"Há muitos argentinos que precisam do Estado. (...) Sabemos que os interesses corporativos que pretendem é defender seus próprios interesses e o Estado tem que ter capacidade regulatória", justificou o chefe de Gabinete, Jorge Capitanich, que fez o juramento na quarta-feira de seu cargo junto ao novo ministro de Economia, Axel Kicillof.
O governo derrubou qualquer especulação acerca de mudanças em sua política como resultado da derrota nas legislativas de 27 de outubro, onde o governismo perdeu nos principais distritos, apesar de conservar a maioria no Congresso.
Kirchner tinha antecipado na quarta-feira o "aprofundamento do modelo econômico" com base na ideia do "desenvolvimento de uma indústria nacional".
"O kirchnerismo redobra a aposta como é sua característica apesar de o ;vamos por todos; agora ter se tornado ;vamos por mais; (slogan de campanha do governo). Kicillof concentra a gestão econômica e Capitanich, a política, buscando se tornar conhecido no cargo para ser presidenciável", disse à AFP o analista político Rosendo Fraga, diretor do centro de estudos União para a Nova Maioria.
Capitanich disse em coletiva de imprensa que o governo continuará intervindo no mercado de divisas por meio de uma "flutuação administrada da taxa de câmbio".
[SAIBAMAIS]"Do ponto de vista da administração de reservas, temos que protegê-las", acrescentou.
As reservas do Banco Central estão à beira de cair abaixo do piso de 32 bilhões de dólares, longe do recorde de 52 bilhões de dólares em 2010, pelos esforços para sustentar a taxa de câmbio oficial de cerca de 6 pesos por dólar.
As restrições para a compra de dólares fizeram florescer um mercado paralelo de câmbio onde o dólar é cotado a quase a 10 pesos.
Kicillof afirmou à imprensa que "apesar da queda nas reservas, há um nível consistente" e rejeitou a criação de taxas de câmbio que coexistam, ao garantir que "há outros instrumentos" para frear a drenagem de divisas.
"Aquele que olha para a taxa de câmbio como única variável, se equivoca. Temos um plano (econômico) integral", disse.
Kicillof destacou que o governo se propõe a "conseguir que haja mais dólares, gerar mais oferta", apesar de não especificar como fará. "Não vamos fazer nada que gere bruscas mudanças na economia", afirmou.
O ministro prometeu "trabalhar na consistência dos preços dos serviços, sem gerar problemas para o bolso do consumidor e fomentar a indústria nacional".
"Necessitamos de bom poder aquisitivo, que as pessoas continuem consumindo, com um mercado interno sólido e produção que responda a esse mercado interno", disse.
Capitanich tinha afirmado mais cedo que o governo buscará acordos de preços com setores produtivos "garantindo as condições de rentabilidade dos empresários".
Segundo explicou, o objetivo é cumprir as metas do Orçamento 2014, que busca "um crescimento superior a 6% e uma balança comercial (com superávit) de não menos de 10 bilhões de dólares".
O país registrou uma inflação em 12 meses em outubro de 10,5%, apesar de o indicador oficial ser muito questionado e consultorias privadas, cujos dados são divulgados por parlamentares opositores, apontam 27%, a segundo mais alta da região atrás da Venezuela.
O chefe de ministros considerou em vias de normalização o questionado sistema de estatísticas do país, questionado pelo Fundo Monetário Internacional, que assessora Buenos Aires para desenvolver novas metodologias. "É uma questão que está em processo de desenvolvimento final, vai ser publicado no primeiro trimestre do ano próximo, é uma objeção que pertence ao passado", afirmou.
Na secretaria de Comércio, no lugar do polêmico Guillermo Moreno, a imprensa aponta que pode ser nomeado Augusto Costa, atual secretário das Relações Econômicas Internacionais da chancelaria e um jovem integrante do kirchnerismo vinculado a Kicillof.
"Não há nada oficial ainda sobre essa nomeação", afirmou à AFP uma fonte do Ministério da Economia.