

"Nós enviamos forças substanciais para lá e se precisarmos enviar mais, não serão apenas policiais, mas até as forças armadas", declarou à ABS-CBN o porta-voz do departamento de defesa Reynaldo Balido.


Culpando o aquecimento global pela ferocidade do tufão, Naderev Sano, negociador filipino nas negociações climáticas de Varsóvia prometeu fazer greve de fome até que algum avanço seja feito para enfrentar a crise ambiental.

Haiyan passou pelo sul do Mar da China no sábado e perdeu força significativamente ao atingir o Vietnã nesta segunda-feira, embora ainda forte o suficiente para arrancar árvores pela raiz e destelhar centenas de casas, matando ao menos cinco pessoas na China.

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